Revista Morashá - Edição 76 - junho de 2012
A sinagoga de Dura-Europos, que ficou enterrada nas areias da Síria Oriental por 17 séculos, escreveu sozinha um importante capítulo na história da arquitetura e decoração das sinagogas. Sua descoberta causou um frisson entre arqueólogos e historiadores, pelas pinturas que ornam seu interior, retratando cenas bíblicas que revelam uma arte de cuja existência não se tinha conhecimento. Era o maior conjunto de afrescos da Antiguidade inspirados na Torá, no Midrash, nos Livros dos Profetas e em outros textos judaicos.
O impacto foi profundo tanto sobre o que se sabia, até então, em relação à arte judaica e, de modo geral sobre os estudos da arte nos últimos séculos da Antiguidade, como sobre a iconografia bíblica e os vínculos entre a arte judaica e a cristã. Tais afrescos estão, hoje, expostos no Museu Nacional, em Damasco. O destino de Dura-Europos, antiga cidade fundada no terceiro século antes da Era Comum (a.E.C), às margens do rio Eufrates, e de sua sinagoga, é, de certa forma, comparável ao de Pompéia, pois suas riquezas arquitetônicas e artísticas foram preservadas pelas toneladas de areia e entulhos sob as quais a cidade ficou soterrada desde sua destruição, em meados do século 3 desta Era, até sua descoberta acidental, em 1920.
O sítio foi encontrado pelo exército britânico, que fazia preparativos táticos para enfrentar a chamada Revolta árabe, que se havia espalhado também na região do Eufrates. Ao cavar trincheiras perto da cidade de Salhiy, uma unidade encontrou um muro de um antigo templo, onde se podia ver um afresco muito bem conservado.
Historiadores e pesquisadores sabiam da existência de Dura-Europos, pois a cidade é mencionada nos textos do geógrafo Isidore de Charax, que viveu no século 1 da Era Comum. Apenas não se conhecia a sua localização.
O local começou a ser escavado por arqueólogos em 1922, mas os trabalhos tiveram que ser interrompidos dois anos mais tarde devido à falta de segurança da região. Em 1928, arqueólogos da Universidade de Yale, em associação com a Academie des Inscriptions et Belles Lettres, voltaram a escavar o sítio. Quando, em 1937, Yale decidiu interromper os trabalhos por escassez de fundos, cerca de 30% da antiga cidade haviam sido revelados. Entre as riquezas arquitetônicas e artísticas descobertas e os inúmeros templos dedicados às mais diversas divindades, havia uma sinagoga, encontrada em 1932, em notável estado de preservação. Junto à sinagoga, foram encontrados, também, um local de orações usado provavelmente por soldados romanos, conhecido como domo Mithareum, e uma pequena capela cristã.
A sinagoga, com sua construção e decoração tão elaboradas, não encontra paralelo em nenhum outro templo encontrado em Dura-Europos. O arqueólogo norte-americano Clarck Hopkins assim descreveu a descoberta “(...) como uma página saída de um conto das Mil e uma Noites. Esfregou-se a lâmpada de Aladim e, repentinamente, das areias secas e escuras do deserto, pinturas emergiram, não apenas uma, um painel ou um muro, mas um edifício inteiro, com cenas após cenas desenhadas, todas extraídas da Bíblia, de uma forma até então jamais sequer imaginada”.
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