A estrela de Daví foi gravada no alto e do lado direito do portal do mausoléu que atualmente se encontra abandonado, mas insiste em registrar a presença judaica em Nova Iguaçu (RJ)
Pelos caminhos de terra da Estrada Zumbi dos Palmares, é possível chegar às ruínas do cemitério dos senhores de engenho Nossa Senhora da Piedade, onde da igreja que ali existia resta apenas a torre sineira. Morro acima, cortado pelo mato, está localizado o famoso Cemitério dos Escravos da Freguesia da Piedade do Iguaçu, que durante muitos anos, serviu para enterrar escravos, indigentes e homens brancos (não católicos) no antigo centro da Vila Iguaçu.
O cemitério Nossa Senhora da Piedade foi desativado e o Cemitério dos Escravos atualmente abandonado, povoado por urubus e cães vira-latas que se alimentam das oferendas que são deixadas aos santos ou orixás no local pelos adeptos das religiões de matriz africana. O parque histórico é aberto à visitação.
Estrada Zumbi dos Palmares , s/n, Vila de Cava, Nova Iguaçu - RJ
Após se alimentarem das carcaças deixadas pelas oferendas, urubus pousam sobre a torre do ex-majestoso mausoléu judaico no Cemitério dos Escravos de Nova Iguaçu (RJ); que resiste ao tempo, descaso, vandalismo e abandono
. Prefeitura e INEPAC se unem por revitalização da Vila de Iguassú (5 de fevereiro de 2018)
Com o objetivo de resgatar e reconstruir a história de Nova Iguaçu, representantes da prefeitura e do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC) visitaram os principais pontos em que ainda se encontram ruínas da Vila de Iguassú (Iguaçu Velho, século XVIII), na região de Tinguá. A ideia foi discutir projetos de revitalização do local, que abriga a Fazenda São Bernardino, as torres da Igreja de Nossa Senhora da Piedade, o Cemitério dos Escravos, a Estrada Real do Comércio, o Antigo Porto, entre outros.
“Queremos, a partir desse encontro, formar um grupo de trabalho, com representantes do município, do estado e da inciativa privada. Com as ideias formadas, poderemos concretizá-las. Temos um potencial histórico muito rico, muito importante aqui. Sabemos que é um grande desafio, mas também sabemos que nossa atitude fará história. E o mais importante disso tudo, vamos resgatar a história do povo iguaçuano”, ressalta Fernando Cid, secretário de Meio Ambiente, Agricultura, Desenvolvimento Econômico e Turismo.
“Infelizmente, temos hoje pouco do patrimônio histórico de Nova Iguaçu. O que sobrou precisa ser recuperado e valorizado, e eu acredito na boa vontade dessa gestão. Se conseguirmos um bom projeto, tirá-lo do papel, traremos vida novamente à região. Vila de Iguassú seria um projeto piloto no Rio de Janeiro. Imagino aqui a Parati da Baixada Fluminense”, acrescenta o diretor geral do INEPAC, Marcus Antônio Monteiro Nogueira.
O Portal de entrada do Cemitério dos Escravos de Nova Iguaçu. O mausoléu judaico fica localizado no primeiro nível do terreno; à direita do portal
Além de fecharem a criação de um grupo de trabalho que estará focado no projeto de revitalização da Vila de Iguassú, o encontro resultará também na recuperação imediata da escadaria que dá acesso ao Cemitério dos Escravos. “A escadaria não precisa de projeto e sim de uma obra de manutenção. Vamos tentar viabilizar isso o quanto antes”, diz Ronaldo Grana, subsecretário de Urbanismo. “Essa escadaria foi feita com tijolos do século XVIII. É linda! Na Europa isso é cartão postal. Eu trouxe uns portugueses aqui e eles ficaram maravilhados. Ainda podemos vê-la, mas, cada vez que chove, os tijolos se desfazem. Precisamos agir”, completa Marcus Monteiro.
Também participaram da visitação o secretário de Cultura, Juarez Barrozo; e o presidente da Fundação Educacional e Cultural de Nova Iguaçu (FENIG), Miguel Robeiro.
As imagens do mausoléu judaico foram registradas no vídeo do Vloger Alexandre de Jesus, que postou as imagens no YouTube (detalhe)
. Fazenda São Bernardino:
Fundada em 1875, a Fazenda São Bernardino é uma das prioridades do município. A posse do imóvel de 16 mil metros quadrados foi dada à prefeitura pela 6ª Vara Cívil de Nova Iguaçu, em outubro de 2017. Após a posse, foi encaminhado projeto de revitalização para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), já que o local é tombado desde 1951, que precisa ser aprovado. A expectativa é que a aprovação saia este ano.
O projeto prevê a reconstrução de toda a estrutura física da fazenda, seguindo os conceitos arquitetônicos da época, em estilo neoclássico, incluindo a casa grande, senzala, engenho e terreiro, para transformar o local em um espaço multiuso para atividades culturais e artísticas.
O Cemitério dos Escravos atualmente abandonado, povoado por urubus e cães vira-latas que se alimentam das oferendas que são deixadas aos santos e orixás no local pelos adeptos das religiões de matriz africana
A fazenda histórica fica entre Vila de Cava e Tinguá, às margens da RJ-111, também chamada de Rodovia Federal. O espaço contava com cavalariças, garagem para carruagens, senzalas, habitações para escravos e engenhos de cana e mandioca. Pelo local também passava a extinta Estrada de Ferro Rio DOuro, que tinha uma estação com o nome de São Bernardino. A fazenda produziu café, açúcar, aguardente e farinha de mandioca, além de extrair madeira e exportar carvão. Foi destruída por um incêndio na década de 80 e ficou abandonada desde então.
Ativistas tentam resgatar a história de uma das cidades mais importantes da Baixada Fluminense, enquanto isso, a vegetação selvagem se prolifera pela área e consome o patrimônio histórico que ainda resta
. Vila de Iguassú:
Até o início do século XIX, Piedade do Iguaçu tornou-se o principal povoado da região. Ele se concentrava, principalmente, às margens dos rios, mas também se instalou nos entroncamentos das estradas. Piedade do Iguaçu cresceu ainda mais com a abertura da Estrada Real do Comércio, primeira via aberta no Brasil para o escoamento do café do interior do país.
Graças à Estrada Real do Comércio e às ótimas condições para a criação de um entreposto comercial, foi necessária a criação de um município. Em 15 de janeiro de 1833, portanto, foi criada a Vila de Iguaçu a partir de decreto assinado pelo regente Nicolau Pereira de Campos Vergueiro, em nome do imperador dom Pedro II. Em 29 de julho do mesmo ano, foi instalada a câmara dos vereadores, com sete representantes.
A área total da vila de Iguaçu era, à época de sua criação, de 1.305,47 km². Na sede, havia um quartel com uma cadeia anexa, a Câmara de Vereadores, o Fórum, casas comerciais e cerca de cem casas. Nos portos, eram embarcadas mercadorias em direção ao Rio de Janeiro. A população em 1879 era estimada em 21.703 pessoas, sendo 7.622 escravos.
. Fontes:
http://www.novaiguacu.rj.gov.br/2018/02/05/prefeitura-e-inepac-se-unem-por-revitalizacao-da-vila-de-iguassu/
http://mapadecultura.rj.gov.br/manchete/cemiterio-dos-escravos
https://www.youtube.com/watch?v=hiI-Foww1P4&t=403s
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