14 de junho de 2012

OS MOVIMENTOS NO JUDAÍSMO




Uma das verdadeiras dificuldades que as pessoas que procuram o judaísmo têm é decidir qual movimento dentro do judaísmo escolher. No Brasil, fala-se em três movimentos principais; além destes, há o que podemos chamar de instituições religiosas tradicionais não filiadas a nenhum dos movimentos mas que carregam as tradições de onde vieram seus fundadores (Rússia, Romênia, Bessarábia, Hungria, Portugal, Egito, Líbano, etc.); bem como alguns judeus que não se filiam a nenhum dos grupos. Esta seção inclui informação sobre os três movimentos principais, por ordem alfabética: Conservador (ou Massortí), Ortodoxo e Reformista. Ao redor do mundo há ainda outros movimentos menores do judaísmo, como o movimento Reconstrucionista, por exemplo, que praticamente só existe nos EUA. Para informação específica sobre conversão para qualquer um dos movimentos, acesse o link "Mais Informações Sobre Conversão ao Judaísmo." O foco desta seção é a informação sobre os movimentos. É muito difícil generalizar acerca desses grupos, pois existe uma grande diversidade dentro de cada um dos movimentos. Assim, o primeiro e melhor passo para um candidato à conversão é pesquisar sobre cada grupo que lhe pareça interessante e, especialmente, conversar com o rabino ou dirigentes do movimento em questão a fim de agendar uma entrevista, ou mesmo uma visita à respectiva sinagoga local para assistir a um serviço religioso. Caso não existam sinagogas em sua cidade, é aconselhável entrar em contato inicialmente por meio de e-mail ou telefone e seguir os passos anteriormente citados. As descrições abaixo não são declarações oficiais de cada movimento e por isso constituem somente o ponto de vista do nosso site sobre cada um dos três principais grupos. Sugerimos que você contate os movimentos diretamente para receber uma declaração oficial e as regras de conversão de cada um. 

JUDAÍSMO CONSERVADOR/MASSORTÍ:

Este movimento é conhecido como Conservative Judaism nos EUA e como Movimento Massortí em outras partes do mundo. Nos EUA, representa cerca de 40% a 45% dos judeus filiados a um dos movimentos. O judaísmo conservador/massortí entende que o cumprimento da lei judaica (Halachá) por parte dos judeus é obrigatório. Portanto, os judeus conservadores têm a obrigação de obedecer a todos os ensinamentos (mitsvót, literalmente “mandamentos”) do judaísmo, como por exemplo, as leis relativas ao Shabat e a uma dieta casher. O movimento conservador/massortí defende que a lei judaica, por sua própria natureza, é passível de evolução na medida em que os indivíduos aprendem mais com a interpretação da Torá (em um sentido estrito, o Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia Hebraica; em um sentido amplo, o conjunto de todas as leis e tradições judaicas). Desse modo, o movimento conservador/massortí propõe novas interpretações à lei judaica. Assim como no movimento reformista, o serviço é igualitário e inclusivo: homens e mulheres sentam-se juntos nos serviços religiosos, compõem o minián (quorum mínimo de dez pessoas judias adultas para a realização de um serviço religioso público) e sobem ao púlpito para ler na Torá. Pode-se andar de carro no Shabat para ir à sinagoga e as mulheres podem ser ordenadas como rabinas. Na prática, muitos judeus conservadores/massortís são mais flexíveis no cumprimento de todas as leis religiosas, ou as obedecem somente em parte. A maior parte do serviço religioso nas sinagogas é feita em hebraico, com a inclusão de trechos traduzidos da liturgia ou de outras reflexões inspiradoras feitas na língua natal. O Judaísmo conservador/massortí é geralmente visto, talvez injustamente, como um meio termo entre os ortodoxos, à sua direita, e os reformistas, à sua esquerda. Os rabinos conservadores/massortís não celebram nem participam de casamentos ecumênicos ou inter-religiosos, que são os casamentos entre um judeu e um não-judeu. Vale a pena esclarecer que o casamento entre uma pessoa judia com outra nascida não-judia mas que se converteu ao judaísmo é um casamento judaico; assim sendo, um rabino conservador realizará esta união normalmente. No caso de conversão, os rabinos conservadores/massortís exigem que um candidato do sexo masculino faça o brit milá (circuncisão ritual); no caso do indivíduo já ser circuncidado, deve-se realizar uma cerimônia de hatafát dám para se retirar uma gota de sangue do pênis, “completando” então o brit milá. O mesmo é exigido dentro do movimento ortodoxo e reformista. Além disso, deve-se realizar a tevilá, ou seja, o ritual de imersão em um local de água corrente (na maioria das sinagogas há uma micvá, uma espécie de piscina alimentada por água das chuvas, especialmente preparada para este fim) e o comparecimento perante um bet din, uma corte religiosa. As candidatas também devem passar pelo mesmo ritual de imersão e comparecer perante o bêt din (veja a seção "O Processo de Conversão" para mais detalhes). Em geral os rabinos conservadores/massortís reconhecem as conversões feitas por rabinos de outros movimentos desde que as exigências ritualísticas tenham sido realizadas. As conversões nesse movimento são reconhecidas pelo Estado de Israel para efeitos de Aliá, a Lei do Retorno. Há diversos websites que representam o movimento conservador/massortí. Assim como os demais movimentos, o judaísmo conservador/massortí é composto de várias organizações. Nos EUA, isso inclui, por exemplo, a Rabbinical Assembly (Assembléia Rabínica), a Association of Conservative Rabbis (Associação dos Rabinos Conservadores) e a United Synagogue of Conservative Judaism, que é a associação das congregações conservadoras/massortís. O maior seminário rabínico do movimento é o JTS (Jewish Theological Seminary). No Brasil não há um website específico para todo o movimento conservador/massortí; cada sinagoga ou congregação tem o seu próprio site, entre os quais estão a ARI (Associação Religiosa Israelita) e a CJB (Congregação Judaica do Brasil) no Rio de Janeiro; a Comunidade Shalom e a CIP (Congregação Israelita Paulista) em São Paulo, sendo que esta última está filiada tanto ao movimento conservador/massortí quanto ao movimento reformista. 

