17 de março de 2019

SEPULTAMENTO JUDAICO & PERGUNTAS FREQUENTES


Um dos mais antigos cemitérios israelitas do Brasil em Belém (PA)

Da mesma forma que existe um modo de vida judaico, existem, também, rituais a serem seguidos por ocasião da morte.Quando morre um judeu, os familiares devem providenciar seu enterro rapidamente. De acordo com as leis mosaicas, o corpo deve ser sepultado logo que for possível, de preferência no mesmo dia da morte e, também, enquanto houver luz natural: Seu cadáver não poderá permanecer ali durante a noite, mas tu o sepultarás no mesmo dia (Deuteronômio 21:23). Enquanto o morto permanecer insepulto, a sua alma não ficará em repouso. Ela só descansará quando o corpo for enterrado.



Cemitério israelita de Vilar dos Teles em São João de Meriti (RJ)

Portanto, adiar o sepultamento, sem motivo justo, é um desrespeito ao morto e uma interferência nos planos do Criador. O enterro é postergado nas seguintes ocasiões: 1. quando alguém morre no Yom Kipur (o Dia do Perdão); e 2. quando a morte ocorre em uma sexta-feira à noite, início do Shabat (o Dia do Descanso Semanal). No primeiro caso, o enterro é realizado no dia seguinte. E, no segundo caso, o sepultamento só ocorre no anoitecer do sábado, ou quando surge a primeira estrela no céu. Excetuando-se essas duas ocasiões, tolera-se adiar o enterro, ainda, quando se aguarda a chegada de parentes que estão distantes; ou quando os familiares transportam o corpo para ser enterrado em Israel.

Segundo a religião judaica, preparar o morto para o sepultamento é um cerimonial de grande relevância, porque o corpo aloja a alma e, por essa razão, deve ser mantido muito limpo. O cemitério, por sua vez, é denominado Beit Haolam, que significa, na língua hebraica, Casa do Mundo ou Casa da Eternidade.

Com o advento da morte, a alma, que até então estava abrigada no corpo, inicia uma dolorosa separação do mesmo. Tal processo se dá conforme vai ocorrendo a decomposição. Quando o corpo é sepultado na terra, ele se desintegra lentamente, o que é confortante para a alma. Corpo e alma são entidades que permanecem interligadas após a morte, e o processo de desligamento não é imediato. A alma continua em contato com o corpo, mesmo depois do enterro, e ainda compartilha de todas as suas sensações. A decomposição, portanto, é um processo fundamental e benéfico para a alma. Por isso, os preceitos mosaicos proíbem a cremação já que esta implica na súbita separação artificial entre corpo e alma. Como diz o Talmud: O enterro não é para o bem dos vivos, mas sim para o dos mortos (Sanhedrin 47a).

Além disso, a religião judaica ressalta que um único osso, localizado na parte posterior do pescoço, jamais se decompõe. E é a partir desse osso - denominado osso luz - que o corpo será reconstruído na futura Era Messiânica, quando todos os mortos serão ressuscitados. Em razão disso, a cremação do corpo não é aceita; já que a ressurreição é uma crença fundamental do judaísmo, conforme expresso por Maimônides, em seus Treze Princípios da Fé.
Quando morre um judeu, a família deve avisar à Chevra Kadisha - uma Sociedade Funerária ou Comitê Fúnebre encarregado de preparar o morto e conduzir o cerimonial do enterro. Esse Comitê também se encarrega de administrar o cemitério. Via de regra, as primeiras providências tomadas são as seguintes: 1. estirar os braços do morto ao longo do corpo (os braços nunca podem ser cruzados); 2. fechar os seus olhos; 3. retirar todos os adornos que esteja usando (brinco, relógio, pulseira, anel, peruca, dentadura postiça, óculos, esmalte nas unhas, batom, próteses removíveis, e outros); e 4. cobrir o corpo todo, dos pés à cabeça, com um lençol branco, de algodão ou de linho.

