A palavra Tanach é um acrônimo formado pelas iniciais das suas três principais divisões: Torá (Pentateuco), Nevi’im (Profetas) e Ketuvim (Escritos)
O Tanach é o texto central do Judaísmo, constituindo a coleção de obras que formam a base da tradição religiosa judaica. A palavra Tanach é um acrônimo formado pelas iniciais das suas três principais divisões: Torá (Pentateuco), Nevi’im (Profetas) e Ketuvim (Escritos).
A Torá, também conhecida como Pentateuco, é composta pelos livros Gênesis (Bereshit), Êxodo (Shemot), Levítico (Vayikrá), Números (Bamidbar) e Deuteronômio (Devarim).
Nevi’im, os Profetas, representa a segunda seção do Tanach. Inclui os Primeiros Profetas (Nevi’im Rishonim) - Josué (Yehoshua), Juízes (Shoftim), Samuel (Shmuel) e Reis (Melachim) - e os Últimos Profetas (Nevi’im Acharonim) - Isaías (Yeshayahu), Jeremias (Yirmiyahu), Ezequiel (Yechezkel) e os Doze Profetas Menores (Trei Asar).
Ketuvim, ou os Escritos, é a terceira e última seção do Tanach, composta por uma coleção diversificada de livros sagrados. Essa seção inclui: Salmos (Tehilim), Provérbios (Mishlei), Jó (Iyov), Cântico dos Cânticos (Shir HaShirim), Ruth (Rut), Lamentações (Eichá), Eclesiastes (Kohelet), Ester, Daniel, Ezra e Nechemiá, e Crônicas (Divrei HaYamim).
Juntas, essas três divisões compõem o texto integral do Tanach, a fonte sagrada e autoritativa das leis religiosas, ensinamentos e história antiga do Povo Judeu. O Tanach foi estabelecido em sua forma final pelos Homens da Grande Assembleia (Anshei Knesset Ha-Guedolá), sob a orientação de Ezra, pouco antes do fim do período profético.
Cento e vinte grandes sábios, incluindo profetas, formaram a Grande Assembleia. Entre os membros da Anshei Knesset Ha-Guedolá estavam Mordechai (o protagonista da história de Purim), Daniel (cuja história é narrada em um dos livros do Tanach), os profetas Chagai, Zechariá e Malachi (cujas profecias fazem parte de um dos Livros dos Profetas – Trei Asar), além de Ezra e Nechemiá (cujos livros estão presentes em Ketuvim).
Ezra, o Escriba – Ezra HaSofer – liderou a Grande Assembleia. Ele conduziu a segunda onda de judeus que retornaram da Babilônia para a Terra de Israel, desempenhando um papel fundamental no renascimento religioso do Povo de Israel no início da era do Segundo Templo de Jerusalém.
Com o objetivo de assegurar que nenhum charlatão pudesse reivindicar falsamente uma revelação Divina e desviar o Povo de Israel, a Anshei Knesset Ha-Guedolá selou o Tanach. A partir desse momento, nenhum material poderia ser acrescentado ou removido. A Grande Assembleia foi responsável por decidir quais escritos seriam incluídos no Tanach e quais seriam excluídos. Além disso, essaAssembleia estabeleceu a ordem precisa dos livros no Tanach.
O Tanach é um cânone selado, do qual nada pode ser adicionado ou subtraído. Embora tenha sido originalmente destinado apenas ao Povo Judeu, o mesmofoi aceito por uma grande parcela da humanidade, constituindo um pilar central da civilização ocidental.
Os Cinco Livros da Torá
A palavra Toráé frequentemente utilizada para se referir ao conjunto de textos religiosos judaicos, que inclui o Tanach, o Talmud(Mishná e Guemará), o Midrash, a Cabalá e as obras e comentários escritos por nossos Sábios. Contudo, a definição mais precisa da palavra Toráé o Pentateuco (Chamishá Chumshei Torá), também conhecido como os Cinco Livros de Moshé – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.
