Ronaldo, Bia Antony, Wanessa Camargo e
Jesus Luz: fisgados pelos ensinamentos da Cabalá
"Independentemente da profissão, quem é famoso tem o ego estimulado constantemente. E o ego, para a Cabalá, é a origem de todos os males"
Paulo Ricardo, vocalista e compositor da banda R.P.M.
“Não estamos dando conta da demanda”, diz Yonatan Shani, representante do Kabbalah Centre no Brasil, um dos maiores do País. “Não temos professores para atender à quantidade de alunos que querem se inscrever.” Espelhando um movimento que se viu em torno da cabala em países como os Estados Unidos e a Inglaterra, os famosos, em especial, têm mostrado cada vez mais interesse pela prática por aqui.
“Independentemente da profissão, quem é famoso tem o ego estimulado constantemente”, diz o cantor e compositor Paulo Ricardo, 48 anos, que estudou com o mestre Shmuel Lemle, da Casa da Kabbalah, no Rio de Janeiro, e hoje pratica a disciplina sozinho. “E o ego, para a cabala, é uma espécie de Satã, a origem de todos os males”, explica. Aprender a administrar o ego para que a luz da vida se manifeste com toda força é um dos principais objetivos da cabala (leia quadro na página 70). Essa característica, de vilanizar o ego e propor uma espécie de controle dele, explica o crescente interesse pela disciplina entre as celebridades, mesmo as que não são chegadas aos holofotes. É o caso da discreta Bia Antony, mulher de Ronaldo Nazário, o Fenômeno, praticante da vertente mais popular da cabala, ensinada no Kabbalah Centre. Ronaldo também tem dado sinais de que aderiu. Ele já foi visto, em diversas ocasiões, com a tradicional pulseirinha vermelha, símbolo de compromisso com a causa e amuleto contra o olho gordo. Não se sabe, porém, se ele é tão dedicado quanto Bia, que diz ler a “Torá”, o livro sagrado dos judeus, diariamente e, sempre que pode, cumprir o shabat, dia reservado exclusivamente à fé – começa no pôr do sol da sexta-feira e vai até o pôr do sol do sábado.
Luciano Huck e Angélica: visita do mestre cabalista
Yonatan Shani. Marina Lima é praticante há oito anos
No ano passado, Bia foi com as filhas e com a mãe para Israel, onde visitou vários lugares sagrados em uma espécie de “imersão espiritual”. Essa mesma viagem já foi feita inúmeras vezes pelo ator Ashton Kutcher, amigo do casal fenomenal. Quando ele e sua mulher, Demi Moore, ambos adeptos da cabala, vieram ao Brasil no início do ano, Bia Antony abriu sua casa para a dupla. “Se não fossem da cabala, não receberia”, disse, numa rara entrevista à revista “Vogue”. A vinda deles aproximou da cabala outro casal famoso, Luciano Huck e Angélica, que recebeu as estrelas hollywoodianas, na casa deles em Angra dos Reis (RJ). Eles chegaram a convocar Yonatan Shani, do Kabbalah Centre, em São Paulo, para dar uma palestra sobre o assunto no Rio de Janeiro. “Estudei várias religiões e filosofias, como budismo, catolicismo, cabala, judaísmo e peguei o melhor de cada uma para me fortalecer. No fim, Deus é quem manda”, resumiu, recentemente, Angélica.
Esta abertura da cabala para conviver com outros dogmas é um dos seus atrativos. “É interessante porque ela não é bem uma religião que fica te doutrinando, é mais uma filosofia de vida”, explica a atriz e modelo Ellen Jabour. Ela se encantou pela prática há oito anos, quando cruzou, em uma livraria de aeroporto, com o livro “O Poder da Cabala”, de Yehuda Berg, fundador do Kabbalah Centre. Foi amor, e uma certa obsessão, à primeira vista, segundo ela. Ellen logo fez três módulos do curso oferecido no centro e leu seis livros sobre o assunto. Em seu site incluiu uma seção inteira dedicada à cabala, na qual explica as origens da prática, conta um pouco da experiência dela e lista as chamadas sintonias diárias, que são temas específicos para meditação e estudo. “A cabala melhora a qualidade de vida de quem a pratica porque a pessoa passa a se conhecer melhor e entender o que ela realmente quer”, diz Shmuel Lemle, da Casa da Kabbalah. Lemle só vê vantagens no crescente interesse das celebridades brasileiras pela disciplina. “Elas despertam a curiosidade pela filosofia”, diz.
"Na vida, há momentos de agir e momentos de esperar.
