17 de dezembro de 2019

DESCOBRINDO O ISRAEL (ישראל) BÍBLICO


Neot Kedumim, reserva ecológica que procura recriar o meio-ambiente da época bíblica

Ainda que seja um estado moderno, com tecnologia de ponta presente em seu dia-a-dia, é quase impossível andar por Israel (ישראל) sem sentir uma forte conexão com seu passado bíblico. As opções são muitas em uma região onde, em cada passeio, há uma lição de história, uma conexão religiosa, uma viagem ao passado, uma emoção diferente.



Quem quiser usufruir uma experiência semelhante a Neot Kedumim em uma região mais desértica pode optar pelo Parque Eretz Bereshit (Terra da Gênese)

Nas proximidades de Modi’in, entre Jerusalém e Tel Aviv – a dez minutos do Aeroporto Internacional Ben-Gurion – deparamo-nos com a Reserva Natural e Parque Bíblico Neot Kedumim. Com 253 hectares de área, é exemplo da flora e paisagens do passado. Ali, apreciando as plantas e as montanhas, os visitantes podem imaginar como viviam nossos ancestrais, os ancestrais do Povo Judeu, há mais de 3 mil anos.

A Reserva foi fundada pelo botânico israelense Nogah Hareuveni, falecido em outubro de 2007. Seu amor pela natureza veio de sua família – seus pais, Ephraim e Hannah, dedicaram-se ao estudo da flora de Israel nas fontes judaicas. Tinham a convicção de que a Terra de Israel é uma parte inseparável da história judaica, nossa história. O casal fundou o Museu Bíblico-Talmúdico de Botânica, na Universidade Hebraica de Jerusalém, em 1926, o primeiro do gênero no mundo. No entanto, não haviam concretizado seu maior sonho: criar um grande jardim – “O Jardim dos Profetas e Sábios”. Seu filho o faria, anos depois.

Desde jovem, Hareuveni costumava fazer longos passeios pelos vales, montanhas, campos e desertos observando-os e fazendo conexões entre as plantas, as lendas, o folclore e as tradições da Terra de Israel. Em 1965, ele começou a implantação de Neot Kedumim, na região de Shfela, uma reserva ecológica que procura recriar o meio ambiente da época bíblica. Era um projeto muito maior do que o idealizado por seus pais e que contou com o apoio de personalidades israelenses como Teddy Kollek, Ariel Sharon e Yitzchak Navon, entre outros. Em 1994, recebeu o Prêmio Israel, o maior concedido pelo Estado Judeu, por sua contribuição ao país.

Ele costumava dizer: “Com a Torá em uma mão e a pá na outra, plantamos campos e os identificamos de acordo com antigas nomeações – Floresta do Leite, Vinhedos de Isaías e Campos das Sete Espécies, por exemplo. Através de centenas de plantas faz-se a conexão com antigas plantas, flores e árvores, com base nas metáforas e parábolas da Torá e dos profetas”.

Para que Neot Kedumim se tornasse uma realidade, toneladas de terra foram trazidas e lançadas sobre as áreas atingidas pela erosão. Foram construídos reservatórios para armazenar a água da chuva e as encostas foram replantadas, como em tempos antigos. Usando cedros trazidos das montanhas próximas ao Líbano e palmeiras e tamareiras dos desertos do sul de Israel, novas áreas residenciais foram erguidas. Após muitas pesquisas, iniciou-se o cultivo de plantas mencionadas na Torá e no Talmud. Foram, também, reconstruídas e restauradas prensas para azeitonas e uvas, cisternas e mikvaot,locais para os banhos rituais. Já na entrada da reserva os visitantes são recebidos por funcionários usando trajes dos judeus da época bíblica.

Além das caminhadas entre as árvores, os turistas podem participar de workshops, cursos de botânica, zootecnia, geografia, história e arqueologia entre outras atividades. Em Neot Kedumin pode-se vivenciar a tão conhecida “Tenda de Abrahão”. É uma recriação da tão conhecida hospitalidade do patriarca Abrahão. inspirada pela citação na Torá: “E ele ergueu seus olhos e olhou, e contemplou três homens parados atrás dele: e quando ele os viu, correu ao seu encontro e, da porta da tenda, curvou-se perante eles” (Gênese 18:2).

