O jornalista Leonardo Ferreira, natural do Rio de Janeiro (RJ), é formado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, pós-graduado em Gestão Comercial & Marketing Digital, pós-graduado em Transtorno do Espectro Autista: Inclusão Escolar & Social, além de membro do Templo Beth-El of Jersey City (www.betheljc.org). O templo foi fundado no estado de New Jersey (EUA), em 1864.
13 de setembro de 2008
Folclore: O Judeu Errante?!!
Durante a Quinta-Feira Maior e a Sexta-Feira da Paixão, o Judeu Errante aparece onde a morte de Jesus Cristo está sendo comemorada. É um velho alto e magro, muito barbado, cabelo comprido e com um manto escuro. É uma figura mais literária que popular, e as menções vão desaparecendo nas estórias orais. Não lhe dão, no Brasil, outro nome além de "Judeu Errante". Era sapateiro em Jerusalém, chamado Ahasverus, quando Nosso Senhor, com a cruz aos ombros, passou diante de sua tenda. O sapateiro deixou o trabalho para empurrar o Salvador, gritando: "Vai andando! Vai logo!" Nosso Senhor respondeu: "Eu vou e tu ficarás até a minha volta!" E o homem ficou, até hoje, andando pelo mundo, liberto da lei da morte, sem pressa e sem descanso. Espera o regresso do Senhor, que lhe deu a imortal penitência. A tradição nos veio de Portugal.
A lenda apareceu em Constantinopla, no século IV, e apareceu na Europa em 1228, quando um arcebispo da Grande Armênia, visitando a Inglaterra, disse no convento de Saint'Albans conhecer no seu país uma testemunha da paixão de Cristo, o judeu Cartaphilus, porque esmurrara o Salvador, quando esse era arrastado diante dele, e fora condenado a esperar sua volta. A notícia apareceu em 1259, Cartaphilus convertera-se, sendo batizado por Ananias, que também batizara São Paulo.
A estória do monge Paris foi incluída no Flores Historiarum no seu colega Rogésio de Wendower, em 1237, nove anos depois, espalhando-se nos claustros e escolas, depois, pelos sermonários, até o povo que lhe deu as cores de sua compreensão. Outro documento reforçador foi publicado em 1602, uma carta de Chrysostomus Dudulaeus, datada de 29 de junho de 1547, com o testemunho de Paul d"Eitzen, estudante de Wittemberg e discípulo de Melanchton, dizendo ter visto o Judeu Errante, de nome Ahasverus, depois tão citado nos poemas, romances e peças de teatro. Ahasverus não é porteiro de Pilatos, mas sapateiro, empurrando e sendo condenado por ele. Há outra versão ainda, corrente na Itália, onde o chamavam de João Buttadeo, bete-em-Deus, e que passou a ser João Vota-a-Dios. Votadeus, João Espera em Deus, esse último popular em Portugal e Espanha e de fácil encontro nos autos velhos e nos poetas como Antônio Prestes, Rodrigues Lobo, Jorge Ferreira, etc. A bibliografia sobre o Judeu Errante é imensa e seu aproveitamento literário foi, no século XIX, uma verdadeira moda cultural. Estudaram-no, em Portugal. Carolina Michaëlis de Vasconcelos ("O Judeu Errante em Portugal", Revista Lusitana, I, I), Teófilo Braga (As Lendas Cristão, Porto, 1892, 232) e no Brasil, João Ribeiro (O Folclore, XLII, Rio de Janeiro, 1919). Em Flandres o Judeu Errante é Jacques ou Isaac Laquedem, e na França possui ele apenas cinco sous, constantemente renovados e inesgotáveis. "Há vários ditos populares que parecem relacionar-se a esta lenda. Assim é o de marca de Judas, que lembra Malcho Judas ou Marco, um dos nomes do judeu em algumas versões. Também a frase popular, usada para designar lugares remotos, onde Judas perdeu as botas, parece indicar a lenda do sapateiro Ahasverus. Ainda em certas cidades, em Ulm e em Berna, guardam-se monstruosos sapatos que a tradição refere ao Judeu Errante" (João Ribeiro, O Folclore, 308).
(CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro).
Título: FAGIN, O JUDEU (Companhia das Letras) - Edição especial
Número de páginas: 128
Data de lançamento: Maio de 2005
Sinopse: Personagem-chave de Charles Dickens, Fagin é um judeu que vive na Inglaterra do século XIX. Nascido pobre, passa por dificuldades a vida toda até se envolver com um jovem chamado Oliver Twist.