O problema é saber quando devemos tomar uma ou outra
posição e a Cabalá dá o código para desvendar esse enigma"
Glória Maria, jornalista
Para a jornalista Glória Maria, seguidora desde 2003, não são só os relatos de famosos que trazem novos praticantes. “Hoje vivemos soterrados em informação, as coisas acontecem cada vez mais rápido e todos estão em busca de equilíbrio”, diz. A cabala, segundo Glória, ajuda a lidar, de maneira objetiva, com as agonias da vida contemporânea, além de dar ferramentas para que cheguemos ao equilíbrio. “Na nossa vida, há momentos de agir e momentos em que se deve esperar”, exemplifica. “O problema é identificar quando devemos tomar uma ou outra posição e a cabala dá o código para ajudar a desvendar esse enigma”, diz. Ela mesma admite que era mais intuitiva em suas decisões antes de se tornar cabalista. Os rumos eram definidos por impulso, subjetivamente. Hoje ela já pesa as opções, avalia os prós e os contras e só então decide, seguindo os preceitos de causa e consequência que norteiam a disciplina. Os resultados têm sido ótimos, e ela não vê a hora de voltar para as reuniões do centro que frequentava. “Quando as minhas filhas crescerem um pouco mais, retomo”, diz Glória, que adotou duas meninas em meados de 2009.
A prática da cabala é bem flexível. Cabe a cada um estabelecer o próprio regime de atividades espirituais, mas em geral elas se organizam em ciclos diários. A principal é a leitura de trechos da “Tora” e do “Zohar”, considerado o texto seminal da cabala. Os trechos não são aleatórios e costumam ser escolhidos por um mestre, que posteriormente ajudará no entendimento e na absorção dos vários significados dos textos. Ter aulas é a melhor alternativa para ter acesso a eles. No Kabbalah Centre, por exemplo, o curso introdutório custa R$ 500 (presencial) ou R$ 350 (online), inclui o livro “O Poder da Kabbalah” e os links para acessar as aulas gravadas online. Bolsas estão disponíveis, principalmente para universitários.
"Aprendemos coisas que no fundo já sabemos, mas
que não conseguíamos tornar claras para nós mesmos"
Fernanda Souza, atriz
Recitar também é comum. O nome de Deus, sempre que invocado, abre novos canais para a entrada da Luz. Já os 72 nomes, criados pelo “Zohar” a partir de três versos seguidos do livro do Êxodo, presente na “Torá” e no Velho Testamento católico, servem como uma espécie de oração para intenções específicas como saúde, paciência, amor e serenidade. No mais, a cabala é exercida na prática, seguindo os cinco preceitos da filosofia. A maior parte do significado e da aplicação da cabala, portanto, está nas diferentes situações que encaramos no dia a dia – conversas com amigos, discussões com desafetos e decisões no trabalho, entre outras – e não concentrada em episódios esporádicos de reflexão, oração e invocação.
Foram esse pragmatismo e a lógica simples dos preceitos cabalísticos que atraíram a atriz Fernanda Souza. Um amigo apresentou a disciplina a ela, que já tinha um livro sobre o assunto, mas estava esquecido em casa, sem nunca ter sido aberto. Com o estímulo, ela se empolgou e começou a ler. Era uma edição de “O Poder da Cabala”, o mesmo livro que despertou o interesse de Ellen Jabour. Logo que terminou a obra, recomeçou a leitura, tamanho o impacto dos ensinamentos do texto. “O que antes parecia complicado me pareceu muito claro naquele momento”, conta. Ela logo se matriculou no curso do Kabbalah Centre e hoje está no terceiro módulo dos ensinamentos. “Aprendemos coisas que, no fundo, já sabemos, mas não conseguíamos tornar claras para nós mesmos.” As mudanças, ela diz, foram notáveis. Mais calma e centrada, hoje ela garante que encara os problemas com mais serenidade. “Aprendi que tudo tem causa e efeito e que, se plantamos uma semente lá atrás, mais cedo ou mais tarde vamos colher”, diz. Em suma, ela aprendeu a ser bem mais cuidadosa com o que planta.
"Achei a cabala interessante porque não é bem uma
religião que fica doutrinando, mas uma filosofia de vida"
Ellen Jabour, modelo e apresentadora
Os livros costumam ser a porta de entrada para a cabala. Os mais populares são “O Poder da Cabala”, de Yehuda Berg, disponível em mais de 40 idiomas (e com milhões de exemplares vendidos, segundo o próprio Kabbalah Centre, que o edita), e “A Cabala e a Arte de Ser Feliz”, de Ian Mecler, com 20 mil cópias comercializadas no Brasil. Mas o tema é um filão em si no ramo editorial. Uma breve visita a qualquer livraria dá a dimensão desse mercado. Um levantamento feito por ISTOÉ apontou pelo menos 76 títulos à disposição dos que buscam a disciplina milenar. Tem cabala com numerologia, astrologia, maçonaria e alquimia. Cabala dos anjos, da saúde, da psicologia e do trabalho. Há abordagens específicas para os adolescentes e para as mulheres e até o mundo corporativo foi contemplado em títulos como “A Cabala e as Empresas”, de Sandra Ayyad. O rabino carioca Nilton Bonder lançou três livros nos quais aborda três campos de interesse com olhar cabalístico: a comida, o dinheiro e a inveja. Um quarto, intitulado “Exercícios d’Alma – Cabala Como Sabedoria em Movimento”, arrematou a série.
