O momento da criação de Adão, do artista renascentista Michelangelo
Todas as espécies que povoam o planeta atualmente têm o mesmo ancestral comum, o qual a Ciência continua buscando evidências. E se pudéssemos fazer a árvore genealógica de toda a vida na Terra? Imagine que essa árvore seja grande o suficiente para que consigamos identificar o momento em que todas as espécies que hoje habitam o planeta, animais, plantas, bactérias, se originaram. Essa viagem de retrospectiva teria quase 4 bilhões de anos.
Na primeira linha, ela mostraria LUCA, o "parente" mais distante de todos os seres que hoje encontramos na Terra. Quando a Terra se formou, há cerca de 4,6 bilhões, de anos não havia vida, ela apareceu alguns milhões de anos depois, na água.
Importante: LUCA não foi a primeira forma de vida que surgiu no planeta, mas aquela a partir da qual se desenvolveram os organismos que atualmente conhecemos. O nome vem da sigla em inglês "Last Universal Common Ancestor", que se traduz como "Último Ancestral Comum Universal" e vem de um conceito que aparecia já na teoria da evolução de Darwin.
O último ancestral universal ou último ancestral comum, conhecido também como LUCA (last universal common ancestor) é o hipotético ser vivo a partir do qual todos os seres vivos que vivem atualmente na Terra descendem. Por isso, é o ancestral comum mais recente de toda a vida atual na Terra. Estima-se que LUCA tenha vivido entre 3.6 bilhões a 4.1 bilhões de anos atrás.
Em 2016, foi publicado um retrato genético do mais velho ancestral comum a todos os seres vivos presentes na Terra, o qual teria vivido há 4 bilhões de anos, quando a Terra tinha por volta de 560 milhões de anos. Ele seria um organismo de uma única célula, e que não precisava de oxigênio, alimentando-se de nitrogênio.
. Água quente:
LUCA não faz referência a um exemplar específico, mas a um tipo de organismo unicelular que evoluiu por milhões de anos. Todos os seres vivos compartilham um código que traduz a informação contida no material genético, no DNA e no RNA, para viabilizar a produção dos aminoácidos que vão dar origem às proteínas - e, em última instância, à vida. O mesmo aminoácido será formado pela mesma sequência de bases nitrogenadas, ainda que ele esteja presente em animais diferentes. É assim que, de alguma forma, todos compartilhamos um pouco de LUCA.
Ainda que não haja evidências físicas, como fósseis, desses organismos, estima-se, pelas características do planeta naquela etapa primitiva de desenvolvimento, que eles viviam em lagos geotérmicos nos quais a temperatura podia superar os 90ºC. O habitat seria similar às fontes hidrotermais que existem no fundo dos oceanos, que são fissuras na crosta a partir das quais emerge fluido geotermal do interior da Terra.
. Ou não tão quente:
Um estudo recente, contudo, aponta que o ambiente em que LUCA vivia não seria aquele que os cientistas pensavam até então - mas um local bem mais "fresco". Um grupo do Instituto Pasteur, na França, realizou análises genéticas e evolutivas que os levaram a concluir que nosso antepassado possivelmente não vivia em águas tão quentes. Os pesquisadores avaliaram sequências de uma proteína chamada girase reversa, que está presente nos organismos capazes de suportar altas temperaturas. As análises dos cientistas apontam que essa proteína não estava presente no LUCA e, por isso, dificilmente ele seria capaz de viver em ambientes extremamente quentes.
"A mera ausência (desta proteína) nos permite deduzir informações acerca da temperatura ótima para o crescimento de organismos extintos há muito tempo, tão antigos quanto o LUCA", diz um dos pesquisadores no estudo.
. Há controvérsias:
As descobertas do cientista William Martin e sua equipe têm causado controvérsias no meio acadêmico. O modelo de Martin, que se baseia em hidrogênio e metais presentes em fontes hidrotermais, se opõe às teorias do químico John Sutherland, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, que afirma que Luca teve desenvolvimento terrestre.
Ao jornal "The New York Times", Martin argumenta que faltam tantos genes necessários para a vida no Luca, que o organismo precisava do apoio dos componentes químicos encontrados no “habitat”. Por isso, ele poderia ser considerado apenas “meio vivo”, escreve.
Outras teorias afirmam que o Luca, na verdade, era um organismo altamente sofisticado e que a formação de sistemas vivos aconteceu a partir das substâncias químicas presentes na Terra primitiva. A Ciência continua buscando evidências concretas do LUCA no planeta, entretanto, se essa pesquisa estiver correta, há décadas estivemos procurando no lugar errado.
. Fonte:
https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/02/18/origem-da-vida-o-que-e-luca-o-antepassado-comum-dos-seres-vivos-que-habitam-a-terra.ghtml
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