A História: O Renascimento do
Hebraico
Por: Jean
Marie Delmaire
Israel tem uma língua oficial, o hebraico. Entretanto no século passado, essa língua era uma língua morta, usada unicamente na liturgia e na literatura. Em poucos anos, professores inspirados e dedicados – que foram também pioneiros - conseguiram com sucesso à impor para todo um povo. A língua hebraica está até entre os principais fatores de sucesso do renascimento nacional judaico na Europa. É um paradoxo, porque no século XIX a língua do povo era o iídiche, enquanto que o hebraico tinha apenas a antiga função de língua litúrgica.
Entretanto, em torno de 1800, voltou a ser um instrumento literário a serviço do movimento Luzes Judaicas e Haskaah, que emprega uma língua próxima do hebraico, isto é artificialmente reconstituída. O motivo, concerne a um número restrito de indivíduos, que no Oriente usam o hebraico antigo ocasionalmente como língua de comunicação entre asquenazes e sefaraditas que falam o árabe ou o ladino. Esse renascimento literário inicial e a fraca manutenção de uma língua de contato vão certamente facilitar o extraordinário empreendimento de um homem: Eliezer BenYehuda. Sua maior ambição é tornar o hebraico a língua nacional a ser falada por todos os povos de Israel.
Eliezer Perlman (1858-1922) , chamado posteriormente de BenYehuda (filho de Judéia) nasceu em Vilma (Vilanius) onde seguiu o curso comum do ensinamento rabínico. Passando em seguida aos estudos profanos, se interessou pela literatura hebraica. Indeciso quanto a sua escolha cultural vai para Paris para estudar medicina. Suas idéias evoluem sob influência de amigos um russo e um sábio judeu francês, apaixonado pelo hebraico, José Halevy, que tenta ocasionalmente fazer pequenos cursos de hebraico para impressionar seus alunos. É possível reconstituir seu caminho através dos artigos escritos nesta época por BenYehuda para o Jornal Nacionalista hebraico – A Aurora – publicado em Viena pelo escritor Smolenski. Inicialmente ele liga a questão nacional à questão da língua escrita e ao seu ensino. Depois ele define sua idéia de utilizar o hebraico como língua educativa, afirmando que tal projeto só pode ser realizado na Palestina, para ele a "Terra de Israel". Enfim, ele decide dar exemplo e parte para Jerusalém, após ter se casado com uma jovem professora de russo, Débora, que ele convenceu de seus sonhos. A biografia clássica aponta alguns episódios modelares mais ou menos exatos sobre a decisão que teria sido tomada pelo casal de só falar o hebraico e de educar nessa língua seu futuro filho.
Chegada à Terra Santa:
Chegando à Terra Santa em 1881, BenYehuda encontra no meio religioso alguns amorosos do hebraico que o sabem falar mais ou menos. O diretor da nova escola Aliança Israelita Universal de Jerusalém, o irrequieto Nissim Behar, lhe permite se sustentar empregando-o em sua escola, onde lhe foi possível durante um ano e meio tentar sua experiência de ensino. Um ato pioneiro que alguns alunos prolongarão com maior sucesso à partir do ano seguinte.
Voltando a Paris para as primeiras pesquisas ligadas a seu novo projeto, a redação de um "Thesaurus" da língua hebraica, BenYehuda se lança sobretudo na aventura de um novo Jornal Ha Zvi (o Cervo) chamado mais tarde de Ha Or (A Luz). Essa publicação bastante crítica em relação aos círculos tradicionais vai lhe trazer grandes inimizades, sem, nem por isso, atrair a confiança dos novos imigrantes "sionistas" que criam então as primeiras colônias.
Cruelmente atingido pela morte de Débora, BenYehuda casa com a irmã desta última, Henda, uma mulher enérgica que assiste sem fraquejar o que contribuíra, depois de seu desaparecimento a traçar um retrato dele como um personagem fora do comum.
Em 1889 BenYehuda coloca o pé na Academia de Língua Hebraica, destinada sobretudo a enriquecer a linguagem, para lhe fornecer as palavras usuais que faltam cruelmente, o que ele faz recorrendo sistematicamente às línguas semíticas, o aramaico e o árabe, bem como as palavras européias comuns evitando uma grande contaminação iídiche ou pelas línguas européias, em particular. Assim nasceram numerosos termos hebraicos utilizados atualmente como "diccionnaire", "serviette", "trottoir", "tomate", etc. Depois de públicar apressadamente vários manuais escolares, BenYehouda se lança no grande empreendimento de sua vida, o famoso Thesaurus, onde ele pretende reunir todas as palavras hebraicas de todos os tempos.
Seu desprezo por todas as convenções religiosas se manifesta em sua conduta pessoal tanto quanto na sua obra pedagógica. Assim, BenYehouda "inventa" o teatro em hebraico, para o grande escândalo dos tradicionalistas. Por isso ele será denunciado ao governador Otomano, pelos judeus religiosos integristas, sob o protesto de um artigo subversivo. Preso por muitos meses é liberado em Beirute graças a numerosas intervenções , seu jornal será suspenso por um ano. Tantos acontecimentos que trarão os primeiros conflitos graves entre sociedade laica e a sociedade religiosa na Palestina. Para se livrar dessa posição de pária, BenYehuda se liga rapidamente a Herzl. Forçado a fugir durante a primeira Guerra Mundial ele irá se refugiar nos Estados Unidos onde continua a trabalhar no seu Thesaurus. Volta à Palestina e morre em 1922.
Uma Guerra de Línguas travada por professores:
Tem-se atualmente a tendência de atribuir a BenYehuda todo o mérito desse espetacular "renascimento" de uma língua morta. Porém, longe disso, não cabe somente a ele. Certamente ele deu o exemplo em numerosos aspectos – educação , jornalismo, lexicografia, mas os verdadeiros propagadores do Hebreu falado foram de um lado os professores, de outro os animadores das "sociedades Hebraicas" que floresceram um pouco em vários lugares por volta de 1890, e enfim pelos jornalistas, com a criação de cotidianos em hebraico, publicados à partir de 1886.
No espaço de vinte anos, foram os professores fanáticos e dotados que conseguiram hebraizar o sistema escolar na Palestina. Se trata de um episódio apaixonante e o mais desconhecido da ressurreição do Hebraico, que terminou em 1912 em um conflito entre o novo sistema escolar e as escolas alemães e francesas, que se multiplicavam então.
Essa "guerra" de línguas terminou no ano seguinte com o trunfo do hebraico, sem que BenYehuda fosse o ator principal. Desde o inicio do mandato inglês sobre a Palestina, o hebraico foi reconhecido como língua oficial pela potência mandatária, tirando assim o iídiche, embora está fosse a língua mais falada pelos imigrantes judeus. O slogan "Hebreu fala hebraico" exprimiu essa vitória de uma política voluntariosa que Herzl não acreditava mais útil para a construção de um Estado Judaico, mas que os pioneiros impuseram no local.
Traduzido por Victoria Cardim
enviado por Leon M. Mayer
Presidente da Loja Albert Einstein da B'nai B'rith do RJ