Depois de se cobrir o corpo, ninguém mais pode vê-lo: nem mesmo os próprios filhos, parentes ou amigos. Não é permitido observar a sua desintegração. Olhar o cadáver é uma violação ao princípio de kevod ha'met (o respeito aos mortos), representando um desrespeito à pessoa que viveu, e significa limitar a morte, apenas, aos aspectos físicos. Espera-se que todos conservem, na memória, a imagem da pessoa em vida, sendo isto um passo para que o falecido possa alcançar a dimensão espiritual.

Todos os enterros judeus são sempre idênticos. O caixão é feito com um tipo de madeira simples, o mínimo dispendioso possível (em geral, tábuas de pinho, que se deterioram facilmente), forrado com um tecido preto e, na parte superior, é colocada a Estrela de Davi com as iniciais do morto. Somente isso! Nenhum outro adereço, como coroa de flores, velas ou caixões suntuosos, é permitido. Segundo o judaísmo, as pessoas vêm do pó e voltam ao pó. Toda e qualquer ostentação nos funerais é interditada. Como ninguém nasce com adornos, também não pode ser sepultado com eles: precisa partir com a maior simplicidade possível: Portanto, se, em vida, aquela pessoa era rica, na morte, receberá o mesmo tratamento que a pobre. Dessa maneira, pelo menos na morte, ricos e pobres se igualam.

. Perguntas frequentes:

1. Qual o sentido das preces e Salmos?

O sentido é de conforto duplamente, tanto para a alma do falecido, despertando misericórdia superior para com ele, assim como para os membros da família e amigos, os quais conseguem enxergar um raio de luz no meio da aflição que seus sentimentos estão provocando.

2. Qual o simbolismo do corte da roupa?

Demonstrar que não somos alheios à dor e que esta nos gera marcas verdadeiras e que simbolizamos com o rasgar da roupa, o qual traz para a fora uma mostra do nosso eu interior sem “roupagens” e na altura do peito, de onde todo ser vivo foi criado em respeito a Chava (Eva), que veio da costela de Adam (Adão) e que foi Mãe de todo ser humano, significando que um ente querido foi arrancado do seio da família.

3. Por que se faz um discurso sobre o(a) falecido(a)?

Porque esta última homenagem é muito querida para ele e no Céu provoca misericórdia sobre a alma que parte e consolo sobre os entes que ficam, sendo que, nos dias semifestivos ou na véspera de shabat e festas judaicas não é realizado.

4. Por que enterrar no solo?

Está escrito na Torá de do pó fostes criado e ao pó voltarás;

5. É permitido cremar ou depositar os ossos em ossuários?

Pela lei judaica não permitido fazer nada com o corpo do falecido a não ser devolvê-lo à terra, pois o corpo não é considerado nosso e se não um empréstimo do criador enquanto estamos nesse mundo material.

6. Por que vestir o morto conforme o costume de tachrichim?

Porque está escrito que “estarás puro e Te guardarei até o dia, quando Te levantarei e darei a minha recompensa…”, deste versículo os nossos sábios estudam que as pessoas ressuscitarão e, portanto, não devem estar de forma a se envergonhar.

7. Porque o morto recebe alguns objetos característicos, tais como pedra/terra sobre os olhos, boca e genitais, e ainda ramos de árvore dentro das mãos?

As pedras/terra que são colocadas sobre os olhos, boca e genitais servem para simbolizar que ele recebeu sobre si a decisão Divina e que não tem nada a questionar, e os galhos colocados nas mãos entreabertas simbolizam que ele acredita na ressurreição.

8. Porque se deve enterrar sem o uso do caixão?

Porque está escrito que “ao pó voltarás” e é preferível observar de forma mais estrita essa afirmação, porém, em certos municípios, as leis sanitárias não permitem isto.

