Sempre houve indivíduos corajosos que seguiram o próprio coração e se juntaram ao povo judeu
No decorrer da história a nação judaica tem sido enriquecida por convertidos – valorosos homens e mulheres que optaram por entrar no pacto e se tornar parte da Nação Escolhida. O propósito do exílio era para o povo judeu ganhar convertidos, dizem nossos sábios, mas ironicamente, durante grande parte da nossa história a conversão ao Judaísmo era extremamente perigosa, até punida com a morte. Apesar disso, sempre houve indivíduos corajosos que seguiram o próprio coração e se juntaram ao povo judeu. Seguem um breve resumo de 18 convertidos, alguns legendários e outros quase desconhecidos, que contribuíram para enriquecer a vida judaica.
1. Batya:
Batya entrega o bebê Moshê a Yocheved para ser amamentado
Mais conhecida como Bityah, ela aparece na Tora simplesmente como a filha do faraó que encontrou o bebê Moshê flutuando no Rio Nilo e levou-o ao palácio para criá-lo como um príncipe egípcio. Segundo o Talmud, Batya tinha ido ao rio para se purificar da idolatria da casa de seu pai e converter-se à religião judaica. Uma mulher justa, seu próprio nome significa “filha de D'us”, e a tradição nos diz que ela estava entre os poucos seletos que entraram no Jardim do Éden (Paraíso) sem passar pela morte.
2. Yitro:
Moshê se despede de Yitro (Jan Victors, c. 1635)
Um sacerdote instruído que tinha explorado todas as divindades conhecidas pelo homem na época, Yitro, sogro de Moshê, juntou-se aos israelitas no deserto, proclamando: “Agora eu sei que D'us é maior que todos os deuses…” Quando ele viu que Moshê estava tentando por si mesmo aconselhar todo o povo no deserto, ele entendeu que a situação era difícil e o encorajou a designar juízes para ajudá-lo [daqui originou-se a estrutura dos tribunais e julgamento por juízes e suas instâncias]. Ele é mencionado por sete nomes diferentes no decorrer da Escritura.
3. Rahab:
Rahab foi salva da batalha de Jericó (Julius Schnoor Von Carolsfeld, 1794-1872)
4. Ruth:
Ruth e Naomi (Jacob Pynas, 1583-1631)
Princesa moabita que ficou viúva de seu marido judeu, Ruth seguiu fielmente sua ex-sogra até Bethlehem na Judéia, com a famosa expressão: “Onde quer que você vá, eu irei; e onde te abrigareis, eu me abrigarei; teu povo será meu povo, e teu D'us meu D'us.” Sua devoção foi percebida por Boaz, um líder piedoso e rico. Como é descrito no Livro de Ruth, os dois se casaram, e seu bisneto foi ninguém menos que o Rei David. Ruth é considerada com uma convertida exemplar, e sua história é lida em Shavuot, o dia quando todos nos tornamos convertidos no Sinai.
5. Obadia - O Profeta:
Obadia é o autor do minúsculo livro de Obadia, que possui apenas 21 versos
Embora a escritura nos conte pouco sobre sua linhagem, os sábios explicam que D'us escolheu Obadia para dar a profecia sobre o supremo triunfo de Israel sobre Edom porque ele era um edomita convertido. Um ministro do perverso Rei Ahab e Rainha Jezebel, Obadia é descrito como alguém que “temia muito a D'us”. Quando Jezebel organizou sua campanha para exterminar os profetas de D'us, Obadia corajosamente escondeu 100 profetas em cavernas e gastou todo seu dinheiro para alimentá-los e sustentá-los. Sua esposa foi a mulher para quem Elisha realizou o milagre do óleo que continuou brotando, em seu mérito.
6. Shemayah e Avtalyon:
Descendentes de Sennacherib da Assíria, esses dois eruditos atuaram ao mesmo tempo como presidente e chefe de justiça do Sanhedrin – a corte suprema em Jerusalém. Os registros são escassos, e é possível que eles fossem os filhos de convertidos em vez de eles próprios os convertidos. Apesar disso, é claro que suas realizações de Torá foram amplamente reconhecidas e muito valorizadas. Em um Yom Kipur enormes multidões se reuniram ao redor deles e isso despertou a inveja do sumo sacerdote, que zombou da humilde origem deles. Eles não ficaram passsivos e responderam sabiamente.
Shemayah ensinava: “Ame o trabalho, despreze o domínio sobre os outros, e evite intimidade com o governo". O ensinamento mais conhecido de Avtalyon: “Eruditos, sejam cuidadosos com suas palavras. Pois vocês podem ser exilados a um local habitado por maus elementos [que irão distorcer suas palavras para adequar aos seus propósitos negativos]. Os discípulos que vieram depois de vocês irão então beber dessas águas más e ser destruídos, e o Nome do Céu será profanado”.
