24 de agosto de 2019

A POLÊMICA CONTINUA: LILITH, A 1ª MULHER DE ADÃO?!!


Lilith rebelou-se contra a “superioridade” masculina de Adão, o que a torna uma figura problemática para o Judaísmo e para o Cristianismo, ambas religiões patriarcais


Tradições hebraicas, pergaminhos babilônicos e até vestígios na própria Bíblia indicam que a primeira mulher de Adão não foi Eva. De acordo com o mito, Deus criou primeiro Adão e Lilith do pó da terra. Assim, a primeira mulher não foi Eva. Mas Lilith não era submissa a Adão. Ela tinha sido criada da mesma forma que Adão, por isso exigia igualdade e não aceitava ser dominada pelo marido. A briga entre Adão e Lilith se tornou tão grande que ela tomou o nome de Deus em vão e abandonou o jardim do Éden. Deus enviou três anjos para convencer Lilith a voltar para o Éden e se submeter a Adão mas ela escolheu rejeitar a reconciliação. Por isso, ela adquiriu malevolência. Adão ficou sozinho e triste, então Deus criou Eva para ser sua companheira. Eva foi criada a partir da costela de Adão, diferente de Lilith, e aceitou sua posição de submissão ao marido.


Algumas histórias ainda acrescentam que Lilith foi a serpente que convenceu Eva a comer do fruto proibido. Ela tinha ciúmes de Eva e Adão, por isso decidiu destruí-los, levando-os a pecar

. Mito: 1ª feminista?!

"Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual" disse Lilith ao Todo Poderoso, o qual retrucou que era assim que Ele havia feito, e assim continuaria. Lilith então se rebelou, e decidiu abandonar o Jardim do Éden.

Adão, agora solitário e muito triste, suplicou a Deus "Soberano do universo! A mulher que você me deu fugiu!". Deus enviou então três anjos para trazê-la de volta: Sanvi, Sansavi e Samangelaf. O nome de tais anjos ainda integram o folclore europeu, e muitas pessoas penduram placas na porta de casa com os nomes desses anjos para 'afastar o espírito de Lilith'.

Os anjos Sanvi, Sansavi e Samangelaf voltaram então dizendo que Lilith havia se recusado a voltar. Foi quando Deus fez outra mulher para Adão, dessas vez de sua costela, para não correr o risco de que essa também se rebelasse.

Há trechos na Bíblia que conhecemos que dão pistas sobre a existência de Lilith. Em Genêsis 2:23, está escrito "E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada." Há variações na tradução em que ele diz "esta sim é osso dos meus ossos", como se houvesse existido outra mulher antes dela que não fosse feita dele.


Lilith está presente em várias culturas, e sua história é muito conhecida no meio hermético judaico. Ela também é estudada em diversas obras da literatura. Lilith aparece como um demônio noturno na crença tradicional judaica e islâmica, e como um espírito feminino vingativo em outras culturas como a hebraica.

1) Desaparição editorial:

No primeiro capítulo do livro Gênesis, que faz parte da Torá e da Bíblia, Deus cria “homem e mulher” à sua imagem e semelhança. Mas, logo no capítulo seguinte, somente Adão é mencionado. Onde foi parar a mulher do primeiro capítulo? É só no segundo capítulo que Eva é criada, e no terceiro que recebe seu nome. Essa inconsistência sugere que parte do texto tenha sido editada ou removida.

2) Lilith já estava lá:

O registro mais antigo dessa figura está nas gravuras dos amuletos de Arslan Tash, relíquias que datam do século 7 a.C. Alguns historiadores argumentam ainda que Lilith é mencionada ainda antes, na demonologia suméria do terceiro milênio a.C. Na Épica de Gilgamesh, poema mesopotâmio de 2100 a.C., há uma possível menção a Lilith como malévola. Ou seja, Lilith já era conhecida antes de compilarem o Gênesis, o que reforça a teoria de que foi “apagada da história”

3) Primeira mulher, primeira rebelde:

Segundo o Alfabeto de Ben Sirá, um dos textos que compõem a coleção de escritos rabínicos chamado Talmud,Lilith foi criada a partir da poeira junto a Adão – portanto, antes de Eva. Mas ela negou-se a deitar sob ele na hora do sexo por não se sentir inferior e, em protesto, abandonou o Éden. Ou seja, segundo o antigo folclore judaico, Lilith rebelou-se contra a “superioridade” masculina de Adão, o que a torna uma figura problemática para o judaísmo e para o catolicismo, religiões patriarcais

