Jerusalém,
28 de fevereiro de 2013
O movimento Conservador Judaico (Masorti) em Israel acusa o
Ministério do Interior de racismo e discriminação contra latinos e afro-americanos
no que diz respeito à aprovação de solicitações de imigração feitas por convertidos
ao Judaísmo. O caso mais famoso, que chamou a atenção e levou o Masorti abordar
diretamente o racismo, é o atraso na aceitação do pedido de imigração de um
grupo de cerca de 300 convertidos naturais da região de Iquitos, Peru,
conhecido como "Judeus da Amazônia".
A lei
israelense permite a imigração e naturalização de qualquer pessoa com pelo
menos um avô judeu ou que se converta oficialmente ao Judaísmo (autorizado por
um tribunal de três rabinos, não especificando a denominação) e pertença pelo
menos 9 meses à uma comunidade judaica.
"O
problema de Iquitos é claramente uma questão de racismo", disse à Efe
Andrew Sacks, diretor da Assembleia Rabínica de Israel, que atribuiu a discriminação
ao fato de que "há muitos burocratas do Ministério do Interior empossados pelo
partido político Shas (ultra-ortodoxo sefardita) que não estão interessados em receber
no país pessoas as quais duvidam". Estas dúvidas, diz ele, surgem quando
os convertidos ao Judaísmo são de países em desenvolvimento ou de um contexto
de poucas oportunidades econômicas, além da etnia dos candidatos.
"Não
é só o caso dos peruanos, que completaram suas conversões em agosto de 2011 e
ainda não puderam imigrar. Há também casos na Argentina, Bolívia e Colômbia. Além
disso, foi detectado o mesmo problema envolvendo afro-americanos", explicou.
Sabin
Hadad, porta-voz do Ministério do Interior, disse à Agência Efe que as
acusações de racismo são "um disparate".
"Quem
diz que há racismo não entende nada. Em Israel há pessoas de todas as
cores", disse Hadad, que frisou, no caso dos judeus de Iquitos, o
(Departamento do ) Interior "não rejeitou a imigração de ninguém,
entretanto, ainda avalia cada detalhe e espera por uma resposta".
No ano
passado, o movimento Masorti alegou ter tido problemas com cerca de 15 casos
envolvendo latino americanos, além dos 284 de Iquitos no Peru. Sacks acredita
que "se eles fossem europeus, tudo seria diferente".
Em sua
opinião, funcionários do Departamento do Interior "são muito cautelosos
com as pessoas de cor e os latinos americanos" porque suspeitam que eles tenham
se convertido ao Judaísmo "para melhorar sua situação econômica e não por
motivos religiosos".
"Se
você é branco e tem uma boa situação financeira, não há dúvidas que a sua
conversão é legítima. Entretanto, nada que não seja sério envolve estudar durante
5 anos e converter-se!” Exclamou.
Ele também
insiste que os funcionários do (Departamento do) Interior não tem o direito de
questionar a motivação dos novos judeus, mas apenas determinar se a conversão ocorreu
dentro dos padrões e, se assim for, apenas em casos excepcionais (como a de um requerente
com histórico de crimes graves) podem negar a nacionalização.
Sacks disse
que o problema também afeta o Movimento de Reformista, mas salienta que a
grande maioria das conversões na América Latina ocorrem através do Movimento Masorti
(Conservador).
Sandra
Kochmann, nascida e criada no Paraguai é a primeira mulher rabina no Brasil
(também do Movimento Conservador), também acredita que "qualquer pessoa de
cor que tem tido uma conversão correta enfrenta algum obstáculo na hora de
apresentar os papéis, pois em Israel "duvidam que pessoas de cor ou da
América do Sul não fizeram a conversão porque se identificam com o Judaísmo,
mas sim para deixar seus países".
Contra
essa interpretação está Jack Corcos, diretor da Agência Judaica encarregado de
aprovar a idoneidade dos migrantes, que rejeita o argumento do racismo. "O
problema (com Iquitos) é que trata-se de um grande grupo, o que levanta
questões sobre seus motivos, se fazem isso porque querem ser judeus ou porque
eles querem a nacionalidade judaica", explicou ele.
A Agência
Judaica tem apoiado a nacionalização do grupo peruano e acredita que "não
há nenhuma razão para ter de esperar tanto tempo", especialmente quando
centenas de membros da comunidade de Iquitos emigraram para Israel em duas levas,
em 2001 e 2005.
Niki Maor,
advogada que representa vários casos de convertidos que enfrentam problemas para
imigrar, não acredita que seja caso de racismo, mas sim a quantidade de pessoas
no grupo peruano.
"A conversão
e chegada de muitos judeus etíopes mostra que não é uma questão de oportunidade
econômica ou raça", diz ele, e observa que "em conversões individuais
geralmente não há problemas", a menos que as pessoas residam ilegalmente
em Israel.
As dúvidas
com relação ao (Departamento do) Interior deve, diz ele, que o grupo é muito
grande e os rabinos que os converteram não são ortodoxos; a única denominação
judaica em Israel com autoridade legal, mas sim conservadores.
"Se o
rabino-chefe tivesse ido ao Peru e realizado as conversões, não haveria
problemas", especulou.
Fonte: Ana Cárdenes - EFE