. Parque Eretz Bereshit (Terra da Gênese):

Quem quiser usufruir uma experiência semelhante a Neot Kedumim em uma região mais desértica pode optar pelo Parque Eretz Bereshit (Terra da Gênese), situado em meio às montanhas do Deserto da Judeia, próximo ao Mar Morto. Ao chegar ao local, lá também os visitantes são recebidos por funcionários vestidos com trajes da época bíblica e levados de camelo até a tenda central, também denominada “Tenda de Abrahão”, onde são recepcionados com uma refeição baseada em receitas típicas, como frango com mel, verduras frescas e chá.

Entre as atividades disponíveis, estão workshop para produção de pita, ou alimentação e ordenha de ovelhas, além de um teatro onde, entre outras, pode-se ouvir a história do primeiro patriarca do Povo Judeu, Abrahão.


Ao longo do tour, é possível ter-se uma imagem total de como a cidade era há cerca de dois mil anos, sob o reinado de Herodes e antes da destruição do Segundo Grande Templo, em 70 E.C.

. Museu Torre de David:

Em Jerusalém, entrando-se na Cidade Velha pelo Portão de Yaffo, encontra-se o Museu de História, Cidadela (ou Fortaleza) da Torre de David. Não há necessidade de um guia profissional para fazer este passeio, basta seguir passo-a-passo o roteiro, valendo-se de fones de ouvido que contam a história do lugar.

Ao longo do tour, é possível ter-se uma imagem total de como a cidade era há cerca de dois mil anos, sob o reinado de Herodes e antes da destruição do Segundo Grande Templo, em 70 E.C. O Museu, inaugurado em abril de 1989, utiliza os mais modernos recursos tecnológicos interativos, com jogos e aplicativos para tornar a experiência mais enriquecedora para os visitantes, sejam eles crianças ou adultos.

O visitante fica conhecendo a história da cidade, bem como os principais fatos desde a descoberta dos primeiros achados arqueológicos de Jerusalém, durante o segundo milênio A.E.C., chegando até o momento em que se tornou capital do moderno Estado de Israel. As exposições permanentes ilustram a trajetória da cidade através dos tempos, valendo-se de maquetes, mapas, filmes e explicações em hebraico, árabe e inglês. Através dessa narrativa, os visitantes entendem a razão para a importância da cidade para as três grandes religiões monoteístas – Judaísmo, Cristianismo e Islamismo.

O passeio vale não apenas pelo conteúdo do Museu, mas também pela oportunidade de caminhar pela Cidadela, por si só um fascinante sítio arqueológico. As escavações ali realizadas são um testemunho do passado. Ao longo da caminhada pelos corredores externos é possível ter-se uma vista do Cardo Romano, principal local de comércio durante o domínio de Roma, além de outros pontos importantes do Bairro Judaico, além de uma vista de 360º da Cidade Velha, bem como das áreas modernas da capital de Israel.


Hoje, Kfar Kedem, com quase dois hectares de vegetação e árvores nativas de Israel, oferece uma experiência singular aos visitantes

. Kfar Kedem:

Em meio às montanhas da Galileia, depois de Tzipori, em meio à comunidade ortodoxa de Hoshaya, encontra-se Kfar Kedem. Seu interessante centro turístico foi criado em 1992, por Menachem Goldberg. Após servir o exército, formar-se guia e viajar pelo mundo, retornou ao seu país para recomeçar a vida. Estava em busca de um lugar especial para formar família e criar seus filhos, optando então por esse novo assentamento, na Baixa Galileia.

Entre Tiberíades e Haifa, parecia ser o lugar ideal para realizar seus sonhos pessoais e profissionais: criar um local onde se pudesse reviver a vida dos ancestrais do Povo Judeu, em Eretz Israel. Vislumbrava um centro onde se pudesse aprender sobre o dia-a-dia dos antigos sábios, sua relação com a terra e com seu povo e sua atuação como líderes responsáveis pela integração da Torá ao cotidiano da população. Entre as personalidades que viveram em Tzipori o mais famosofoi o Rabi Yehudá Hanassi, ou Yehudá, o Príncipe. Sábio do século 2, ele foi o principal redator da Mishná. Rabi Yehudá vivia em Beit She’arim e foi presidente do Sanhedrin (o Sinédrio, a assembleia dos juízes judeus). Mas, quando sua saúde começou a debilitá-lo, o Imperador romano Antonino, presenteou-o com um terreno em Tzipori. Levando consigo outros Sábios, Rabi Yehudá estabeleceu-se nessa cidade.