JUDAÍSMO ORTODOXO:

 Nos EUA o judaísmo ortodoxo representa cerca de 10% dos judeus filiados. Judeus ortodoxos aceitam integralmente a Halachá e, diferentemente dos judeus conservadores/massortís, entendem que ela não é passível de modificação. A ortodoxia entende que as 613 mitsvót contidas na Torá são obrigatórias para todos os judeus. Eles acreditam que a Torá foi revelada diretamente por D-us; em decorrência disso, as suas leis são divinas e devem ser obedecidas. Assim, os ortodoxos são os mais tradicionais entre todos os grupos judaicos. Homens e mulheres sentam-se separados por uma mechitzá (divisória) nos serviços religiosos; somente os homens compõem o minián (quorum mínimo de dez homens judeus adultos para a realização de um serviço religioso público) e sobem ao púlpito para ler na Torá. Não é permitido andar de carro no Shabat nem para ir à sinagoga e não há rabinas ortodoxas. Na prática, os judeus ortodoxos tendem a cumprir as leis judaicas em áreas como manter o Shabat e seguir uma dieta casher. As exigências para a conversão ortodoxa são as mesmas que as do judaísmo conservador/massortí. A principal diferença entre eles é que os rabinos ortodoxos geralmente não aceitam as conversões praticadas por rabinos não-ortodoxos (conservadores/massortís e reformistas), pois não reconhecem o bet din (corte religiosa) formado para avaliar os conhecimentos e a convicção do candidato. Este fato tem causado uma polêmica considerável dentro da comunidade judaica, e é importante que os candidatos potenciais à conversão estejam cientes deste problema. As dificuldades surgem em casos específicos. Aqui vai um exemplo: uma mãe nascida não-judia foi convertida por um rabino não-ortodoxo e se casou com um homem judeu. Os filhos deste matrimônio foram criados como judeus, são considerados judeus pela comunidade em geral, mas não pelo movimento ortodoxo, pois a conversão da mãe não é reconhecida pelos ortodoxos (os filhos de uma mãe judia são automaticamente considerados judeus, mesmo que não tenham sido criados como judeus). Conseqüentemente, se um desses filhos desejar se casar com uma pessoa ortodoxa, um rabino ortodoxo se recusará a celebrar o casamento sem uma prévia conversão ortodoxa. Os rabinos ortodoxos não celebram nem comparecem a um casamento ecumênico. Cabe ressaltar que, em Israel, as conversões realizadas por todos os movimentos (ortodoxo, conservador/massortí e reformista) dentro e fora do Estado de Israel são legalmente reconhecidas, conferindo aos convertidos o direito de Aliá, a Lei de Retorno, que defende o direito de todo judeu morar em Israel. No entanto, o judaísmo ortodoxo é o único movimento cujos casamentos feitos em Israel são reconhecidos oficialmente; os casamentos feitos pelos demais movimentos só são reconhecidos em Israel se forem realizados no exterior. Há diversas organizações ortodoxas ao redor do mundo, com práticas diferentes. A Orthodox Union é a maior delas. No Brasil não há um website específico para todo o movimento; a organização mais conhecida é o Beit Chabad, que também tem alguns websites regionais. 

