10 de setembro de 2021

MORASHÁ (TRADIÇÃO): OS RITUAIS DE UM ENTERRO JUDAICO


Anunciada a morte de um judeu, a primeira providência da família é comunicar o Chevra Kadisha, grupo de voluntários que orienta e realiza todos os procedimentos funerários

Cuidado e respeito com aquele ou aquela que acaba de morrer são atitudes tomadas em todas as religiões. Entretanto, os rituais pós-morte em algumas delas elevam o zelo com o falecido e preservam tradições distintas e até curiosas. É o caso do Judaísmo e suas leis mosaicas, que conservam, há milênios, os mesmos procedimentos no momento da despedida.

Anunciada a morte de um judeu, a primeira providência da família é comunicar o Chevra Kadisha, grupo de voluntários que orienta e realiza todos os procedimentos funerários. “É considerado um grupo santo, pois a tarefa realizada se relaciona diretamente com a santidade”, explica o rabino Pablo Berman, da Comunidade Israelita do Paraná, .

A preparação do corpo é conhecida como Tahara, o momento de purificação. Um banho cuidadoso com água pura é feito cuidadosamente pelo grupo, enquanto preces são recitadas pedindo perdão, em nome do falecido, pelos possíveis pecados cometidos em vida. Tudo é realizado no próprio cemitério israelita, em um local reservado.

A tradição segue o que diz o Livro de Eclesiastes: “assim como veio, assim irá”. Para os judeus, a passagem designa tratamento semelhante ao dado aos recém-nascidos, que são imediatamente lavados quando saem do útero para que fiquem fisicamente limpo e espiritualmente puro. Para os judeus, o mesmo deve ser feito no momento da partida.

Para o rabino, essa é uma das maiores ações de amor ao próximo no Judaísmo. “Tudo é feito de maneira voluntária. Acreditamos que a alma ainda está próxima à pessoa nesse momento”. Ao fim do banho ritual, o falecido é vestido com o Tachrichim, um conjunto de roupas brancas, com camisa, calça e luvas, que representam a neutralidade com que a alma irá se encontrar com o Criador, segundo a tradição judaica.

Os olhos recebem uma pedra cada um. Também é repousada uma terceira pedra na boca. A religião ensina que isso impede o questionamento da própria morte ou ainda que o falecido se encontre com Deus antes do Juízo Final. Depois disso, o caixão é fechado ou o corpo enrolado em um pano branco e ocorre um breve velório. Orações fúnebres são recitadas em hebraico. Em seguida, sete parentes enlutados rasgam um pedaço da própria roupa em alusão ao coração dilacerado pela perda.

. Sepultamento:

Pela lei judaica, o corpo deve ser sepultado o mais breve possível, de preferência no mesmo dia da morte. A explicação é de a alma não consegue descansar até ser sepuldada. A única exceção à regra é em caso de mortes violentas, em que decisões judiciais podem atrasar a cerimônia.

O corpo deve ser sepultado em um caixão simples, sem ornamentos -- apenas uma Estrela de Davi na parte superior, que leva também as iniciais do morto. Segundo a Associação Religiosa Israelita Chevra Kadisha, do Rio de Janeiro, a tradição frisa “a igualdade de todos os seres humanos em sua morada final. Na morte, rico e pobre se encontram, pois ambos foram criados por Deus” (Provérbios 22:2)”. O sepultamento deve ser feito em um cemitério israelita, denominado por eles como “casa do mundo” ou “casa da eternidade”, em um jazigo único, aceitando-se somente um parente a mais em cada túmulo.


O caixão é colocado na cova em contato com a terra, enquanto um membro da família é responsável por jogar as primeiras pás de terra que começam a cobrir a madeira. Uma lápide é colocada com escritos hebraicos informando nome, data de nascimento e morte, além de citações bíblicas.

Em geral, depois de um ano, pedras são colocadas sobre o sepulcro, baseando-se na tradição bíblica, quando Jacó colocou pedras para sua esposa Raquel, em sinal de homenagem. Esse gesto, explica a Associação Israelita carioca, assegura que os mortos não serão esquecidos e a sepultura não será profanada. “Uma das funções básicas da pedra tumular é manter viva a memória do falecido. E, de acordo com o Talmud [livro sagrado], a memória dos mortos torna-se menos intensa após 12 meses.”

. Judaísmo não permite a cremação:

A cremação não é permitida em nenhuma circunstância no Judaísmo . A religião entende que o ato era originalmente um ritual pagão e a lei judaica proíbe a mutilação do corpo. O rabino Pablo Berman, explica que, segundo a crença, é levado um tempo até que a alma seja desabrigada por completo da carne e o processo deve seguir a decomposição natural do corpo. A cremação, por sua vez, separaria, de maneira brusca e dolorosa, os elementos carnais e espirituais.

. Fonte:

Jornal Gazeta do Povo

https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/as-tradicoes-de-um-enterro-judaico-auwyfcjo3y0i26ezz567gsxp8/

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