Hoje, Kfar Kedem, com quase dois hectares de vegetação e árvores nativas de Israel, oferece uma experiência singular aos visitantes. Estes têm a oportunidade de semear e trabalhar nos campos de trigo, preparar a terra, assar o pão pita nos tradicionais fornos usados na Antiguidade, além de ordenhar ovelhas, preparar leite e queijo de cabras. Durante o inverno podem participar da colheita de azeitona, tirar os caroços e produzir azeite em antigas prensas. Já no verão, é a vez da colheita das uvas e da produção de suco de uvas. Para terminar o dia, um passeio de burrinho pelas alamedas do centro turístico e uma refeição na Tenda Nômade, onde podem, também, conhecer o modo de vida do passado e a importância da hospitalidade.

. Pão artesanal:

O Saidel Artisan Baking Institute (SABI) localiza-se no povoado de Karnei Shomron, na região da Samaria, e é dirigido por Les e Sheryl Saidel, ambos com ampla formação e experiência na arte de produzir pães e doces artesanais. 

O Instituto oferece vários workshops, entre os quais, “O Método Artesanal de Fazer Pães”, “Flat Breads do mundo inteiro” (pita, pão sírio, chapatti e naan, indianos, focaccia, italiana, e tortillas mexicanas, por exemplo), “A Arte da Chalá” e “Os pães do Beit HaMikdash”.

Nesta última oficina, os visitantes têm uma experiência única. Ler sobre os chamados “Pães do Beit HaMikdash” (o Templo Sagrado de Jerusalém) na Torá ou no Talmud é algo que não se compara com a experiência de ver como eram produzidos esses pães, e participar de sua confecção. Os participantes aprendem sobre os diferentes tipos que eram utilizados como oferenda: Korban Todá (Oferenda de Agradecimento), Shtei Halechem (Dois Filões), oferenda levada em Sucot e, os mais famosos de todos, Lechem Hapanim (Pão da Proposição), os doze pães, um para cada uma das Doze Tribos de Israel, que eram colocados na Mesa de Ouro do Tabernáculo, e depois da construção do Templo Sagrado de Jerusalém, no Templo. Os pães ficavam sobre a Mesa por uma semana e, em seguida, eram substituídos por novos, para o Shabat.

Este workshop começa com um tour virtual no Beit Hamikdash, o Templo Sagrado, e é seguido por uma explicação sobre os ingredientes especiais e as técnicas usadas para o preparo dos pães. Depois, os visitantes colocam de fato a mão na massa, sovando-a, moldando-a e assando-a, fazendo uso das mesmas técnicas antigas utilizadas há quase 2 mil anos.

Segundo Les Saidel, a principal diferença entre os pães artesanais e os industrializados são os ingredientes e o trabalho da massa com as mãos, durante todo o processo. No seu caso, por exemplo, utiliza o fermento natural, que passa por um intenso processo até atingir o ponto considerado ideal. A massa é sovada e separada para cada pão de forma totalmente manual. Em seguida, os pães são deixados em repouso a noite inteira, sendo assados no tradicional forno de tijolos somente na noite seguinte.

. A Trilha de Caminhada Sanhedrin:

A Trilha de Caminhada Sanhedrin é a primeira que passa por inúmeros locais e marcos bíblicos, na Baixa Galileia, onde viveram Sábios e Juízes judeus logo após a destruição do Segundo Grande Templo, no ano 70 da E.C. Com a extensão de cerca de 70 Km a partir do Parque Nacional Beit Shearim, próximo à cidade de Tivon, até Tiberíades, a trilha foi inaugurada durante as comemorações de 70 anos do Estado de Israel, em 2018.

Todas as informações sobre a rota podem ser obtidas através de um aplicativo, incluindo links de mapas, vídeos e imagens de reconstruções de sítios arqueológicos ao longo do tempo. A trilha possui cinco roteiros diferentes.

“Ao caminhar utilizando o aplicativo especialmente criado para a região, os visitantes terão a oportunidade de aprender sobre os períodos talmúdico e mishnaico, ‘conectando-se’ com os Sábios que moldaram o Judaísmo”, disse na época Yair Amitzur, inspetor para a Galileia Oriental do Departamento de Antiguidades de Israel.

. Fonte:

Revista Morashá - Edição 106 - Dezembro de 2019

http://www.morasha.com.br/israel-hoje/descobrindo-o-israel-biblico.html

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