O jornalista Leonardo Ferreira, natural do Rio de Janeiro (RJ), é formado em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, pós-graduado em Gestão Comercial & Marketing Digital, pós-graduado em Transtorno do Espectro Autista: Inclusão Escolar & Social, além de membro do Templo Beth-El of Jersey City (www.betheljc.org). O templo foi fundado no estado de New Jersey (EUA), em 1864.
7 de agosto de 2008
Shabat, a Consagração do Repouso
Significado do Shabat. O nome do sétimo dia da semana é derivado do hebraico - Shabat - que significa simplemente "cessar de trabalhar". O Shabat não é somente um dia de descanso: é um dia de santidade, quando as pessoas podem, por um curto período de tempo, deixar de lado suas preocupações e perseguições materiais da vida, e devotar-se para a renovação espiritual e para a atividade religiosa.
O Shabat é totalmente observado quando há ambos, descanso físico e recreação espiritual. Esta combinação de elementos do Shabat é enfatizada nos Dez Mandamentos e em outras partes da Torá, onde ambos os aspectos, o social e o religioso, são descritos.
No Kidush, a benção da santificação recitada no dia do Shabat, a importância social deste dia está expressa na frase "zecher l'yitziat Mitzraim" - em recordação à saída do Egito - quando o povo de Israel foi redimido da escravidão física. O significado religioso é apontado pela designação do dia como "zikaron lemaasê Bereshit" - em memória à Criação do Universo pelo poder divino, superior a todas as outras forças.
Um Dia de Descanso - Proibição de Trabalho. O cessar de toda forma de trabalho é fundamental para a observância do Shabat. Os rabinos definiram "trabalho" com 39 categorias principais (associadas com a construção do Santuário no deserto), que virtualmente englobam todo tipo de atividade com potencial de quebrar a paz e o descanso no dia do Shabat. Tarefas que pareçam similares a quaisquer uma das 39 divisões do trabalho proíbidas, assim como diversos tipos de atividade que nos distrairiam da santidade do Shabat, ou que seriam muito pesadas para um dia de descanso.
Sempre que houver caso de perigo à vidas humanas, a Lei Judaica requer que o Shabat seja violado.
Observância na Sinagoga:
Kabalat Shabat. Os serviços religiosos no Shabat são diferentes dos serviços dos outros dias da semana. O serviço da noite de sexta-feira é chamado Kabalat Shabat - "A Inauguração do Shabat" - e inclui a recitação de seis salmos (95-99, 24), correspondendo aos seis dias da Criação, e o salmo especial do Shabat (92).
Lechá Dodi. Uma parte central do serviço da noite de sexta-feira é o famoso hino do século XVI, composto por Solomon Alkabetz de Safed, conhecido por suas palavras iniciais "Lechá Dodi" - "Venha, amigo, encontrar-se com a noiva". O Shabat é poeticamente descrito na literatura judaica como "a noiva".
Kidush. A santificação do vinho - Kidush - é geralmente recitada na sinagoga ao fim do serviço religioso, uma vez que era costume entreter as pessoas na sinagoga, e a recitação pública do Kidush os isentaria de ter que recitar individualmente.
Leitura da Lei. O serviço matutino tem características próprias, das quais a mais importante é a Kiriat HaTorá (Leitura da Torá). Normalmente assume-se que a leitura pública das Escrituras data de tempos antigos, ainda anteriores a que Ezrá (séc V AEC) instituísse leituras mais regulares da Torá. Nos séculos seguintes, o costume na Terra de Israel de se ler a Torá a cada três anos foi substituído pelo ciclo anual, praticado na Babilônia. O Pentateuco (Chumash) é dividido em 54 porções semanais, e então a leitura da Torá é completada em um ano. Sete homens são chamados para a leitura da Torá. Este é o máximo número de pessoas chamadas na sinagoga em qualquer dia sagrado.