O primeiro livro da Torá, Gênesis (Bereshit), discorre sobre a criação do mundo por D’us, a história de Adão e Eva e a linhagem dos seus descendentes, além dos relatos de Noé e o Dilúvio e ainda a Torre de Babel. Posteriormente, o livro Bereshit descreve as origens do Povo de Israel por meio das histórias de seus Patriarcas – Avraham, Yitzhak e Yaacov (cujo nome também era Israel) – e de suas Matriarcas – Sara, Rivca, Rachel e Leah. No decorrer do livro Gênesis, aprendemos como o patriarca Jacob teve 12 filhos, que deram origem às 12 Tribos de Israel. O primeiro livro da Torá conclui com a extraordinária história de José (Yossef HaTzadik, o Justo), que se torna o governante de fato do Egito, o que leva seu pai – o nosso patriarca Yaacov – e sua família a se estabelecerem no Egito.
O segundo livro da Torá, Êxodo (Shemot), descreve a escravidão dos Filhos de Israel no Egito, a trajetória de nosso mestre Moisés, Moshé Rabenu, as Dez Pragas, o Êxodo, a divisão do Mar dos Juncos, a Revelação Divina e entrega dos Dez Mandamentos no Monte Sinai, bem como a construção do Tabernáculo (o Mishkan).
O terceiro livro da Torá, Levítico (Vayikrá), concentra-se em leis e rituais. Alguns dos temas centrais desta obra são as oferendas realizadas no Tabernáculo (e, posteriormente, no Templo Sagrado de Jerusalém), alimentos permitidos e proibidos, pureza e impureza espiritual, o Shabat e as festas religiosas. Diferentemente dos dois primeiros livros da Torá, Levítico apresenta relativamente poucas narrativas.
O quarto livro da Torá, Números (Bamidbar), narra a jornada dos Filhos de Israel pelo deserto, rumo à Terra Prometida. Este livro compõe-se de uma mistura de narrativas e leis, salientando a importância da fidelidade e obediência a D’us. Neste livro encontramos as histórias dos Doze Espiões, a rebelião de Corach e seus seguidores, a tentativa fracassada do profeta Bilaam de amaldiçoar o Povo de Israel e que, ao contrário, resultou em bênçãos, além dos relatos de batalhas travadas pelo exército do Povo de Israel a caminho da Terra de Israel.
O quinto e último livro da Torá, Deuteronômio (Devarim), é apresentado como discursos proferidos por Moshé pouco antes de seu falecimento, enquanto os Filhos de Israel se preparavam para entrar na Terra Prometida. O livro Deuteronômio elucida algumas das leis presentes nos livros anteriores e introduz outras novas. E conclama os Filhos de Israel a permanecerem fiéis a D’us e à Sua Torá, aderindo aos Seus mandamentos, ao adentrarem na Terra de Israel.
A Autoria Divina da Torá
Existem diferenças significativas entre os Cinco Livros da Torá e as outras duas divisões do Tanach – os Profetas (Nevi’im) e os Escritos (Ketuvim). A distinção fundamental é que apenas a Torá – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio – foram escritos por D’us, letra por letra.
De fato, conforme codificado por Maimônides (o Rambam), um dos fundamentos do Judaísmo é que D’us ditou cada palavra da Torá a Moshé. A Torá é conhecida como os Cinco Livros de Moshé não porque ele os tivesse escrito, mas porque ele os transcreveu, transmitiu e ensinou ao Povo de Israel. Como ressalta Maimônides, uma pessoa que nega a origem Divina de mesmo uma única palavra da Torá é considerada incrédula e não terá sua parte no Mundo Vindouro. Assim, acreditar que Moshé escreveu a Torá constitui um grave erro. Na realidade, D’us ditou todas as letras da Torá a ele, que as registrou. Moshé atuou como um escriba que transcreveu um ditado. Inclusive o quinto livro da Torá, Deuteronômio, que se lê como o testemunho de Moshé, foi escrito por expresso mandamento de D’us. O Todo-Poderoso ditou o livro como se o próprio Moshé estivesse se dirigindo ao povo.