7. Ben Bag Bag e Ben Hay Hay:
Na geração após Shemayah e Avtalyon, encontramos outro par de convertidos conhecidos como Ben Bag Bag e Ben Hay Hay. Presumivelmente por causa do perigo envolvido em converter-se ao Judaísmo na época, seus nomes na verdade eram códigos para suas verdadeiras identidades. Hay é a letra hebraica que foi adicionada aos nomes de Avraham e Sarah. Assim Ben [“filho de”] hay hay confere ao convertido o status como um filho de Avraham e Sarah. Bag bag leva o código um pouco além, pois bag é soletrado beit e gimmel, que juntas têm o mesmo valor numérico que hay.16 Alternativamente, Bag Bag pode ser um acrônimo para Ben gueir, uben guiyoret (“o filho de um convertido e uma convertida”). Qualquer que seja o motivo para seu nome, Rabi Yochanan Ben Bag Bag era conhecido por ser fluente em todas as áreas da Torá,17 e Ben Hay Hay era famoso por conversar com Hillel.
8. Rainha Helena de Adiabene:
O sarcófago de Helena está no Museu de Israel (Hanay, Wiki Commons)
Helena (ou Hilni, como era conhecida em hebraico) foi a rainha de um pequeno país idólatra. Ela e seus filhos ouviram falar sobre o Judaísmo e aceitaram suas crenças como suas. Seus 7 filhos se esforçaram em Torá e se tornaram excelentes eruditos. Quando um foi para a guerra, ela prometeu ser uma Nazir por sete anos. Viajou a Jerusalém para levar os sacrifícios exigidos, e ficou. Era extraordinariamente generosa com o povo judeu em Jerusalém e com os cofres do Templo, doando muitos vasos de ouro.
9. Rei Monobaz:
10. Rabi Yochanan Ben Torta:
Rabi Yochanan Ben Torta foi um dos grandes sábios e líderes na geração que viveu durante a destruição de Jerusalém. Como ele entrou no Judaísmo? Certa vez ele comprou uma vaca de um judeu. A vaca trabalhava a semana inteira, mas se recusava a trabalhar no Shabat. Ao aprender sobre o conceito do Shabat, ele ficou tão impressionado que se converteu ao Judaísmo e se destacou em seus estudos.
11. Onkelos:
Em sua edição padrão dos Cinco Livros de Moshê com comentário, pode-se ver a tradução de Onkelos à esquerda do texto principal em hebraico. Em sua edição padrão dos Cinco Livros de Moshê com comentário, pode-se ver a tradução de Onkelos à esquerda do texto principal em hebraico. Onkelos foi sobrinho do imperador romano Adriano. Bem preparado em culturas grega e romana, ele se afastou da riqueza e do poder de sua família e se converteu ao Judaísmo. Notando que o aramaico estava se tornando rapidamente o idioma dominante do povo judeu, Onkelos transcreveu uma fiel tradução aramaica da Torá, que foi impressa desde então em toda edição padrão.
12. O Kuzari:
Capa da edição de 1880 de Varsóvia em idioma hebraico do Kuzari
Uma das obras filosóficas mais importantes de todos os tempos foi escrita por Rabi Yehudah Halevi, um erudito e poeta judeu que viveu na Espanha. Conhecido como o Kuzari, o livro é formado ao redor de conversas teóricas de um rei Khazar que estava procurando a “verdadeira fé”. Ele cita um sábio judeu e representantes de outras religiões, e no decorrer de suas conversações se torna convencido de que o Judaísmo é a verdade, decidindo enfim se converter. Embora o livro certamente não seja uma narrativa histórica de uma verdadeira conversa (ou séries de conversas), reflete uma verdade histórica. Havia um reino de Khazars cuja nobreza tinha se convertido ao Judaísmo. Devido à sua distância geográfica, porém, pouco se sabe sobre eles com absoluta certeza.
13. Outro Obadia:
Johannes filho de Dreux, nascido numa família normanda nobre ao sul da Itália, estava a caminho do sacerdócio cristão quando ouviu falar do arcebispo de Bari se convertendo ao Judaísmo. No ano 1102, seguindo um sonho impressionante, ele começou a explorar o Judaísmo, e logo determinou que as profecias na Torá não poderiam ser entendidas na maneira que os cristãos geralmente as interpretavam. Mesmo enquanto judeus estavam sendo abatidos pelos cruzados, dos quais alguns eram membros de sua própria família, ele decidiu se juntar ao povo judeu, adotando o nome Obadia. Vários dos seus escritos foram preservados na guenizá do Cairo, incluindo fragmentos de sua autobiografia e um hino que ele compôs para ser entoado em Shavuot em homenagem a Moshê. O texto hebraico é acompanhado pelo sistema de anotação musical usado na época, tornando-o a partitura judaica sobrevivente mais antiga.
14. Mais Outro Obadia?
Imagem de Maimônides (Wikimedia)
Na mesma época encontramos evidência de outro Obadia, que se converteu do Islã ao Judaísmo. Ele poderia dizer as partes da prece que se referem a Avraham, Yitschac e Yacov como seus antepassados? Poderia ele agradecer a D'us por ter “nos”tirado do Egito ou agradecer a Ele por não ter feito dele um não-judeu – todas as partes da liturgia de prece padrão? Maimônides respondeu a suas cartas, assegurando que ele poderia. Como um total membro da nação judaica, Obadia era tanto um descendente de nossos patriarcas, e herdeiro de uma tradição majestosa, como qualquer outro judeu.
