9 de junho de 2012

POR QUE CELEBRAR O SHABAT?




Somos ordenados a lembrar do Shabat; mas lembrar significa muito mais que meramente não esquecer de guardar o Shabat. Significa também lembrar do significado do Shabat, tanto como uma celebração da Criação como para comemorar a nossa libertação da escravidão no Egito. Em Shemot 20:11, depois que o quarto Mandamento foi instituído pela primeira vez, D’us explica: "Durante seis dias o Eterno criou os céus e a terra, e mar e tudo que existe neles, e no sétimo dia, descansou: portanto, o Eterno abençoou o dia do Shabat e o santificou." Ao descansar no sétimo dia e santificá-lo, lembramos e reconhecemos que D’us é o Criador do céu e da terra e de todos os seres vivos. Nós também imitamos o exemplo Divino, abstendo-nos de trabalho no sétimo dia, como D’us fez. Se a obra de D’us pode ser deixada de lado para um dia de descanso, como podemos acreditar que nosso próprio trabalho é importante demais para ser deixado temporariamente de lado? Em Devarim 5:15, enquanto Moshê reitera os Dez Mandamentos, ele assinala a segunda coisa que devemos lembrar no Shabat: "Lembra-te que foste um escravo na terra do Egito, e o Eterno, teu D’us, o tirou de lá com mão poderosa e um braço estendido; portanto o Senhor teu D’us te ordenou guardar o dia do Shabat."


 


O que tem o Êxodo a ver com o descanso no sétimo dia? Trata-se de liberdade. Como eu disse antes, nos tempos antigos o lazer estava destinado a determinadas classes; os escravos não tinham dias de descanso. Assim, ao descansar no Shabat, somos lembrados de que somos livres. Porém num sentido mais geral, o Shabat nos liberta de nossas preocupações dos dias da semana, nossos prazos e horários e de nossos compromissos. Durante a semana, somos escravos de nossos empregos, de nossos credores, e da necessidade de prover por nós mesmos; no Shabat, somos libertados destas preocupações, assim como nossos ancestrais foram libertados da escravidão no Egito. Lembramos destes dois significados do Shabat quando recitamos o kidush (a prece sobre o vinho, santificando o Shabat ou um Dia Festivo). O kidush de sexta-feira à noite refere-se ao Shabat tanto como zikkaron l’ma’aseh bereshit (um memorial do trabalho no princípio) e zeicher litz’at mitzrayim (uma lembrança do êxodo do Egito).


 

Shamor: observar Obviamente, nenhuma discussão sobre o Shabat estaria completa sem discorrer sobre o trabalho que é proibido no Shabat. Este é um outro aspecto do Shabat que é mal entendido por pessoas que não o guardam. A maioria das pessoas vê a palavra "trabalho" e pensam sobre ela no sentido do literal: trabalho e esforço físico, ou emprego. Sob esta definição, acender uma luz seria permitido, porque não exige esforço, mas um rabino não poderia conduzir os serviços do Shabat, porque este é seu emprego. A Lei Judaica proíbe o primeiro e permite o segundo. Muitos, portanto, concluem que a Lei Judaica não faz o menor sentido. O problema não está na Lei Judaica, mas na definição que é usada. A Torá não proíbe o "trabalho" no sentido empregado no século 21. A Torá proíbe "melachá" (Mem-Lamed-Alef-Hê), que geralmente é traduzido como "trabalho", mas não significa exatamente o que as pessoas imaginam. Antes que você possa começar a entender as restrições do Shabat, é preciso que entenda a palavra "melachá". Este termo refere-se ao trabalho criativo, ou que exerce controle ou domínio sobre nosso ambiente. A palavra pode estar relacionada com "melech" (rei; Mem-Lamed-Kaf). O exemplo perfeito de melachá é o trabalho de criar o universo, que D’us cessou no sétimo dia. Veja que a obra de D’us não exigiu um grande esforço físico: Ele falou, e foi feito.


 


A palavra melachá raramente é usada nas Escrituras fora do contexto do Shabat e restrições dos dias festivos. O único outro uso repetido da palavra está na discussão da construção do santuário e seus recipientes no deserto (Shemot cap. 31, 35-38). Notavelmente, as restrições do Shabat são reiteradas durante esta discussão (Shemot 31:13), assim podemos deduzir que a obra de criar o santuário teve de ser parada para o descanso e santificação do Shabat. A partir daí, os rabinos concluíram que o trabalho proibido no Shabat é o mesmo que o trabalho para criar o Santuário. Eles encontraram 39 categorias de ações proibidas, e todas são tipos de trabalhos que foi preciso fazer na construção do Mishcán, Santuário. 1.Semear 2.Arar 3.Colher 4.Agrupar feixes 5.Debulhar 6.Joeirar - dispersar 7.Escolher 8.Moer 9.Peneirar 10.Fazer massa 11.Assar 12.Tosquiar 13.Lavar a lã 14.Desembaraçar a lã 15.Tingir a lã 16.Fiar 17.Esticar e tecer 18.Dar dois nós 19. Tecer dois fios 20. Separar duas linhas 21. Atar 22. Desatar 23. Costurar 24. Rasgar 25. Caçar 26. Abater 27. Pelar o couro 28. Curtir o couro 29. Alisar o couro 30. Demarcar o couro 31. Cortar 32. Escrever ou esculpir letras 33. Apagar 34. Construir 35. Destruir ou demolir 36. Acender fogo 37. Apagar ou diminuir o fogo 38. Bater com martelo (terminar a manufatura de qualquer objeto) 39. Levar um objeto de um domínio privado para o público, ou transportar um objeto em domínio público. Mishná Shabat, 7:2 Todas estas tarefas estão proibidas, bem como qualquer trabalho que opere pelo mesmo princípio ou tenha o mesmo objetivo. Além disso, os rabinos proibiram entrar em contato com qualquer implemento que poderia ser usado para um dos propósitos acima (por exemplo, não se pode tocar um martelo ou um lápis), viajar, comprar e vender, e outras tarefas dos dias da semana que poderiam interferir com o espírito do Shabat.