Como cada letra dos Cinco Livros da Torá é de autoria Divina, as próprias letras – não apenas o significado das palavras que elas formam – revelam a vontade de D’us. Esta é, de fato, uma das características singulares da Torá, que a diferencia de todas as outras obras sagradas judaicas. Ou seja, a santidade da Torá reside nas próprias letras do texto. Conforme exposto por Nachmânides (o Ramban), todos os Cinco Livros da Torá soletram Nomes de D’us. A Torá é um livro de narrativas e leis. No entanto, é também uma sequência dos Nomes de D’us – combinações e permutações dos Nomes Divinos. Portanto, os Cinco Livros da Torá são, em essência, pura Divindade e constituem o projeto do universo que D’us utilizou para criar e sustentar nosso mundo. As letras dos Cinco Livros da Torá formam um código extenso de Nomes Divinos que contém todos os segredos do universo.
Ao contrário da Torá, os outros livros do Tanach não são de autoria Divina. Os Livros dos Profetas, Nevi’im, foram escritos por profetas e a terceira divisão do Tanach, Ketuvim (Escritos), foi escrita por meio de profecia e inspiração Divina. Ao contrário dos Cinco Livros da Torá, nem os Profetas nem os Escritos foram escritos por D’us. Essa é uma das razões pelas quais um Sefer Torá – um rolo da Torá, objeto mais sagrado do Judaísmo – é constituído apenas pelos Cinco Livros de Moshé. A santidade dos Cinco Livros da Torá é incomparavelmente superior à das demais obras do Tanach.
O fato de somente os Cinco Livros da Torá terem sido escritos por D’us não se configura apenas como um conceito espiritual ou esotérico: possui consequências e ramificações práticas. Uma delas é que a Lei Judaica deve estar fundamentada nos Cinco Livros da Torá. Exceto por alguns mandamentos rabínicos, como aqueles referentes à festa de Purim (uma festa rabínica), todas as leis do Judaísmo derivam dos Cinco Livros da Torá. Como exemplificado e elucidado pelo Sefer HaChinuch (O Livro das Mitsvot), todos os 613 Mandamentos do Judaísmo estão contidos nos Cinco Livros da Torá.
Uma vez que somente os Cinco Livros da Torá são de pura autoria Divina, sua autoridade é incontestável. Cada uma de suas letras, palavras e versos é inalterável e inquestionável. Nenhum ser humano – nem mesmo o maior dos profetas – tem o poder de modificar um único detalhe da Torá e nenhum outro livro do Tanach detém mais autoridade do que a Torá. Isso implica em que nenhum versículo ou passagem de qualquer outro livro do Tanach pode revogar, alterar ou negar qualquer verso ou lei dos Cinco Livros da Torá. De fato, os livros Nevi’im e Ketuvim não possuem a capacidade de servir como fontes da Lei Judaica, exceto para alguns mandamentos rabínicos e tradições judaicas. Portanto, não é surpreendente que a quase totalidade da Torá Oral – a Mishná e a Guemará (que constituem o Talmud) e a maioria dos Midrashim – se dediquem quase integralmente aos Cinco Livros da Torá.
Os Livros dos Profetas (Nevi’im)
Nevi’im, ou Livros dos Profetas, formam a segunda das três divisões principais do Tanach. Diferentemente dos Cinco Livros da Torá, os Livros dos Profetas não abordam a Lei Judaica. Em vez disso, consistem em narrativas históricas, profecias e ensinamentos voltados à relação entre D’us e o Povo de Israel. Os profetas eram mensageiros cuja responsabilidade era transmitir as mensagens Divinas que recebiam ao Povo de Israel e, em alguns casos, a outras nações.
Os Livros dos Profetas são divididos em duas subseções: os Primeiros Profetas (Nevi’im Rishonim) e os Últimos Profetas (Nevi’im Acharonim). Quatro obras compõem os Primeiros Profetas: Josué (Yehoshua), Juízes (Shoftim), Samuel (Shmuel) e Reis (Melachim). Outros quatro livros constituem os Últimos Profetas: Isaías (Yeshayahu), Jeremias (Yirmiyahu), Ezequiel (Yechezkel) e os Doze Profetas Menores (Trei Asar).
O Livro de Josué (Yehoshua), o primeiro livro dos Profetas, trata principalmente do processo de ocupação da Terra de Israel, a Terra Prometida, pelos Filhos de Israel – desde a travessia do Rio Jordão até a conquista da Terra e sua subsequente divisão entre as Tribos de Israel.
