10 de dezembro de 2017

PRIMEIRA MULHER ANTES DE EVA, LILITH CONTINUA A GERAR POLÊMICA, ÓDIO, PRECONCEITO, MISTICISMO, FASCINAÇÃO E CURIOSIDADE



Lilith foi criada a partir da poeira junto a Adão, portanto, antes de Eva

No primeiro capítulo do livro Gênesis, que faz parte da Torá e da Bíblia, Deus cria "homem e mulher" à sua imagem e semelhança. Mas, logo no capítulo seguinte, somente Adão é mencionado. Onde foi parar a mulher do primeiro capítulo? É só no segundo capítulo que Eva é criada, e no terceiro que recebe seu nome. Essa inconsistência sugere que parte do texto tenha sido editada ou removida. Lilith já estava lá. O registro mais antigo dessa figura está nas gravuras dos amuletos de Arslan Tash, relíquias que datam do século 7 a.C.
Alguns historiadores argumentam ainda que Lilith é mencionada ainda antes, na demonologia suméria do terceiro milênio a.C. Na Épica de Gilgamesh, poema mesopotâmio de 2100 a.C., há uma possível menção a Lilith como demônia. Ou seja, Lilith já era conhecida antes de compilarem o Gênesis, o que reforça a teoria de que foi "apagada da história".





Lilith negou-se a deitar sob Adão na hora do sexo por não se sentir inferior 

. Ela não quis se submeter ao homem na hora do sexo:

Segundo o Alfabeto de Ben Sirá, um dos textos que compõem a coleção de escritos rabínicos chamado Talmud, Lilith foi criada a partir da poeira junto a Adão - portanto, antes de Eva. Mas ela negou-se a deitar sob ele na hora do sexo por não se sentir inferior e, em protesto, abandonou o Éden. Ou seja, segundo o antigo folclore judaico, Lilith rebelou-se contra a "superioridade" masculina de Adão, o que a torna uma figura problemática para o judaísmo e para o catolicismo, religiões patriarcais.
Outra evidência de que Eva não foi a primeira pode ser encontrada nos versículos de sua criação, no capítulo 2 do Gênesis. Em várias edições do texto, Deus decide dar ao homem uma companheira "idônea", o que sugere que alguma primeira parceira,"não idônea", já tinha sido criada antes. Reforça essa teoria a fala de Adão em certas edições da Bíblia (como a King James Atualizada) quando vê Eva: "Esta, sim, é osso dos meus ossos".



Os babilônios passam a adorar Lilith; cultuando-a como deusa da fertilidade

. Lilith virou "deusa" pagã:

Outro motivo para Lilith ter sumido do Gênesis é histórico. Durante anos nos séculos 7 e 6 a.C., os hebreus, patriarcas da tradição judaico-cristã, ficaram exilados na Babilônia. Durante essa época, os babilônios passam a adorá-la, cultuando-a como deusa da fertilidade. Por ser adorada por seus captores babilônicos, os hebreus retiraram Lilith do mito de criação da humanidade, e subsequentemente do Gênesis judeu e católico. 
Lilith também é citada no Livro de Isaías, que faz parte tanto da Torá quanto da Bíblia. Porém, ao longo de diversas traduções, seu nome foi sendo suprimido até virar"animal noturno" ou "coruja". Só algumas traduções que usam como base os textos em hebraico (mais antigos) mantêm "Lilith" em Isaías 34, no trecho em que o profeta descreve como a ira de Deus destruirá a Babilônia e, na terra desolada, Lilith encontrará um lugar para repousar.


Textos hebraicos e rendições artísticas de Lilith a descrevem como uma mulher alada e serpentina


. A "demonização" de Lilith:

Ou seja: o profeta conhecia a figura da "primeira mulher". Textos hebraicos e rendições artísticas de Lilith a descrevem como uma mulher alada e serpentina. Então, dá para associá-la à figura da serpente alada do Éden. A Igreja Católica, em particular, deu um "delete" definitivo na única menção a ela dentro da Bíblia na metade do século 16, durante o Concílio de Trento. Nele, a Igreja decidiu tornar "oficial" a Bíblia Vulgata, uma tradução para latim do século 4 que já havia trocado a palavra "Lilith" em Isaías 34 por "ibis". A adoção de uma versão da Bíblia que já tinha dado sumiço em Lilith permitiu que ela fosse aos poucos desaparecendo da tradição católica.



Tanto Gênesis quanto Isaías são textos antigos, têm origens incertas e passaram por diversas traduções até as versões atuais, que diferem entre si

. Nada é certo quando falamos em textos antigos:

A teoria acadêmica dominante sobre o Gênesis diz que a "incoerência" entre o primeiro e o segundo capítulo seria reflexo da tentativa de juntar dois mitos de criação em um livro só, e não sinais de que parte dele foi "apagado". O Gênesis é aberto a intepretação. Há quem leia o primeiro capítulo como um resumo geral da criação do mundo, para só no segundo entrar em detalhes. Tanto Gênesis quanto Isaías são textos antigos, têm origens incertas e passaram por diversas traduções até as versões atuais, que diferem entre si. Ou seja, não existem versões "definitivas" dos livros. Todas as conexões entre a figura do folclore judaico Lilith e as civilizações pré-cristãs são contestáveis. Alguns consideram os amuletos de Arslan Tash falsificações. A passagem da Épica de Gilgamesh que cita Lilith pode ser uma adição do século 6 a.C., e seu significado é incerto. O único texto que de fato menciona Lilith como primeira mulher de Adão é o Alfabeto de Ben Sirá, do século 7, que alguns consideram satírico, embora faça mesmo parte do Talmud judaico. Textos sagrados não são livros de história. Discutir o que "realmente" aconteceu no Éden é igual a discutir se Capitu traiu Bentinho: não há uma resposta.

Fontes:

Teoria da Conspiração: Lilith, a primeira mulher de Adão, foi apagada da Bíblia
 05/01/2016 11:26 -02 | Atualizado 26/01/2017 22:52 -02
Gabriela PortilhoMundo Estranho

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