Aparentemente, as religiões evangélicas têm, ao longo da última década, se aproximado dos ensinamentos e das orientações de conduta do Velho Testamento, principalmente da Torá
Durante o ato do ex-presidente Jair Bolsonaro na avenida Paulista, em 25 de janeiro de 2024, um trio de mulheres comenta as razões de estarem segurando a bandeira de Israel. O tema reacendeu a discussão a respeito de uma falta de conhecimento sobre o país, sua cultura e religião.
. O que aconteceu:
No vídeo que viralizou nas redes sociais, um repórter pergunta: "Por que vocês estão com a bandeira de Israel?". Uma delas responde: "Porque somos cristãs, assim como Israel". O repórter rebate: "Mas vocês sabem que Israel não é cristão, não é?". E a mulher então responde: "Mas nos representa".
. Qual o problema de dizer que Israel, um Estado judeu, é um país cristão:
Dados publicados em 2021 pelo Escritório Central de Estatísticas de Israel apontavam que os cristãos representam 1,9% da população israelense, equivalendo a 178 mil pessoas, aproximadamente… Isso demonstra claramente que Israel não pode ser considerado um país cristão, dizem os especialistas ouvidos pelo UOL.
A associação entre Israel e os cristãos vem de uma interpretação equivocada das Escrituras feita por pastores cujo engajamento político é mais preponderante que a observação das leis sagradas. Há uma confusão entre a Israel bíblica e a Israel histórica.
Novos cristãos, em sua maioria de vertentes neopentecostais, substituem os textos do Novo Testamento, que contém o evangelho de Jesus Cristo, pela Torá judaica, o Antigo Testamento.
Aparentemente, as religiões evangélicas têm, ao longo da última década, se aproximado dos ensinamentos e das orientações de conduta do Velho Testamento, principalmente da Torá (Pentateuco: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio), afirma o professor Rogério Santos, coordenador do curso de Ciências da Religião da Unisantos (Universidade Católica de Santos).
"O evangelho de Jesus deve ser o norte das religiões que se autoproclamam cristãs. Caso alterem o rumo para os ensinamentos da Torá, devem então assumir a posição do Judaísmo. O fenômeno que estamos percebendo no Brasil, quanto ao equívoco por parte de setores do cristianismo acreditarem que Israel é um país cristão, deve ser analisado no contexto da polarização religiosa intensificada pelo advento das redes sociais", comentou Rogério Santos.
De forma geral, o judaísmo segue o Velho Testamento, os ensinamentos iniciais, de criação do mundo e um comando divino de total devoção e obediência a um comando moral muito sério, explica Vladimir Feijó, professor de Relações Internacionais da Faculdade Arnaldo Janssen, de Belo Horizonte.
O objetivo da doutrina, segundo ele, é provar a fé na divindade, com a possibilidade de uma punição muito forte a quem descumpre esses comandos morais.
Os seguidores do Judaísmo, em especial os residentes em Israel, principalmente os ortodoxos, que influenciam os considerados seculares e tradicionalistas, recusam a existência de Cristo como Messias, seus ensinamentos e o consideram um falso profeta. Assim, quem o segue estaria desonrando a divindade.
"O Cristianismo, apesar de não dar descrição da origem do mundo, descreve uma nova faceta de Deus, que teria se revelado. De alguma forma, chocado e desanimado com práticas passadas, esse Deus optou por um caminho novo, um comando novo do amor, do respeito ao próximo e já não necessariamente a uma punição, se não seguir rigorosamente ditames morais", disse Vladimir Feijó.
. Explicando as diferenças entre Israel bíblica e histórica:
Há a Israel bíblica, representando o povo escolhido por Deus, e a histórica, o Estado de Israel, formado em 1948, mas a diferença entre as duas está sendo apagada dos ensinamentos nas igrejas, por exemplo.
Enquanto a Israel bíblica é associada ao povo judeu, formado por Abraão, e que posteriormente foi eleito como o povo de Deus sob a tutela de Moisés, o Estado de Israel é uma nação reconhecida pela ONU, composta por judeus, muçulmanos e uma minoria de cristãos.
O surgimento de Israel foi impulsionado pelo movimento sionista no início do século 20, culminando na declaração da ONU em 1948, que previa a criação de dois estados: Israel e Palestina.
Só o primeiro se concretizou, o que culminou no aumento das tensões entre Israel e os palestinos. O Brasil e outras nações defendem a criação de dois estados independentes, Israel e Palestina.
Mas interesses geopolíticos, especialmente dos Estados Unidos, têm dificultado essa solução, na opinião do padre católico Juarez de Castro.
"A religião judaica não reconhece Jesus Cristo como o Messias. Os judeus ainda esperam, e isso faz parte de toda a doutrina, o Messias que virá, segundo as profecias. Nós, cristãos, vemos Jesus como esse Messias. O cristão de hoje só defende Israel porque acredita que os judeus gostam de Jesus. São os evangélicos que veem essa presença de Israel, essa presença do povo de Deus na Terra Santa, como uma maneira também de dizer que a segunda volta de Cristo se dará ali, quando todo o povo escolhido estiver de volta em Israel. Então é como se a gente forçasse um povo com a barra de identificar o Estado de Israel com qualquer pensamento cristão", concluiu o Padre Juarez de Castro.
. Fonte:
https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2024/02/27/israel-biblica-e-historica-confusao-induz-evangelicos-a-erro-de-julgamento.
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