ANIVERSÁRIO DA ASSOCIAÇÃO RELIGIOSA ISRAELITA - ARI
Origens:
Para contar a história da ARI é imprescindível lembrar do
pequeno grupo de imigrantes alemães que se reunia, nos anos 30, no “Centro 33″,
na Rua Marquês de Paraná, no Flamengo. Naquele ponto de encontro, a que afluíam
quase diariamente, procuravam num ambiente de alegria, manter sempre vivo seu
elo com o judaísmo, seus valores, suas tradições.
Esses jovens freqüentavam os serviços de Shabat do Grande
Templo ou iam ao pequeno Shil dos belgas que, mais tarde, daria origem à
Sinagoga de Copacabana. Eles estranhavam, porém, a pronúncia ashquenazi e
sentiam falta de seu próprio ritual. Como tinham bom conhecimento de hebraico e
dos serviços religiosos, decidiram realizar por conta própria, em 1936, o
primeiro serviço de Rosh Hashaná e Iom Kipur. Não tinham um Sefer Torá, apenas
sidurim e machzorim trazidos nas suas bagagens. E ficaram muito felizes de
conseguir, junto com os poucos familiares, festejar os Iamim Noraim.
Desse mesmo grupo surgiu a
idéia de formar uma organização beneficente, sem fins religiosos – a União Associação Beneficente – com o objetivo de atender aos imigrantes judeus
alemães que chegavam em número cada vez maior, semana após semana.
Em 1937, já eram tantos que
foi preciso alugar um salão para os serviços religiosos das Grandes Festas: a
então sede do Botafogo, no Mourisco. Como o Rabino Pinkus já havia assumido o
rabinado da CIP (Congregação Israelita Paulista), um
grupo do Rio foi buscar sua orientação. Ele preparou, então, um sermão que aqui
foi lido, ainda em alemão, durante o serviço no Rio.
As lideranças do grupo de alemães que haviam aportado no
Rio, sentiam que, além da sociedade beneficente, havia necessidade de se
organizar financeira e religiosamente. Estabeleceram contato com o Sr. Wolf
Klabin, que muito se impressionou com o trabalho desse grupo de imigrantes e
resolveu apoiá-lo, já comparecendo ao serviço religioso de Rosh Hashaná de
1937. Foi acompanhado de seus familiares e de seu cunhado, Dr. George Haas, que
viria a participar da primeira diretoria da ARI. Apesar de todas as dificuldades,
foi um serviço lindo, que revelou nesse grupo o esteio de uma futura
congregação. Faltava agora a presença de um líder espiritual.
Em 1941 chegava ao Brasil, a
chamado do Dr. Ludwig Lorsch e do Rabino Pinkus, o Rabino Dr. Heinrich Lemle e
sua família. Vinham, com o apoio de Lady Lilly Montagu, presidente da World
Union for Progressive Judaism em
Londres, que o resgatara do campo de concentração de Buchenwald. O Rabino Lemle
foi enviado para o Rio de Janeiro com a missão de fundar uma congregação
liberal.
A presença do Rabino Lemle
constituiu estímulo adicional para a realização de serviços regulares de
Shabat. O Centro da Comunidade Israelita, na pessoa de Jacob Schneider, colocou
à disposição da pequena comunidade alemã um salão do Grande Templo, localizado
à Rua Tenente Possolo no Centro, onde passaram a se realizar serviços
regulares, dirigidos pelo Dr. Lemle.
Participação e interesse cada vez
maiores sedimentaram o sonho de fundar uma congregação judaica alemã. Havia, no
entanto, exigências formais a serem cumpridas: era preciso brasileiros natos
para compor a diretoria, o que de fato não constituiu um problema, pois já
havia judeus de origem alemã de imigrações anteriores: Eduardo Levy
(presidente), George Haas (diretor-secretário) e Alexandre Spielmann
(diretor-tesoureiro) formaram a primeira diretoria da recém-fundada Associação
Religiosa Israelita. Era o dia 13 de Janeiro de 1942, na cidade do Rio de
Janeiro, na então sede da União, na Rua Alice em Laranjeiras.
As sedes da ARI:
A primeira sede da ARI foi uma
pequena sala velha, nos fundos da Rua Barata Ribeiro 363 em Copacabana. Ficava
junto a um galinheiro e muitas vezes, durante o serviço religioso, as galinhas
passeavam pela sala. Mas ninguém se incomodava; a religiosidade era muito
grande, havia muito fervor. A sinagoga era o lar, a identificação com as
origens, o traço de união com a nova vida.
A ARI foi crescendo e ao fim do
primeiro ano já contava mais de mil sócios. Em dezembro de 1943 as instalações
foram transferidas para o número 373 da Barata Ribeiro; contudo, já havia
nascido a idéia de uma sede própria e uma campanha com este objetivo foi
iniciada. Cento e cinquenta contos foram angariados e, no dia 12 de Novembro de
1944 foi, finalmente, inaugurada a primeira sede própria da ARI, à Rua Martins
Ferreira 52 em Botafogo.
