19 de março de 2020

O LAR DA DANÇA EM ISRAEL


“O Lar da Dança em Israel”. Assim é considerado o Centro Dellal, passagem obrigatória das companhias do país e do exterior, tanto de dança quanto de artes cênicas

O Centro Suzanne Dellal, em Neve Tzedek, é atualmente a principal referência quando se trata da dança contemporânea do país, com a realização de seminários, programas de formação, festivais de dança e teatro, nacionais e internacionais.


A escolha do local para o estabelecimento do Centro Suzanne Dellal – Neve Tzedek – não foi um acaso e veio de encontro ao projeto municipal de revitalização do antigo centro histórico

Indicadores internacionais de inovação tecnológica e excelência em educação e segurança listam continuamente Israel entre os principais países do mundo. Israel, no entanto, é destaque também em áreas como cultura e arte, surpreendendo muitas vezes os que visitam a região em busca de suas muitas facetas. No coração da antiga Tel Aviv, na área onde a cidade nasceu em 1909, está o bairro de Neve Tzedek. Restaurado nas últimas décadas, sedia, desde 1989, o Centro Suzanne Dellal para Dança e Teatro.

Berço da dança contemporânea israelense e internacionalmente reconhecido como tal, abriga em seu complexo importantes companhias. Entre estas, a Companhia de Dança Batsheva, a Companhia Dança e Teatro Inbal e Inbal Pinto, a Companhia de Dança Avshalom Pollak, que deram ao mundo nomes consagrados como Ohad Naharin, bailarino, coreógrafo e durante 30 anos diretor do Batsheva, entre outros. O Centro possui, atualmente, quatro espaços para apresentações, estúdios para ensaios, restaurante e café, além de amplas praças onde são realizados eventos e espetáculos a céu aberto.

“O Lar da Dança em Israel”. Assim é considerado o Centro Dellal, passagem obrigatória das companhias do país e do exterior, tanto de dança quanto de artes cênicas. Foi criado pela família Dellal, de Londres, em homenagem a sua filha Suzanne, em parceria com a Prefeitura de Tel Aviv-Yafo, a Fundação Tel Aviv e o Ministério de Cultura e Educação de Israel. Desde então, está sob a direção do empresário Yair Vardi, que desde o início compartilhou os objetivos da instituição com seus idealizadores: criar um espaço de referência para a dança contemporânea israelense. Dentro desta perspectiva, a agenda de eventos inclui festivais, eventos e workshops com artistas e profissionais do mundo inteiro nas áreas de dança e teatro.

A agenda de eventos comprova o sucesso do Centro, confirmando que as metas traçadas têm sido superadas. Em 2010 a instituição recebeu o Prêmio Israel durante a comemoração dos 62 anos de renascimento do Estado Judeu. Esta é a mais importante láurea concedida pelo governo. Na ocasião, o então ministro da Cultura Gideon Saar afirmou:

“Em seus 20 anos de atividade em Neve Tzedek o Centro conseguiu elevar a arte da dança em Israel. O esforço e empenho dos profissionais que ali atuam têm formado uma nova geração de artistas e dançarinos. A excelência e a criatividade vistas nos palcos têm ampliado o círculo dos amantes da dança. O Centro abriu os portões dos palcos mundiais de dança e, sem dúvida, foi responsável por colocar a dança israelense no mapa internacional.

Desde o seu estabelecimento a instituição tornou-se o lar e a âncora para todos os empreendimentos artísticos no campo da dança contemporânea em Israel, formando coreógrafos, dançarinos, produtores e diretores”. Anualmente o Centro lança vários programas inovadores que permitem a jovens artistas mostrar sua arte e levar a dança a novos públicos.

. Plano de revitalização:

A escolha do local para o estabelecimento do Centro Suzanne Dellal – Neve Tzedek – não foi um acaso e veio de encontro ao projeto municipal de revitalização do antigo centro histórico, a poucos metros da orla mediterrânea, repleta de construções do século 19, muitas delas deterioradas. Neve Tzedek (Morada da Justiça) foi fundada em 1887, 22 anos antes da fundação de Tel Aviv por um pequeno grupo de famílias judias que desejavam viver fora do limite da cidade portuária de Yaffo, já superpovoada na época.