15. Moshe Ben Avraham:
Capa de Tolaot Moshê (o Chaim Elozor Reich z”l Renaissance Hebraica Collection em Hebrewbooks.org)
Nascido em Nikolsburg ou Praga (ambas atualmente na República Tcheca), Moshe foi um impressor no início do Século 18 que trabalhou em muitos livros judaicos importantes em Amsterdam, onde tinha se convertido ao Judaísmo. Ele escreveu Tolaot Moshê, que se acredita ser o primeiro livro yidiche de geografia. Eli inclui seções das Dez Tribos, o Jardim do Éden, África, Groenlândia, as Américas, Europa e Ásia, e conclui com um capítulo sobre a era messiânica.
16. Lord George Gordon:
Lord George Gordon após sua conversão ao Judaísmo (Enciclopédia Judaica)
Nascido numa família nobre escocesa em Londres em 1751, Lord George Gordon foi abençoado com um forte senso de justiça. Ficava aborrecido pelo tratamento dos escravos nas Américas quando esteve na Jamaica na Marinha Real, e decidiu entrar na política. Como membro do Parlamento tornou-se envolvido nas questões da Guerra da Independência Americana, e foi acusado (e mais tarde absolvido) de traição após liderar uma marcha através de Londres para petição ao Parlamento sobre o assunto. Depois disso suas opiniões religiosas vieram à tona, e ele começou a se encontrar com judeus e estudar a Torá. Embora seu pedido inicial tenha sido negado, ele por fim se converteu ao Judaísmo, adotou o nome Yisrael e juntou-se à comunidade judaica de Birmingham. Com uma barba longa e tradicional roupa judaica, ele se devotava à Torá, mitsvot e caridade.
Ele foi preso uma segunda vez porque o governo estava ressentido pelo seu abandono anterior. Sua família se envolveu e conseguiu arranjar para ele manter uma dieta casher, observar o Shabat e feriados, e tocar violino para outros prisioneiros. Para demonstrar simchá (alegria) em face da adversidade, ele fazia festas em sua grande cela para quem quisesse comparecer, e pessoas de todas as esferas da vida se tornaram interessadas em sua conversão e na Torá como resultado. Mesmo quando sua sentença terminou, recusaram a sua libertação. Contraiu tifo e faleceu na prisão aos 42 anos.
17. Avraham ben Avraham:
A placa acima da entrada do túmulo do Gaon de Vilna afirma que os restos mortais de Avraham, o Justo Convertido, estão enterrados ali também (Chaim, Wiki Commons)
Perto do túmulo do Gaon de Vilna estão os restos mortais de Avraham ben Avraham, que se converteu ao Judaísmo no Século 18. Um membro legendário da nobre família Potocki, ele viajou secretamente a Amsterdam para se converter de acordo com a tradição, e então devotou muitos anos ao estudo de Torá. Ele foi delatado pelas autoridades enquanto morava perto de Vilna e, após recusar-se a renunciar a sua fé judaica, foi queimado na estaca pela Igreja Católica Romana no feriado de Shavuot.
18. Warder Cresson:
Paisagem de Jerusalém (Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos)
Nascido numa família Quaker na Filadélfia em 1798, Warder Cresson foi escolhido como o primeiro cônsul americano em Jerusalém. Quando chegou à Terra Santa, porém, ele descobriu que sua nomeação tinha sido rescindida. Mas ele estava tão interessado pela comunidade judaica que resolveu se converter. Voltou à Filadélfia para resolver seus negócios antes de mudar para a Terra Santa permanentemente. Sua esposa e família tentaram detê-lo alegando que ele estava insano e precisava ser internado. Num julgamento amplamente divulgado ele foi considerado como estando com a mente sã, e logo fez a viagem para Jerusalém novamente. Ali ele se casou com uma mulher sefaradita chamada Rachel Modelano (ele e sua primeira esposa tinham se divorciado), e viveu como um judeu sefaradita sob o nome de Michael Boaz Yisrael até seu falecimento em 1860.
. A Família na Porta ao Lado:
O mundo judaico contemporâneo está profundamente enriquecido pela presença de milhares de sinceros convertidos ao Judaísmo – homens e mulheres de um caleidoscópio de origens que decidiram se juntar ao povo judeu. Invariavelmente foi uma longa jornada que provavelmente incluiu muita busca na alma, conflito, dúvida, e uma grande dose de fé e convicção. Pode ser a mulher sentada ao seu lado na sinagoga, o professor de hebraico de seu filho, ou a família da mesma rua. Os guerei tsedek (justos convertidos) são parte integrante da mishpachá judaica (família) e se você mesmo é um guer tsedek (Justo), estendemos nossos cumprimentos: bem-vindo a bordo! Estamos felizes por estar conosco.
. Fontes:
Por Menajem Posner : https://www.beitchabad.org.br/library/article_cdo/aid/4159752/jewish/18-Impressionantes-Convertidos-ao-Judasmo-que-Voc-Deveria-Conhecer.htm
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