20 de outubro de 2023

"NÃO POSSO ME DESESPERAR, OU ENTÃO VOU MORRER", DIZ BRASILEIRO CONVOCADO PARA GUERRA EM ISRAEL


O carioca Felipe Altschuller, de 34 anos, vive em Israel desde 2009 e foi convocado para lutar na região Norte do país, na fronteira com o Líbano

Depois de uma madrugada de trabalho, o brasileiro Felipe Altschuller, de 34 anos, esperava a chaleira elétrica apitar para passar um café quando começou a ouvir explosões. Morador da cidade Beer Sheva, ao Sul de Israel, a cerca de meia hora da Faixa de Gaza, foi até a janela e logo imaginou se tratar de algo grave. Como seu apartamento não tem um quarto blindado, rumou para as escadas do prédio, o local mais seguro para se abrigar. Mais tarde, depois que as sirenes cessaram, recebeu uma mensagem de seu comandante. Estava convocado para lutar na guerra contra o Hamas.

"Tenho uma mochila pronta, com produtos de higiene pessoal, remédios, uniformes e um casaco reforçado. Aqui pode estourar uma guerra a qualquer momento, estamos sempre preparados", disse Felipe.

Educado em escola judia no Rio de Janeiro, Altschuller emigrou para Israel em 2009, "como um jovem idealista e sionista", seguindo o mesmo caminho de amigos. Casou-se no país, teve um filho e se separou. Serviu no Exército entre 2011 e 2013 e hoje é integrante da reserva. Todo ano, passa por treinamentos de reciclagem com soldados de um mesmo batalhão, de faxineiro a funcionário de empresa de alta tecnologia.
 
"No Exército, todos somos iguais. Todo mundo é amigo, todo mundo se respeita", ressalta. Trabalha como fiscal numa empresa de segurança e tem dupla cidadania: "carioca e israelense", brinca.


No sábado (7), início da guerra, Altschuller viajou até o Norte do país, na fronteira com o Líbano, região destinada ao batalhão a que pertence. Por questões estratégicas, não deu detalhes sobre o pelotão e pediu para não ter sua foto divulgada. Apenas contou que os ataques são diários, e que num deles os tiros dos inimigos chegaram perto. Sua função é ser motorista de jipe. Apesar do clima tenso, ele se mantém bem-humorado e calmo. Aos desavisados, nem parece que está em meio a uma guerra.

"Ficamos o tempo todo em estado de alerta. Mas preciso estar tranquilo, calmo, controlar minha área mental, ser racional para pensar rápido. Não posso ficar desesperado, ou então vou morrer. E não quero que meu filho seja um órfão", afirmou.

Altschuller destaca ser a favor de um Estado palestino, "desde que seja democrático", e diz que seu alvo na Faixa de Gaza são os terroristas do Hamas, não os civis.

"Pelo contrário. Não tenho nada contra os palestinos, apenas contra os terroristas, que fazem coisas horríveis contra o próprio povo deles", opinou, deixando claro que está falando em seu nome, e não representando o Exército.

. Notícias para família:

Todos os dias, Altschuller faz chamadas de vídeo com o filho Lavi, um menino "bagunceiro" de quatro anos, que ainda não compreende a situação atual de seu país. Quando toca a sirene alertando para novos mísseis a caminho, o menino diz em hebraico: "sirene, bum, bum, bum".

A mãe de Altschuller, a jornalista Cláudia Altschuller, vive no Rio de Janeiro e ainda não conhece o neto. Seus planos foram frustrados primeiro pela pandemia do coronavírus e agora pela guerra. Cláudia estava com passagem para Israel comprada para a última quinta-feira (11). Iria rever o filho, que não encontra desde 2017, e conhecer Lavi.

"Minha mãe vai ver meu filho em breve. Quando terminar a guerra e tudo voltar ao normal, quero voltar ao Brasil. Quem sabe no carnaval do ano que vem", diz Altschuller.

. Fonte:

https://extra.globo.com/mundo/noticia/2023/10/nao-posso-me-desesperar-senao-vou-morrer-diz-brasileiro-convocado-para-guerra.ghtml

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