O segundo livro dos Profetas, o Livro dos Juízes (Shoftim), aborda eventos que ocorreram desde a entrada do Povo de Israel na Terra de Israel até o estabelecimento da monarquia judaica. Durante o período dos Juízes, outras nações atacaram uma ou mais Tribos de Israel, subjugando-as e as oprimindo. Nesse contexto, surgiram Juízes – heróis judeus como Gideon (Gidon) e Sansão (Shimshon) – para libertar os judeus de seu sofrimento.
O terceiro livro dos Profetas, o Livro de Samuel (Shmuel), narra eventos que ocorreram durante o período de transição da era dos Juízes para a da monarquia centralizada. Esse livro retrata uma ampla gama de eventos históricos e abrange as histórias do profeta Samuel (Shmuel HaNavi), do Rei Saul (Shaul HaMelech) – o primeiro rei judeu – e de seu sucessor, o Rei David. O Livro de Shmuel descreve as ações, desafios e triunfos do Rei David, incluindo o estabelecimento de um reino judeu unificado com Jerusalém como sua capital.
O quarto livro dos Profetas, Reis (Melachim), constitui a última obra dos Nevi’im Rishonim – os Primeiros Profetas. Esse livro narra a história do Povo de Israel desde os últimos dias do Rei David até o exílio dos Filhos de Israel para a Babilônia, após a destruição do Primeiro Templo Sagrado de Jerusalém. O Livro dos Reis detalha o reinado do Rei Salomão (Shlomo HaMelech) – incluindo a construção do Primeiro Templo Sagrado de Jerusalém (Beit HaMikdash) – e a subsequente divisão do seu reino em dois estados: Judá (Yehudá) e Israel.
Os Últimos Profetas (Nevi’im Acharonim)
Enquanto os livros dos Primeiros Profetas combinam narrativas históricas com relatos proféticos, as quatro obras quecompõem os Últimos Profetas (Nevi’im Acharonim) registram, predominantemente, as profecias, ensinamentos e mensagens de alguns dos mais destacados profetas na história judaica.
Nossos Sábios apontam que há 48 profetas e sete profetisas mencionados no Tanach. Certamente, muitos outros profetas viveram na antiga Israel e, provavelmente, escreveram outros livros para transmitir as mensagens Divinas que receberam. Contudo, os Homens da Grande Assembleia (Anshei Knesset Ha-Guedolá), encarregados da canonização do Tanach, selecionaram apenas os livros que continham profecias de relevância para as gerações futuras. Os livros que compõem os Últimos Profetas são Isaías, Jeremias e Ezequiel – conhecidos como os Profetas Maiores – e um quarto livro, Trei Asar – que, em aramaico, significa “Os Doze” – que engloba os Doze Profetas Menores.
O Livro de Isaías contém profecias que abrangem múltiplos temas e um período significativo da história. O foco das profecias de Isaías é o reino de Judá e sua capital, Jerusalém. Contudo, ele também profetizou sobre Israel – um reino à parte durante a sua época – bem como sobre outras nações e o mundo como um todo. Grande parte de suas profecias é voltada para a Era Messiânica.
O Livro de Jeremias é repleto de profecias referentes à devastação do Templo Sagrado de Jerusalém. O profeta presenciou o declínio do Reino de Judá, a subsequente destruição do Templo e o exílio dos habitantes de Jerusalém. Por conta disso, a maior parte de seu livro consiste em admoestações e profecias de destruição. Entretanto, o livro de Jeremias também contém diversas profecias de consolo para o futuro, nas quais o profeta descreve uma ligação harmoniosa e o amor incondicional entre D’us e o Povo de Israel.
O Livro de Ezequiel é notável por suas imagens vívidas e simbolismo profundo. As profecias presentes no livro ocorreram em um período que se estende desde alguns anos antes até vários anos após a destruição do Templo de Jerusalém. A primeira parte do Livro de Ezequiel é dominada por admoestações ao Povo de Israel por suas transgressões, tanto passadas quanto presentes, acompanhadas por descrições das punições que enfrentariam por causa desses pecados. A seção final do Livro, por sua vez, traz profecias sobre a redenção do Povo de Israel, a reconstrução de Jerusalém e a edificação do terceiro Templo de Jerusalém, que será eterno.