 


O uso da eletricidade é proibido porque serve à mesma função que o fogo ou algumas das outras proibições, ou porque é tecnicamente considerada como "fogo". A questão do uso do automóvel no Shabat, tão freqüentemente discutida por judeus não observantes, não é um tema controverso para os judeus religiosos. O automóvel funciona com base num motor de combustão interna, que opera queimando gasolina e óleo, uma clara violação da proibição da Torá contra acender um fogo. Além disso, o movimento do carro constituiria transportar um objeto no domínio público, outra violação da proibição da Torá, e com toda a certeza o carro seria usado para percorrer uma distância maior que a permitida pelas proibições rabínicas. Por todos estes motivos, e muitos mais, o uso de um carro no Shabat não é permitido. Como ocorre com quase todos os Mandamentos, todas as restrições do Shabat podem ser violadas se necessário para salvar uma vida. Um Shabat típico Toda a sexta-feira, judeus shomer Shabat, (que cuidam do Shabat), deixam o escritório para começarem os preparativos. O estado de espírito é semelhante a quando se prepara para a chegada de um convidado querido e especial. A casa é limpa, a família toma banho e se veste, as melhores louças são colocadas à mesa, uma refeição festiva é preparada. Além disso, tudo que não pode ser feito durante o Shabat deve ser preparado com antecedência: luzes e aparelhos são ligados (ou timers colocados neles, se a família costuma fazer dessa forma), a lâmpada da geladeira deve ser removida, para que não acenda quando a porta for aberta, e os preparativos para as refeições do Shabat devem ser feitas. O Shabat, como todos os outros dias judaicos, começa ao anoitecer, porque na história da Criação em Bereshit cap.1, está escrito: "E era noite, e era manhã, dia um." A partir daí, deduzimos que um dia começa com o anoitecer, ou seja, o pôr-do-sol. As velas do Shabat são acesas e uma bênção é recitada no máximo até dezoito minutos depois do pôr-do-sol. Este ritual, desempenhado pela mulher da casa, assinala oficialmente o início do Shabat. Duas velas são acesas, representando os dois mandamentos: zachor e shamor. Há um costume de acender uma vela adicional a cada filho que nasce, além das duas originais, e de meninas, a partir de três anos, acender sua própria vela, auxiliada por sua mãe, que deverá em seguida acender a sua. A família então poderá participar de um Cabalat Shabat em uma sinagoga próxima a sua casa.


 


Ao retornar da sinagoga, a família se mantém unida em torno da mesa. O homem da casa recita o Kidush, uma prece sobre o vinho, santificando o Shabat. A prece usual para comer pão é recitada sobre duas chalot. Então a família saboreia o jantar. Embora não haja exigências específicas ou costumes sobre o que comer, geralmente as refeições são constituídas de cozido ou alimentos de cozimento lento, por causa da proibição de cozinhar durante o Shabat. Depois do jantar, o bircat hamazon (Graças Após as Refeições) é recitado. Embora isso seja feito todos os dias, no Shabat é feito de maneira mais relaxada. Quando tudo isso já foi completado, geralmente são 9 horas, ou mais. A família tem uma hora ou duas para conversar ou estudar Torá, e depois vai dormir. Na manhã seguinte, os serviços do Shabat começam por volta das 9 horas e continuam até cerca de meio-dia. Após os serviços, a família diz o Kidush novamente e tem outra refeição festiva. Uma refeição típica é o cholent, um cozido preparado lentamente. Quando birkat hamazon é recitada, são cerca de duas horas da tarde. A família estuda Torá por algum tempo, conversa, faz uma caminhada. É comum uma breve soneca no meio da tarde. É tradicional fazer uma terceira refeição antes do final do Shabat. Esta geralmente é uma refeição leve no final da tarde. O Shabat termina ao cair da noite, quando três estrelas estão visíveis, cerca de 40 minutos após o pôr-do-sol. Na conclusão do Shabat, a família desempenha um ritual de encerramento chamado Havdalá (separação, conclusão). São recitadas bênçãos sobre o vinho, especiarias (cravo) e velas. Então é recitada uma bênção a respeito da divisão entre o sagrado e o secular, entre o Shabat e os dias comuns da semana, etc.


 

 O Shabat é portanto um dia repleto, único e extremamente relaxante. Você não sente falta do celular, de dirigir seu carro ou fazer compras. Para isto você tem seis dias inteirinhos da semana para se programar. Tente! Vale a pena! 

 Fonte: Chabad.org.br

2 comentários:

  1. Q Interessante! Estava pesquisando e achei muito linda a forma como vcs judeus se lembram de D'us, especialmente nos dias de Shabat... Parabéns pelo blog! Muito informativo e interessante!

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