Haftará. Depois que a sidrá (porção semanal da Torá) é lida, a haftará - lição dos profetas - consiste numa conclusão apropriada para a leitura das Escrituras. O costume de se ler a Haftará começou durante o século II a.E.C, quando a leitura da Torá foi proibida pelos gregos/sírios, durante a revolta dos Macabeus. Como os judeus não recitavam a porção de seus cinco livros sagrados (Torá) de cor, por medo de errar, começaram a recitar porções de outros livros da Bíblia, que tinham alguma conexão com a leitura semanal que deveria ser feita caso não fosse proibido.
Mussaf. Depois do serviço matutino em Shabat e outras festas, um serviço adicional - Mussaf - é lido, para celebrar os sacrifícios adicionais no Templo.
Observância em Casa:
Uma experiência espiritual. No círculo familiar o Shabat é visto com todo seu poder de transformar um vida pesada de trabalho no dia-a-dia numa experiência alegre e espiritual. Diversas preparações são feitas na véspera, em honra ao Shabat. A sexta-feira é chamada de Erev Shabat - véspera de Shabat. A mesa representa um altar, a santidade elevada pelo pão (chalá), velas acesas e vinho de Kidush.
Alguns costumes de Shabat:
Chalot - Dois pedaços de pão representam a porção dupla de maná que caía para os hebreus nas sextas-feiras durante sua passagem pelo deserto, para que eles não precisassem ir atrás de comida no Shabat. Os pedaços de chalá são cobertos com uma toalha, simbolizando a proteção sobre o maná.
Luzes de Shabat - Dois é o número mínimo, simbolizando os mandamentos pares para "lembrar" - Zachor - e "observar" - Shamor" o Shabat (Exôdo 20; Deutoronômio 5, 12).
Benção sobre as Crianças - Na véspera de Shabat o pai, chefe da casa, coloca suas mãos sobre as cabeças de seus filhos e sussura uma benção tradicional, junto com a benção para que elas cresçam de acordo com a tradição dos patriarcas e matriarcas de Israel.
Kidush - É recitado antes do início da refeição. O vinho é o símbolo da benção e alegria; consequentemente, é usual que se recite a benção de Shabat sobre o vinho. (Se não há vinho disponível, a cerimônia pode ser feita com o pão).
Zemirot - Hinos de Shabat são cantados durante a refeição. A maior parte dos hinos fala da dádiva do Shabat como o maior tesouro religioso de Israel, e a recompensa espiritual para aqueles que piedosamente observam o dia santo.
Seudá Shlishit - (lit. 'A Terceira Refeição') - Três refeições formais são prescritas para o Shabat: na sexta-feira ao anoitecer, no sábado após o serviço matutino de Shabat, e no fim da tarde do Shabat. O termo, no entanto, é frequentemente utilizado para se referir exclusivamente à última refeição no fim da tarde do Shabat, que é geralmente elaborada com mais zemirot e discussão religiosa.
Oneg Shabat - "Alegria do Shabat" - Este é um termo que se tornou popular nos últimos anos e descreve a reunião na tarde do Shabat para estudo, frescor e recreação social. O costume se tornou popular com o poeta moderno Bialik, em Israel, e desde então tem se espalhado pela diáspora.
Havdalá - "Cerimônia de Despedida" - A partida do Shabat é uma mistura de despedida com ritual religioso. A palavra Havdalá significa, literalmente "divisão", e se aplica ao ritual colorido realizado com vinho ou outra bebida (não água), uma vela acesa e uma caixa com especiarias. Faz-se o vinho transbordar do cálice, o que é uma simbologia para representar a esperança de que a semana que entra será repleta de bençãos divinas. A luz representa o primeiro produto da Criação de D'us e a vela acesa simboliza o início da semana de trabalho. As especiárias nos lembram da fragrância da 'alma adicional do Shabat', que neste momento já partiu.
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Um comentário:
Seria extremamente interessante se houvesse a letra da canção para abençoar o vinho, aquela:
"Baruch Atah Adonai, Heloei'nu melech ha'Olam..."
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