Há ainda CDs e DVDs, com material introdutório em áudio e vídeo e, é claro, a internet, fonte praticamente infinita, com milhões de sites tratando das mais variadas vertentes e interpretações da cabala. “Alguns são mais tradicionais e conservadores e outros menos graves, ou mais light”, explica Ian Mecler, autor e mestre à frente do Portal da Cabala, que tem turmas de estudantes no Rio de Janeiro, em São Paulo, Brasília e Manaus. “Gosto de pensar na cabala como uma disciplina para ser estudada em camadas”, diz. “Cada um escolhe quão fundo quer ir.”
O modelo Jesus Luz, por exemplo, garante que tem interesse pelo que há de mais profundo na cabala. O primeiro contato dele com a filosofia foi em 2006, por meio da mãe de uma ex-namorada. Mal sabia ele que essa experiência acabaria servindo para aumentar a afinidade com sua namorada seguinte, a cantora Madonna, superestrela tanto da música quanto da cabala. Os dois mantiveram um relacionamento por mais de dois anos e foram vistos, em diversas ocasiões, visitando centros de cabala em Los Angeles, Nova York e Londres. Para ele, são tantos os benefícios de se aprofundar nos textos da disciplina que fica difícil listá-los. Um, porém, de grande valia para quem vive em meio à vaidade desnorteante da fama, está sempre na ponta da língua. “A cabala me ajuda muito a lidar com meu ego”, destaca, fazendo eco ao também famoso Paulo Ricardo.
Ciente do valor do conhecimento cabalístico para os que são sempre o foco das atenções, Jesus Luz costuma apresentar a doutrina aos colegas de holofotes, como Geovanna Tominaga, apresentadora do “Videoshow”, da Rede Globo. “No começo do ano comecei a frequentar o Kabbalah Centre com a (atriz) Cléo Pires”, conta Geovanna. Católica, ela diz que sentia dificuldades para colocar em prática os mandamentos e as orientações da religião. Acolhida no centro, absorveu a mensagem objetiva da cabala. “Encontrei um passo a passo, um guia, para colocar os ensinamentos católicos em prática”, diz. Hoje,ela pensa mais antes de tomar qualquer decisão e já não reage tão intensamente às frustrações. Um dos objetivos da cabala é esse: tornar mais tranquilas pessoas muito reativas. “Quebro menos a cara”, afirma.A impressão que fica dos relatos de quem aderiu à prática milenar e de quem hoje guia interessados pelos caminhos da filosofia é a de que existe uma cabala para todo mundo. Flexíveis, os ensinamentos se moldariam para atender aos objetivos de cada um dos que desejam estudá-los. Mas, para algumas pessoas, esse processo pode ser perigoso. Há quem tema pela descaracterização da cabala, que, ao se diluir em milhares de vertentes, pode perder sua essência. “O que é reservado e santo está sendo popularizado e profanado”, argumenta o rabino Avraham Chachamovits, professor da cabala kasher – que segue à risca as leis judaicas – e responsável pelo site Portais da Cabala. Para ele, a cabala é o nível interpretativo mais profundo dos ensinamentos judaicos e não é possível atingi-lo sem compreensão de toda a lei judaica. “O que se vê por aí hoje surgiu há 30 anos, é uma moda”, afirma. “O que eu ensino tem mais de 3.300 anos.” Ele não cobra pelo material que usa, não mistura cabala com misticismo e não dá aulas para mulheres. “A mulher é naturalmente mais sensível que o homem, não precisa estudar”, justifica. Não judeus são bem-vindos, contanto que se convertam (na visão dele).
Embora essa corrente tenha menos entusiastas, as palavras do rabino Chachamovits encontram eco. Há outros grupos que têm se mostrado arredios aos modismos da nova cabala, embora com menos veemência. O Instituto Bnei Baruch, por exemplo, presente em mais de 30 países, condena abertamente o comércio de amuletos e o culto às personalidades. No Brasil eles têm cerca de 45 alunos fixos que organizam encontros e acompanham aulas diariamente pela internet. “Não nos envolvemos com esoterismos, estudamos a ciência da cabala”, sentencia Maurício Guiana, aluno do Bnei Baruch. Independentemente da corrente, o fato é que a cabala está no centro das atenções e cresce de maneira veloz, principalmente no Brasil. Puxada pela adesão das celebridades e por um discurso de união e humildade que tem apelo universal, ela segue arrebanhando entusiastas e críticos. Por enquanto, o discurso dos entusiastas tem sobressaído. Mas, tudo indica, com o aumento dos adeptos, as disputas pelo que é a verdadeira cabala aumentarão significativamente.
. Fonte:
https://istoe.com.br/149055_OS+FAMOSOS+E+A+CABALA/
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