No início do século 20 era o lar de artistas e escritores, entre os quais o Prêmio Nobel de Literatura S.Y. Agnon. Nos seus primeiros anos anteriores à independência de Israel, abrigava a Escola Yechiely para Meninas e a Escola Alliance para Meninos. Em 1913, foi fundado o Seminário Lewinsky, o primeiro para formação de professores em Tel Aviv, e, em 1914, o primeiro cinema israelense. No entanto, a partir da fundação de Tel Aviv, em 1909, e, principalmente após a independência, a região foi sendo abandonada. A cidade expandiu-se para o norte e para o leste. As construções foram se deteriorando. O antigo bairro, charmoso pelas suas casas, edifícios e ruas, foi sendo substituído por muros e paredes desbotadas e entulhos em quase todas as esquinas.

A partir do início da década de 1980, deu-se início a um plano de revitalização da região com o objetivo de ocupar espaços abandonados e recuperar o charme do passado. Em meio a esse contexto, foi idealizado o Suzanne Dellal Center. Desde então, Neve Tzedek gradativamente voltou à glória de seus primeiros dias, tornando-se um bairro sofisticado e artístico, com lojas de design de vanguarda, moda e artesanato, além de uma feira semanal de agricultores em HaTachaná, a antiga estação ferroviária de Tel Aviv restaurada há alguns anos e transformada em mais um local de lazer. Ali restaurantes badalados estão ao lado de bistrôs elegantes e, à noite, muitos dos cafés ao ar livre se transformam em bares de jazz ao vivo e lounges em meio a um cenário histórico.

As ruas antigamente cheias de entulho e lixo foram totalmente recapeadas, com faixas para pedestres para caminhadas pelas ruelas, entre pequenos prédios de um ou dois andares. Andar pelas alamedas de Neve Tzedek é, atualmente, muito comum entre turistas estrangeiros e também israelenses interessados em conhecer a sua história ou simplesmente passar uma tarde agradável em um dos lugares mais charmosos da cidade. Um point onde a arte vive um constante desabrochar.

Ali estão localizados, entre outros pontos importantes, além do Suzanne Dellal Center, as Casas Shimon Rockah e Sheloush e a antiga Casa dos Escritores, um edifício que recebeu intelectuais como Yosef Haim Brenner, Devorah Baron e Yossef Aharonovitch. A casa abriga atualmente o Museu Nahum Gutman, renomado artista de Tel Aviv, onde exposições permanentes e atividades interativas realçam o cenário artístico deste bairro sereno, bem como outras galerias locais e estúdios de cerâmica.



As ruas antigamente cheias de entulho e lixo foram totalmente recapeadas, com faixas para pedestres para caminhadas pelas ruelas, entre pequenos prédios de um ou dois andares

. Núcleo de referência:

A sede central do complexo Suzanne Dellal está instalada desde os seus primeiros dias no restaurado Edifício Yerushalmi, quando se projetou a criação de um núcleo para dança como jamais existira em Israel, até então. A maioria dos edifícios estavam vazios e em péssimas condições. O Seminário Lewisnksy colapsara e a Escola para Meninas estava desativada, funcionando no prédio apenas um grupo de teatro dirigido por Oded Kotler e Miki Yerushalmi, que se reunia no segundo andar. No pátio externo havia apenas uma pequena construção na qual ensaiava a Companhia de Dança Inbal, fundada por Sara Levi-Tanai.

O projeto do complexo Suzanne Dellal, assinado pelo arquiteto Elisha Rubin, tinha como objetivo transmitir a ideia de movimento e não obstrução. Todo o piso da área ocupada foi nivelado para que as pessoas possam caminhar livremente em qualquer hora do dia, mesmo quando não há atividades no local. Para realizar suas ideias, Rubin pediu à Prefeitura de Tel Aviv autorização para eliminar a Rua Yechieli, situada entre as duas construções principais do complexo, o que lhe foi permitido. Como resultado, muros e portões foram demolidos e os dois edifícios principais foram ligados por uma praça central que funciona como pátio e faixa de pedestres.

Uma faixa para caminhada liga o Centro à Avenida Tel Aviv-Yaffo, começando neste ponto, passando pela ponte situada na Rua Aharon Chelouche em direção às Rua Amzaleg. Em seguida corta através dos pátios, passa pelo poço descoberto durante a construção, cruza a praça principal e adentra através das colunas do edifício principal. A partir desse local, uma fileira de eucaliptos leva diretamente ao Parque Charles Clore e à praia.