9. Então, é permitido enterrar com caixão?

Sim, sendo que os sábios autorizaram esta prática para que não haja problemas com as leis dos governos locais, desde que se observe o perfurar do caixão em determinados locais, fazendo com que esse não seja considerado uma separação entre o corpo e a terra.

10. E a Terra de Israel, para que serve?

Está escrito nos profetas que “a terra de Israel traz expiação sobre as transgressões de uma pessoa”, sendo que ao morrer, coloca-se um pouco de terra debaixo da nuca da pessoa, onde fica o osso (chamado “luz”) considerado único osso que não se decomporá, de forma que a expiação possa ser aceita e que não haja maiores sofrimentos até a hora da ressurreição.

11. Por que a sepultura é funda?

Porque se sabe que até certa medida mínima tudo o que ocorre acima do falecido poderia vir a incomodar seu descanso.

12. Por que somente judeus, e de preferência amigos, devem cobrir a sepultura de terra?

Porque o falecido fica mais feliz ao ver que as pessoas queridas a ele foram aquelas que se “despediram por último”.

13. Por que não se passa a pá de mão em mão?

Para que não pareça que estamos fazendo um trabalho com alegria e que coisas relacionadas ao luto não se passam à mão de outrem.

14. Por que se fala certos Pessukim em certos momentos da cerimônia?

Porque é sabido que a alma ainda se encontra em grande sofrimento ao ver que sua antiga morada está em uma forma um pouco além do que o seu antigo jeito e nossos sábios viram que esses Pessukim trazem conforto e inspiração a o novo caminho que a alma vai trilhar a partir deste momento. Além de lembrar e consolar aos que entrarão em período de luto que está é apenas uma parada temporária para um momento maior que ainda está por vir, quando novamente levantarão e não haverá mais morte e nem sofrimento na época messiânica.

15. Por que não se deve passar sobre outras sepulturas e apenas contorná-las?

Para que não desrespeitemos algum falecido que descansa naquela sepultura.

16. Qual o simbolismo do consolo pelas duas filas?

A pessoa ter em mente que é possível acontecer para qualquer e a qualquer momento algo triste e que devemos ser solidários e amparar da melhor forma possível, sendo que a forma de agrupamento significa que nos colocamos a disposição para auxiliar e dividir e isto torna mais o “carregar/aceitar” deste sentimento de tristeza, desamparo, sofrimento inicial que nos acomete.

17. Qual o sentido da lavagem das mãos no fim da cerimônia?

Para que simbolizemos que estamos isentos de responsabilidade com relação aos falecidos que ficam no cemitério, além do aspecto de higiene, pois o cemitério é considerado um local de impurezas. Além disso, a água simboliza a vida, portanto, é uma forma de demonstrar que a vida suplanta a morte.

18. Por que não pode visitar outras sepulturas quando se vai a um sepultamento?

Porque não se deve fazer crer que um falecido não merece toda a honra quando deixa este mundo e que tiramos proveito de sua morte.

19. Costumes de escrita hebraica sobre as Pedras Tumulares – Matzeivot:

Além do nome em hebraico, é comum as lápides terem alguma citação quanto a data de nascimento e falecimento e também os locais de nascimento e falecimento. Eventualmente, quando era uma pessoa importante, então se transcreve alguma citação do Tanach. Porém, nas lápides novas, com a dimensão bastante reduzida, não é comum escrever mais do que o básico acima.
Não temos o costume de afixar fotos nas sepulturas, assim como não temos o costume de fazermos alguma escultura sobre a lápide. Há ainda aqueles que escrevem o nome do falecido e de seu pai e mãe e nome de família em hebraico ao invés da simples linha do nome ben/bat nome. 

. Fonte:

Associação Cemitério Israelita de São Paulo. Ajudando a manter acesa a chama da comunidade.

http://chevrakadisha.org.br/religiao-costumes-e-tradicoes/perguntas-frequentes/

http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=255:enterro-judeu-&catid=40:letra-e

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