O último livro dos Profetas é conhecido como os Doze Profetas Menores. Ainda que essa coleção de profecias constitua um único livro no Tanach, isso não implica uniformidade de conteúdo ou estilo. Trata-se, na verdade, de uma coletânea de obras proféticas concisas. Os Doze Profetas – Hoshea (Oseias), Yoel (Joel), Amós, Ovadia (Obadias), Yoná (Jonas), Michá (Miquéias), Nachum (Naum), Chabakuk (Habacuque), Tzefaniáh (Sofonias), Chagai (Ageu), Zechariá (Zacarias) e Malachi (Malaquias) – não são menos importantes que Isaías, Jeremias e Ezequiel, mas seus escritos são menos extensos. Devido à brevidade de cada um desses 12 livros, eles são agrupados em uma única obra. No entanto, Trei Asar contém algumas das profecias mais impactantes do Tanach, expressas por meio de metáforas sofisticadas e linguagem dramática.
Ketuvim (Escritos Sagrados)
Ketuvim, os Escritos, representam a terceira e última seção do Tanach. Cada um de seus livros possui uma importância fundamental para o Judaísmo, razão pela qual foram todos incluídos no Tanach pelos Homens da Grande Assembleia. Os livros que formam os Ketuvim são os seguintes:
O Livro dos Salmos (Tehilim) é uma obra fundamental do Tanach. A relevância deste livro se deve, em grande parte, ao fato de que a liturgia judaica – as preces recitadas durante os dias de semana, o Shabat e as Festas Judaicas – são amplamente extraídas do Livro de Tehilim. A maior parte dos Salmos foi escrita pelo Rei David, que também foi responsável por coletar e organizar este livro, mesmo que nem todos os Salmos sejam de sua autoria. Reverenciado por judeus, cristãos e muçulmanos, Tehilim tem servido, ao longo dos milênios, como fonte de inspiração, ânimo e conforto para inúmeras pessoas, sejam elas judias ou não.
O Livro dos Provérbios (Mishlei) foi escrito pelo Rei Salomão (Shlomo HaMelech) – filho e sucessor do Rei David. O Rei Salomão, conhecido como o homem mais sábio que já existiu, reuniu neste livro uma série de provérbios e parábolas repletas de sabedoria. Embora à primeira vista os ensinamentos deste livro possam parecer simples, nossos Sábios se dedicaram, geração após geração, ao estudo e à interpretação desses textos, buscando extrair sua profunda sabedoria e aplicá-la na vida prática.
O Livro de Jó (Iyov) é uma obra profunda que explora a complexidade da justiça Divina ao refletir sobre o sofrimento humano, mais especificamente, o sofrimento do próprio Jó. A temática central deste livro se debruça sobre uma das questões teológicas mais desafiadoras e enigmáticas: a razão pela qual indivíduos bons e justos enfrentam adversidades e sofrimentos.
O Cântico dos Cânticos (Shir HaShirim) é uma obra profundamente apreciada, escrita pelo Rei Salomão. Este livro singular emprega a metáfora do amor matrimonial para ilustrar a relação entre D’us e o Povo de Israel. O Cântico dos Cânticos ocupa um lugar especial no Tanach, sendo um dos seus textos mais venerados. Devido a essa estima, muitas comunidades judaicas, em particular as sefarditas, incorporam a sua recitação como parte das cerimônias de recebimento do Shabat.
Ruth (Rut): Este livro do Tanach narra a trajetória dessa mulher moabita que, em um ato de fé e coragem, se converte ao Judaísmo e se casa com Boaz. Sua história adquire uma dimensão ainda maior quando ela se torna a bisavó do Rei David, estabelecendo assim a linhagem da qual, segundo as profecias, descenderá o Mashiach.
Lamentações (Eichá): Este livro, uma obra comovente escrita pelo profeta Jeremias, expressa a angústia pela destruição do Primeiro Templo Sagrado de Jerusalém e detalha o profundo sofrimento vivenciado pelo Povo Judeu durante aquele período traumático, que culminou no exílio. O Livro das Lamentações é lido em Tishá b’Av – nono dia do mês judaico de Menachem Av – a data que marca o aniversário da destruição do Templo Sagrado.