Positivo/Negativo: Quem tem direito de corrigir um clássico? Essa pergunta tem sido repetida à exaustão nos Estados Unidos nos últimos vinte e poucos anos. De um lado, defensores de minorias, que conseguiram expurgar do currículo escolar peças de William Shakespeare que continham insinuações racistas. De outro, intelectuais como o crítico literário Harold Bloom, que perguntava que tipo de idiota poderia pensar em proibir jovens de lerem o autor de Romeu e Julieta, Rei Lear e tantas outras.
Em tese, bastaria um professor dizer que preconceito era errado e que tinha sido escrito em uma época com outro contexto, servindo até mesmo para dizer que a humanidade já errou uma vez ao aceitar o preconceito. Os dois lados, claro, não chegaram a um consenso.
E, pouco antes de morrer, um cânone dos quadrinhos resolveu entrar na briga. Will Eisner, criador do Spirit, do termo graphic novel e de algumas das melhores HQs de que se tem notícia, resolveu justificar a sem-vergonhice de um velho personagem de Charles Dickens.
Dickens é um dos grandes romancistas ingleses. Sua obra é grandiosa e encantadora. Oliver Twist, história de um jovem herdeiro que sofre os diabos nas mãos de um judeu ladrão chamado Fagin, é um de seus romances mais conhecidos e amados pelo público. A princípio, dispensa defesa.
O Fagin de Dickens, criado dois séculos antes da onda politicamente correta, é um judeu caricato e estereotipado. Não só ele: naquela época, judeus no mundo inteiro eram tidos como uma desgraça. Pra começo de conversa, tinham mandado matar Jesus Cristo.
Para Eisner, Fagin é um paradigma do preconceito e um fator difusor da sórdida visão que se tinha dos judeus. Refletiria até os dias de hoje. E então o autor de Spirit resolveu, se não consertá-lo, dar-lhe um passado de maus tratos que justificaria os crimes da maturidade.
Na pior das hipóteses, seguindo a linha de Bloom (por sinal, judeu), o enredo de Eisner é uma grandessíssima bobagem. Na melhor, não passa de um exercício de criação tolo, que virou uma bela trama, até porque o autor foi um contador de histórias inigualável. Mas culpar Rebecca Lopez pela desgraceira de Fagin e, de lambujem, de Oliver Twist, já é forçar um tanto a barra.
Fagin é, sim, um personagem que reflete seu tempo. Não apenas socialmente, como produto do contexto londrino, mas também de uma época em que não se tinha problema em ser preconceituoso. Seu retrato tenebroso, compartilhado até mesmo com exemplos que Eisner apresenta em um posfácio, é um símbolo de uma época que se torce para que não volte mais.
Lido deixando de lado apegos a paixões literárias, Fagin, o Judeu, é uma das mais extensas das obras recentes de Eisner. Também é a que mais se aproxima literariamente de um romance - fazendo um paralelo, o velho mestre vinha privilegiando os contos. Tem um desenho soberbo, em que a textura do papel aparece na pintura da impressão. A edição da Companhia das Letras, como sempre, é impecável, bem como a deliciosa tradução de André Conti.
Autor: Will Eisner (texto e arte).
O judeu é mais inteligente?
06/11/2007 - Gilberto Dimenstein - Folha Online
Em entrevista à Folha, o cientista político norte-americano Charles Murray disse que a genética seria uma das explicações para a suposta inteligência superior dos judeus. Será?
Na condição de judeu, não acredito nessa influência genética. Não é só porque, para mim, superioridade genética e barbárie se confundem na história. Mas, como alguém que trabalha com educação, acredito que exista uma cultura específica que ajude na projeção de um povo que, apesar de ter apenas 12 milhões de pessoas, tem 25% dos ganhadores do Prêmio Nobel.
O que existe entre judeus (e não só entre eles) é uma reverência obsessiva pelo conhecimento, que vem de gerações. É o chamado povo do livro. O rabino, a pessoa mais importante da comunidade religiosa, não tem força por ser um intermediário com Deus, mas por ser um intérprete das leis, ou seja, um intelectual. Livros sagrados são feitos de perguntas.
O ritual iniciatório do judeu não é matar um guerreiro ou passar por privações. Mas é ler um livro (a Torá). Ou seja, se quiser virar adulto terá de saber ler em pelo menos uma língua. O analfabetismo sempre foi muito baixo entre os judeus, o que assegurou uma rede de escolas.
A educação não é vista como uma responsabilidade apenas da escola. Mas, em primeiro lugar, da família e, depois, da comunidade. Educa-se em casa, na sinagoga e também na escola. Aprende-se, portanto, todo o tempo e em todos os lugares.