A “Martins Ferreira” deixou
muitas saudades. Todos falam dela com um carinho especial. Era um tempo em que
todos se sentiam unidos em uma só família, participando ativamente, próximos
uns dos outros. Foram tempos de luta, mas foram bons tempos. O grupo de estudos
com o Dr. Lemle – Beit Hamidrash – que atraiu muita gente e foi um ponto
marcante na história da ARI; as aulas de religião, que se estendiam do Leblon
ao Méier – sim, ao Méier, pois havia o Setor Norte da ARI. Muitos dos sócios
moravam na Zona Norte e era difícil vir até Botafogo. Assim, realizavam seus
serviços religiosos em casas de família e, uma vez por mês, o Dr. Lemle ia até
lá dirigir as preces. Com o tempo, as pessoas se mudaram para a Zona Sul e o
Setor Norte se extinguiu.
Havia ainda o Jardim de Infância,
os escoteiros e os lobinhos, o Coro de voluntários, a Seção Feminina, as
feirinhas e a festa no Cassino Atlântico, os Iamim Noraim no Mourisco e no
Botafogo, os vários grupos juvenis e a Chazit Hanoar. Nas horas difíceis, a
presença da Chevra Kadisha.
A ARI crescia, e a sede da
Martins Ferreira já não comportava mais tantas pessoas e atividades. Fez-se
necessário e urgente um espaço maior. Uma nova campanha foi iniciada para a
construção de uma nova sinagoga. O grande impulso foi dado pelo Prof. Dr. Fritz
Feigl e sua esposa, Dra. Regine Feigl, com a doação do terreno para a
construção. É claro que houve inúmeras dificuldades mas, com luta, determinação
e perseverança, o objetivo foi alcançado. Com a campanha dos tijolos, venda de
cadeiras e donativos, a sinagoga foi surgindo – um projeto arrojado do
arquiteto Henrique Mindlin.
Em
Rosh Hashaná de 1961, um momento de emoção – o primeiro serviço religioso de
Kabalat Shabat, no Salão Nobre da nova sinagoga, ainda em obras. Finalmente, no
dia 28 de Setembro de 1962, foi colocada a mezuzá no Salão Nobre e, na bimá,
aceso o Ner Tamid – a Lâmpada Eterna.
A partir daquela data, todos os
serviços religiosos passaram a ser realizados na nova sinagoga da Rua General
Severiano 170. Dois meses depois, com o concerto do Prof. Fritz Hofer, autor do
projeto e, a 22 de Dezembro de 1962, inaugurava-se a sinagoga pequena, uma
reconstituição da “Martins Ferreira”. Foi um período marcante, emocionante, que
tocou fundo no coração daqueles que viram a ARI nascer, crescer e se tornar
grande; aqueles que fizeram a ARI, que ainda são a ARI, e que a legaram a nós
para darmos continuidade à sua obra.
Um antigo projeto desde a época
da construção da sinagoga era o Prédio Anexo a sinagoga. Ao longo dos anos 90 a
ARI ergueu o Centro Comunitário Rabino Henrique Lemle que foi inaugurado em
1997, dispondo de salas de aula, biblioteca, auditório, salas de recepção,
escritórios para a administração, a sinagoga Henrique Peres que acomoda até 150
pessoas, e o Centro de Referência e Pesquisas sobre o Holocausto Família
Zinner.
Missão e Visão:
A Associação Religiosa Israelita
do Rio de Janeiro – ARI, de acordo com seu Estatuto Social, é uma entidade sem
fins lucrativos, de caráter filantrópico, religioso, educacional e cultural,
que se propõe a manter e cultivar os valores da cultura e religião judaicas,
colaborar na integração das comunidades judaicas no País e contribuir para o engrandecimento
sociocultural do Brasil.
É uma instituição
inclusiva e igualitária que, de forma solidária e responsável, atua no contexto
econômico, político e cultural da sociedade em que se insere
A ARI, para o cumprimento de sua missão e fiel aos ideais de seus fundadores, opera em todas as esferas de seu campo de ação visando:
A ARI, para o cumprimento de sua missão e fiel aos ideais de seus fundadores, opera em todas as esferas de seu campo de ação visando:
·
Ser uma
instituição atuante e vibrante, exercendo papel de liderança na Comunidade Judaica,
conectada com os desafios do nosso tempo e inserida na sociedade maior.
·
Oferecer
uma opção de vida judaica plena, inspirada na centralidade de Tsion e nos
valores religiosos do Judaísmo Liberal.
·
Permanecer
uma verdadeira Beit Ha’ Knesset – Casa da Reunião – o Centro Comunitário onde
se encontra uma opção de vida religiosa participativa, programas educacionais
envolventes, orientação para a observância das tradições e costumes, estudo das
fontes, enriquecimento cultural, espaços de convivência e atividades para todas
as idades.
·
Manter-se
inclusiva e igualitária criando oportunidades de realização pessoal pelo
trabalho voluntário socialmente responsável, cultivando a solidariedade, a
acolhida calorosa e, essencialmente, o respeito às diferenças, condição indispensável
ao exercício dos princípios da democracia e à afirmação dos direitos humanos.