“Agora sim”

Outra evidência de que Eva não foi a primeira pode ser encontrada nos versículos de sua criação, no capítulo 2 do Gênesis. Em várias edições do texto, Deus decide dar ao homem uma companheira “idônea”, o que sugere que alguma primeira parceira,“não idônea”, já tinha sido criada antes. Reforça essa teoria a fala de Adão em certas edições da Bíblia (como a King James Atualizada) quando vê Eva: “Esta, sim, é osso dos meus ossos”

4) Motivação política:

Outro motivo para Lilith ter sumido do Gênesis é histórico. Durante anos nos séculos 7 e 6 a.C., os hebreus, patriarcas da tradição judaico-cristã, ficaram exilados na Babilônia. Durante essa época, os babilônios passam a adorá-la, cultuando-a como deusa da fertilidade. Por ser adorada por seus captores babilônicos, os hebreus retiraram Lilith do mito de criação da humanidade, e subsequentemente do Gênesis judeu e católico

5) Mulher-coruja:

Lilith também é citada no Livro de Isaías, que faz parte tanto da Torá quanto da Bíblia. Porém, ao longo de diversas traduções, seu nome foi sendo suprimido até virar “animal noturno” ou “coruja”. Só algumas traduções que usam como base os textos em hebraico (mais antigos) mantêm “Lilith” em Isaías 34, no trecho em que o profeta descreve como a ira de Deus destruirá a Babilônia e, na terra desolada,Lilith encontrará um lugar para repousar. Ou seja: o profeta conhecia a figura da “primeira mulher”.Textos hebraicos e rendições artísticas de Lilith a descrevem como uma mulher alada e serpentina. Então, dá para associá-la à figura da serpente alada do Éden

6) Linhas tortas:

A Igreja Católica, em particular, deu um “delete” definitivo na única menção a ela dentro da Bíblia na metade do século 16, durante o Concílio de Trento. Nele, a Igreja decidiu tornar “oficial” a Bíblia Vulgata, uma tradução para latim do século 4 que já havia trocado a palavra “Lilith” em Isaías 34 por “ibis”. A adoção de uma versão da Bíblia que já tinha dado sumiço em Lilith permitiu que ela fosse aos poucos desaparecendo da tradição católica


O registro mais antigo dessa figura está nas gravuras dos amuletos de Arslan Tash, relíquias que datam do século 7 a.C.

. Por outro lado:

. Nada é certo quando falamos em textos antigos

. A teoria acadêmica dominante sobre o Gênesis diz que a “incoerência” entre o primeiro e o segundo capítulo seria reflexo da tentativa de juntar dois mitos de criação em um livro só, e não sinais de que parte dele foi “apagado”

O Gênesis é aberto a intepretação. Há quem leia o primeiro capítulo como um resumo geral da criação do mundo, para só no segundo entrar em detalhes

. Tanto Gênesis quanto Isaías são textos antigos, têm origens incertas e passaram por diversas traduções até as versões atuais, que diferem entre si. Ou seja, não existem versões “definitivas” dos livros

. Todas as conexões entre a figura do folclore judaico Lilith e as civilizações pré-cristãs são contestáveis. Alguns consideram os amuletos de Arslan Tash falsificações. A passagem da Épica de Gilgamesh que cita Lilith pode ser uma adição do século 6 a.C., e seu significado é incerto

. O único texto que de fato menciona Lilith como primeira mulher de Adão é o Alfabeto de Ben Sirá, do século 7, que alguns consideram satírico, embora faça mesmo parte do Talmud judaico

. Textos sagrados não são livros de história. Discutir o que “realmente” aconteceu no Éden é igual a discutir se Capitu traiu Bentinho: não há uma resposta.

. Fontes:

https://super.abril.com.br/mundo-estranho/teoria-da-conspiracao-lilith-a-primeira-mulher-de-adao/

Livros Jardim do Éden Revisitado, de Roque de Barros Laraia,Lilith e o Arquétipo do Feminino Contemporâneo, de Cátia Cilene Lima Rodrigues, Como Ler o Gênesis, de Tremper Longman, The Epic of Gilgamesh: The Babylonian Epic Poem and Other Texts in Akkadian, de Andrew George, Tanach, Talmud e Épica de Gilgamesh, e sites Bible Getawaw, Sacred Tests, Biblioteca Pleyades e dss.collections.imj.org.il

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