Como o judeu é o povo por mais tempo perseguido da história da humanidade, desenvolveu-se a sensação do desafio permanente. Isso se traduz na idéia de que o estudo é a melhor defesa --e também a coisa mais segura para ser carregada.
Nessa junção dos capitais humano e social, tem-se a receita não do desempenho intelectual de um povo, mas da força divina da educação, replicável por qualquer agrupamento humano.
Em entrevista à Folha, o cientista político norte-americano Charles Murray disse que a genética seria uma das explicações para a suposta inteligência superior dos judeus. Será?
Na condição de judeu, não acredito nessa influência genética. Não é só porque, para mim, superioridade genética e barbárie se confundem na história. Mas, como alguém que trabalha com educação, acredito que exista uma cultura específica que ajude na projeção de um povo que, apesar de ter apenas 12 milhões de pessoas, tem 25% dos ganhadores do Prêmio Nobel.
O que existe entre judeus (e não só entre eles) é uma reverência obsessiva pelo conhecimento, que vem de gerações. É o chamado povo do livro. O rabino, a pessoa mais importante da comunidade religiosa, não tem força por ser um intermediário com Deus, mas por ser um intérprete das leis, ou seja, um intelectual. Livros sagrados são feitos de perguntas.
O ritual iniciatório do judeu não é matar um guerreiro ou passar por privações. Mas é ler um livro (a Torá). Ou seja, se quiser virar adulto terá de saber ler em pelo menos uma língua. O analfabetismo sempre foi muito baixo entre os judeus, o que assegurou uma rede de escolas.
A educação não é vista como uma responsabilidade apenas da escola. Mas, em primeiro lugar, da família e, depois, da comunidade. Educa-se em casa, na sinagoga e também na escola. Aprende-se, portanto, todo o tempo e em todos os lugares.
Como o judeu é o povo por mais tempo perseguido da história da humanidade, desenvolveu-se a sensação do desafio permanente. Isso se traduz na idéia de que o estudo é a melhor defesa --e também a coisa mais segura para ser carregada.
Nessa junção dos capitais humano e social, tem-se a receita não do desempenho intelectual de um povo, mas da força divina da educação, replicável por qualquer agrupamento humano.
FILME: O JUDEU
O filme brasileiro O Judeu conta a saga do artista e sua familia após seu julgamento pelo Tribunal do Santo Ofício, em Lisboa, para onde os infiéis eram levados. Antônio José e o irmão André tornam-se estudantes da prestigiada Universidade de Coimbra, até que, quando o jovem completa 21 anos, novamente sua família é acusada de judaísmo. E, mais uma vez, a mãe, os irmãos e ele próprio enfrentam a prisão e a tortura das autoridades eclesiásticas, sendo porém colocados em liberdade, por falta de provas.
Ficha Técnica
Título Original: O Judeu
Gênero: Drama
Duração: 85 min.
Lançamento (Brasil): 1986/1995
Distribuição: Riofilme
Direção: Jom Tob Azulay
Roteiro: Geraldo Carneiro, Millor Fernandes e Gilvan Pereira
Produção: Tatu Filmes, A&B Produções, animatógrafo Produção de Filmes e Metrofilme Actividades Cinematográficas
Música: Ruy Luis Pereira
Fotografia: Eduardo Serra
Direção de Arte: Adrian Cooper
Figurino: Maria Gonzaga
Edição: Ruy Guerra, José Manuel Lopes, Pedro Ribeiro e Branco Neskow Elenco
Felipe Pinheiro (Antonio José da Silva)
Dina Sfat (Lourença Coutinho)
José Lewgoy (Cardeal D. Nuno da Cunha)
Mário Viegas (D. João V)
Fernanda Torres (Brites Cardoso)
José Neto (D. Marcos)
Edwin Luisi (Alexandre de Gusmão)
Ruy de Carvalho (Padre Pantoja)
Curado Ribeiro (D. Antonio)
Cristina Aché (Leonor de Carvalho)
Fábio Junqueira (Luís Barbuda)
Rogério Paulo (Promotor)
Curiosidades
- Inspirado na história real de Antônio José da Silva, advogado, poeta e o mais celebre autor teatral de Portugal do século XVIII, nascido no Brasil, de origem judaica e convertido ao cristianismo sob pressão da inquisição
- Iniciado em 1987 e concluído somente em 1996.
- Neste período, sete atores faleceram, entre eles Felipe Pinheiro, Dina Sfat, Mário Viegas, Curado Ribeiro e Rogério Paulo.
- Apoio: Ministério da Cultura do Brasil/Embrafilme e Instituto Português de Arte Cinematográfica e Audiovisual/IPACA.