Música na Sinagoga:
Segundo o nosso entendimento, não
nos bastam a mera leitura e repetição das páginas do Sidur. A experiência
religiosa em si precisa, através da sua própria mecânica, fazer-nos sentir e
vivenciar. Os textos e as orações devem estar dispostos de maneira a nos
colocar em contato conosco, com nosso próximo; para que, efetivamente,
tornemo-nos mais sensíveis, mais humanizados. Logo, mais imbuídos da
necessidade e urgência de agirmos em nosso mundo. E ainda, quem sabe,
transformá-lo.
Nesse sentido, a ARI, desde seus
primórdios, tem dedicado especial importância à música. Nossos fundadores
trouxeram consigo a tradição musical do Romantismo europeu, delineando em nossa
comunidade uma nova forma de manifestação litúrgica, caracterizada por sua
densidade, profundidade e força expressiva.
Sendo pioneiros em nossa cidade
na manutenção de uma estrutura músico-instrumental, contamos primeiramente com
um harmônio (hoje em nossa Sala de Memória), e depois construímos nosso grande
órgão de tubos. Além disso, também formamos o nosso Coro.
Criamos, assim, uma tradição de
excelência, que tem nos acompanhado pelos anos e pavimentado de sons alguns dos
momentos mais caros das nossas vidas. Muito nos orgulhamos dela, e queremos
mantê-la viva.
Assim, pensando na sua
continuidade, temos investido na sua transformação. Se uma tradição não tem a
capacidade de mutar ou se adaptar, cai em desuso, e toda a sua beleza acaba por
se restringir à memória dos mais vividos.
E é por isso que, nos últimos
anos, temos, incorporado novas propostas, sonoridades e ideias musicais,
incentivando a “mão na massa”, a participação de congregantes em nossas
Tefilot, e o diálogo sempre aberto e coletivo sobre o assunto.
Agora, temos esse novo espaço, e
estaremos constantemente trazendo material – textos, gravações, idéias – para
estarmos aprendendo, pensando e construindo, juntos, a nossa vivência
religiosa.
A colaboração de todos, claro, é
fundamental, e sintam-se à vontade para comentar, dar idéias e sugestões. Pois,
somente assim, estaremos dando vida ao real significado do que entendemos como
o nosso maior propósito, que é ser um Beit Haknesset - uma casa de encontro.
Envie uma mensagem
para os chazanim André Nudelman e Oren Boljover:
nudelman@arirj.com.br ou oren@arirj.com.br
nudelman@arirj.com.br ou oren@arirj.com.br
Introdução ao Judaísmo:
A ARI sempre ofereceu um curso para
aquelas pessoas interessadas em se aprofundar no conhecimento do judaísmo, com
a possibilidade de uma eventual conversão, sendo que esta pode se dar por
motivo de casamento ou por tendência totalmente individual.
Sob a supervisão do rabino e com a colaboração deste, esse curso tem a duração de aproximadamente um ano, cinco horas por semana.
Sob a supervisão do rabino e com a colaboração deste, esse curso tem a duração de aproximadamente um ano, cinco horas por semana.
Os participantes têm a oportunidade de conhecer nossas
festas, ciclo da vida, ritmo semanal, orações, história, etc, analisados em
todo o seu sentido. São expostos a nossas leis e tomam conhecimento da
estrutura dos nossos livros canonizados, entre outros temas. Frequentam os
serviços religiosos na nossa sinagoga.
Mas o curso vai muito, além disso, ao explorar com os
alunos toda a mentalidade judaica, com seus conceitos importantes. Expõe-os a
um aprofundamento das reflexões sobre o judaísmo de maneira que a religião
judaica em geral seja bem entendida assim como cada questão em particular,
dentro do seu contexto maior.
A diferença entre o judaísmo e outras religiões que
possam eventualmente ter exercido a sua influência sobre algum interessado são
amplamente discutidas.
Há, além do mais, palestras sobre a realidade de
Israel hoje, sobre o Holocausto e o antissemitismo, sobre a imigração ao Brasil
e os anos de fundação e a estrutura da ARI.
Os alunos são alfabetizados em hebraico.
Entrevistas regulares com o rabino são realizadas.
Este é um curso direcionado para que o adulto
interessado possa fazer uma opção amadurecida. No caso de haver um casamento em
vista, ou se o candidato a conversão já for casado, o cônjuge judeu deve
participar de todo o processo. A circuncisão por um mohel é exigida para o
homem, assim como o banho ritual (tevilá) para homem e mulher.
Paralelamente, a coordenação da “Introdução ao
Judaísmo” participa do atendimento aos estudantes de escolas e universidades,
leigas e religiosas, assim como a indivíduos independentes, que vêm se informar
sobre o judaísmo para as mais diversas pesquisas.
É importante tomarmos conhecimento de que o interesse
pelo judaísmo no meio não judaico cresce enormemente no Rio de Janeiro.
Fonte:
Publicação ARI 40 Anos - 1983
Nenhum comentário:
Postar um comentário