JUDAÍSMO REFORMISTA:

Nos EUA os reformistas representam cerca de 45% dos judeus filiados e são o maior grupo judaico norte-americano. No Brasil não há estatísticas a respeito, mas trata-se de um grupo minoritário. Embora não haja dados estatísticos precisos, acredita-se que a maioria dos judeus filiados sejam conservadores/massortí, e provavelmente a parcela de ortodoxos seja maior aqui do que nos EUA. É muito grande o número de judeus não-praticantes e/ou não filiados a quaisquer dos movimentos. Os judeus reformistas aceitam a lei judaica, porém colocam ênfase na autonomia moral dos indivíduos que decidem quais leis têm significado religioso para eles. No judaísmo reformista, o estudo da Torá, do Talmud e da Halachá são estimulados e considerados a fonte maior da tradição judaica, com o foco maior nas ações sociais e éticas baseadas nos escritos dos profetas. É importante mencionar que todos os movimentos judaicos apóiam e mantêm inúmeras entidades de cunho social, pois o conceito de tsedacá, justiça social, é fundamental dentro do povo judeu e considerado uma mitsvá, um mandamento. Geralmente, o serviço religioso reformista nem sempre é feito inteiramente em hebraico, como nos movimentos ortodoxo e conservador/massortí; muitas orações são feitas na língua natal e podem ser incluídos textos inspiradores. Assim como no movimento conservador/massortí, o serviço religioso é igualitário: homens e mulheres sentam-se juntos nos serviços religiosos, compõem o minián (quorum mínimo de dez pessoas judias adultas para a realização de um serviço religioso público) e sobem ao púlpito para ler na Torá. Pode-se andar de carro no Shabat para ir à sinagoga e as mulheres podem ser ordenadas como rabinas. O movimento reformista é muitas vezes considerado, inclusive por alguns dos seus próprios membros, como o mais flexível em termos de práticas religiosas. Por exemplo, a dieta casher é estimulada, mas não obrigatória. Atualmente todas as instituições judaicas reformistas oferecem comida casher dentro de suas sedes, numa tendência geral, dentro do movimento, de retorno às práticas tradicionais. O judaísmo reformista aceita a matrilinearidade (filhos de uma mãe judia são judeus), mas defende também a patrilinearidade sob certas condições. Assim sendo, considera também que os filhos de um pai judeu com uma mãe não-judia são judeus desde que tenham sido criados dentro do judaísmo, participem da vida judaica e se identifiquem publicamente como judeus por meio de diversas ações religiosas formais. Portanto, para o movimento reformista os filhos de um casamento desta natureza não precisam se converter para serem reconhecidos como judeus. O reconhecimento da patrilinearidade não é compartilhado pelos movimentos conservador/massortí e ortodoxo, que não reconhecem esses filhos como judeus. Conservadores e ortodoxos seguem apenas a matrilinearidade, ou seja, só reconhecem como judeus os filhos de uma mãe judia, seja ela nascida judia ou convertida de acordo com cada movimento. O potencial de problemas aqui é óbvio. O movimento reformista conta com o maior número de convertidos entre todos os movimentos. Famílias compostas por casamentos inter-religiosos são aceitas, e nos EUA há um programa efetivo para alcançar e incluir estas famílias no meio judaico. As conversões realizadas por rabinos reformistas, dentro e fora de Israel, são reconhecidas pelo Estado de Israel, conferindo aos convertidos o direito de Aliá, a Lei de Retorno, que defende o direito de todo judeu morar em Israel. Para mais informações, visite os websites do Movimento Reformista e da World Union for Progressive Judaism (WUPJ). No Brasil a única organização a representar o movimento reformista é a WUPJ for Latin America (em português, inglês e espanhol). 

IMPORTANTE! 

Por fim, é fundamental ressaltar que o chamado "judaísmo messiânico" não é um movimento judaico. Apesar de assim se auto-intitular, não faz parte do povo judeu e é completamente estranho ao mesmo, uma vez que nega a Unicidade de D-us (um dos princípios fundamentais do judaísmo) e desconsidera inúmeros requisitos necessários para a identificação do Messias. Esta premissa é compartilhada por todos os movimentos: “judaísmo messiânico” não é judaísmo. 

Créditos: Texto adaptado do site em inglês www.convert.org com a permissão de Barbara Shair Tradução: Fábio Lacerda Edição: Adriana Lacerda, Uri Lam e Mariane Dinis Adaptação para o judaísmo brasileiro: Uri Lam Agradecimentos especiais: Uri Lam, Mariane Dinis e Fernanda Goulart