Eclesiastes (Cohelet): O Rei Salomão, autor de três influentes livros do Tanach – Provérbios, Cântico dos Cânticos e Eclesiastes – deixou um legado profundo por meio de suas escrituras. Em Eclesiastes, encontramos as reflexões do rei sobre a vida, nas quais ele investiga o verdadeiro propósito da existência humana. Este livro nos convida a buscar uma vida significativa, livrando-nos das trivialidades e futilidades que podem nos desviar do caminho.
Esther (Meguilat Esther): Este conhecido livro do Tanach, lido durante a noite e o dia da festa de Purim, descreve a nefasta trama de Haman, o primeiro-ministro do Império Persa, para exterminar todo o Povo Judeu. Ademais, retrata o triunfo de Mordechai e Esther ao frustrar esses planos sinistros. O livro culmina com a instituição da celebração de Purim, marcando uma vitória extraordinária que continua a ser comemorada até os dias atuais.
Daniel: Este é um dos textos mais enigmáticos do Tanach, singular por conter seções não apenas em hebraico, mas também em aramaico. O Livro de Daniel relata as vivências deste profeta e seus companheiros – Chanania (Hananias), Mishael (Misael) e Azariah (Azarias) – nas cortes imperiais da Babilônia e da Pérsia, além de revelar diversas profecias atribuídas a Daniel. Uma das temáticas centrais desta obra é a forma como os judeus santificam o Nome de D’us, mesmo estando exilados da Terra de Israel.
Ezra e Neemias (Ezra-Nechemia): Estes dois livros, frequentemente unidos no Tanach, retratam um período crucial da história judaica, marcado pelo início da era do Segundo Templo Sagrado de Jerusalém, sob a liderança de Ezra, o Escriba. Os livros de Ezra e Neemias descrevem o retorno à Terra de Israel dos judeus exilados na Babilônia, a construção do Segundo Templo Sagrado e a revitalização da comunidade judaica em Jerusalém sob a direção desses dois líderes. É importante ressaltar que o Livro de Neemias, apesar de estar unido ao Livro de Ezra, é reconhecido como uma obra independente dentro do Tanach.
Crônicas (Divrei HaYamim): O Livro das Crônicas, que representa a última obra de Ketuvim e, de fato, de todo o Tanach, é uma narrativa escrita por Ezra, o Escriba. Esta obra abrange um vasto período, registrando eventos desde a Criação do mundo até o retorno dos judeus exilados na Babilônia à Terra de Israel.
O livro mais influente da história
Não surpreende que o Tanach – uma obra sagrada, escrita por D’us, por Seus Profetas, ou por meio da inspiração Divina, seja o livro de maior influência na história da humanidade. Além de ser o texto central do Judaísmo, o Tanach também constitui a primeira parte da Bíblia Cristã e teve uma influência decisiva sobre o Corão – o texto religioso central do Islã – que incorpora alguns de seus relatos, ainda que sob uma perspectiva islâmica.
Nós, o Povo de Israel, somos privilegiados, pois D’us nos escolheu entre todas as nações para nos presentear com o Tanach. Portanto, cabe a todo judeu se empenhar no estudo destes livros sagrados. Graças ao seu escopo e profundidade, particularmente as camadas infinitas de significados contidas nos Cinco Livros da Torá, o aprendizado desta obra sagrada implica em uma jornada sem fim. O Tanach constitui uma fonte inexaurível de pura Divindade, riqueza espiritual, sabedoria, inspiração, ensinamentos e orientações. Como expressou o Salmista, as palavras do Tanach são verdadeiramente “mais desejáveis que o ouro, sim, do que muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o que goteja dos favos” (Salmo 19:11).
Bibliografia
Steinsaltz, Rabbi Adin Even-Israel, The Steinsaltz Neviim, Koren Publishers, Jerusalém
Steinsaltz, Rabbi Adin Even-Israel, The Steinsaltz Ketuviim, Koren Publishers, Jerusalém
Kaplan, Rabbi Aryeh, Handbook of Jewish Thought, Maznaim Publishing Corporation
Dubov, Nissan Dovid, General Jewish Knowledge: Learn the Basics, https://www.chabad.org/library/article
. Fonte:
Revista Morashá - Edição 119 - Junho de 2023
http://www.morasha.com.br/leis-costumes-e-tradicoes/o-que-e-o-tanach.html
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