O projeto apresentado tinha como objetivo a preservação tanto quanto possível da arquitetura original dos edifícios. O Edifício Yerushalmi teve sua fachada reforçada e restaurada, as paredes internas demolidas e redesenhadas de acordo com as necessidades do futuro teatro. Outras construções também foram preservadas ou reconstruídas seguindo o projeto original. A sede da Companhia de Dança Batsheva, apesar de estar em um novo edifício, foi erguida acompanhando o estilo das demais construções dos arredores, mantendo nas cores e nos detalhes a atmosfera histórica da área.

Entre os anos de 2017 e 2018 o Centro passou por uma reforma que incluiu um novo núcleo, o Studio Zehava e Jack Dellal Studio, assim nomeado em homenagem a dois membros da família Dellal. Localizado no terraço, no terceiro andar, o novo estúdio com 400 metros quadrados e 100 lugares, foi inaugurado por Guy Dellal e contou com apresentações da Batsheva, Escola de Dança Ironi e do Maslool, Programa Profissional de Dança do Centro Ha’itim Bikurey. O segundo andar inclui o Teatro Yerushalmi, agora reformado. Na inauguração, Guy Dellal falou que a criação do Centro Suzanne Dellal é a realização do desejo de seus pais de celebrar a vida de sua filha e enriquecer a vida da população de Tel Aviv.

. Programas de sucesso:

Ao longo de seus 30 anos de existência, o Centro Suzanne Dellal implantou diferentes programas para o fortalecimento da dança contemporânea e das artes cênicas israelenses através de cursos para formação de profissionais, organização de eventos e espetáculos. “Shades in Dance” é um programa bienal que aproxima jovens coreógrafos e diretores artísticos profissionais para produção conjunta de um espetáculo que serve como estreia de novos talentos no cenário da dança israelense. Muitos dos grandes nomes na área de coreografia da atualidade começaram sua carreira nesse projeto, incluindo Barak Marshall, Yasmeen Godder, Inbal Pinto, Emanuel Gat, Noa Wertheim, da Companhia de Dança Vertigo, e muitos outros.

Anualmente realiza, também, uma vez por ano, uma Mostra Internacional levando ao público o que há de mais inovador na dança contemporânea israelense em termos de coreografia, cenários e direção. Participam da mostra tanto companhias tradicionais quanto grupos alternativos e emergentes. A mostra é uma forma de aumentar o intercâmbio entre profissionais e iniciantes. O Centro promove, também, anualmente, o Festival de Dança de Tel Aviv com apresentações de companhias e coreógrafos do mundo todo. Em 1999 foi realizado pela primeira vez, com o nome de Dance Europa, passando a se chamar Festival de Dança de Tel Aviv, em 2003.

Estimular novos talentos é um dos objetivos permanentes da instituição. Dentro desta perspectiva, foi lançado em 1989 o “Curtain Up”, um programa para coreógrafos iniciantes, garantindo subsídios para que sejam apresentados novos trabalhos e divulgados em turnês em Tel Aviv e em várias cidades israelenses. Em todas as suas iniciativas, o Centro Suzanne Dellal conta com o apoio de diferentes ministérios.

O Centro abre espaço também para trabalhos de atores, coreógrafos e companhias de destaque. Nesta linha, recebeu Barak Marshall com os espetáculos Monger (2008), Rooster (2010, Wonderland Part 1 (2011); Renana Raz, em The Diplomats (2011), de Gadi Dagon; e Itzik Galili, com Man of the Hour (2016), entre outros.

Passear pelas ruas e travessas de Neve Tzedek e adentrar o complexo Suzanne Dellal pode acabar se tornando uma experiência surpreendente, pois é sempre possível esbarrar por acaso com diferentes personalidades do cenário intelectual, musical, da dança e do teatro israelense. Talvez em um café ou restaurante, ou mesmo durante uma caminhada descompromissada pelo calçadão, num fim de tarde de verão, na primavera ou no meio da madrugada. Quem sabe, até assistir a um ensaio improvisado de um jovem talento em busca de seu caminho no universo da arte. Afinal, como diz o slogan, Tel Aviv é a cidade que nunca dorme.


. Fonte: 

Revista Morashá - Edição 107 - Abril de 2020

http://www.morasha.com.br/israel-hoje/o-lar-da-danca-em-israel.html

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