13 de janeiro de 2013

NA ADOLESCÊNCIA: MÃE PROCURA FILHO DADO PARA ADOÇÃO NO LITORAL CATARINENSE

Fonte: Diário Catarinense

Órfãos do Brasil - 03/10/2012

Aos 15 anos *Maria ficou grávida do seu primeiro filho quando morava na cidade de Lages, região serrana do Estado, e a gravidez precoce gerou desespero na família. A vizinha dela apresentou um advogado chamado Carlos e sua mulher, Carmem. Eles moravam em Camboriú, litoral catarinense e se ofereceram para levar o filho de Maria a uma família em Joinville. 



A angústia sem face: A mulher preferiu não se identificar, pois teme a retaliação de familiares

Dias antes do parto, Miriam foi levada a chácara do casal em Camboriú. De lá, a garota foi para a maternidade Chiquinha Galotti, em Tijucas, na Grande Florianópolis, onde deu luz ao bebê. Dias depois voltou para Lages, sem a criança.

Ela lembra que o casal ainda combinou com os pais dela para assinarem os documentos da adoção, mas nunca mais fizeram contato. Maria conta que os documentos da criança ficaram com o casal que fez a adoção.  
Familiar: Maria                                                                               
Parente que procura: filho      
Cidade: Tijucas  
Hospital: Chiquinha  Galotti   
Nasceu:14 junho  de  1984 
                                                                                                                   
* Maria teve seu nome trocado pois prefere não se identificar.
Versão inglês:
When she was fifteen, Maria* had her first child in Lages and the early pregnancy caused despair in her family. Her neighbor knew a lawyer called Carlos and his wife Carmem, who used to live in Camboriú and had offered to take the child to a family in Joinville. 

Days before giving birth, Maria were left to the family ranch. From there she went to Chiquinha Galotti Maternity, in Tijucas, where she gave birth. A few days later she went back to Lages without the child. 

She remembers the couple arranged with her parents to sign the adoption papers, but they never made contact again. Maria has no documents of the child.
Relative: Maria
Looking for:
Son City: Tijucas
Hospital: Chiquinha Galotti
Date of birth: June 14, 1984
* Maria had her name changed because prefers to remain anonymous   
Versão em hebraico:
 בגיל 15, נולד למרים* הבן הראשון, בעיר לאז`ס. ההריון בגילה הצעיר גרם צער רב למשפחה. שכנה שלהם הכירה את עורך הדין, קרלוס, ואשתו, כרמן, אשר התגוררו בקאמבוריו והציעו לקחת את הילד למשפחה בג`וינווילה. מספר ימים לאחר הלידה, מרים נלקחה לאחוזת הזוג בקאמבוריו. משם היא יצאה לבית היולדות צ`יקיניה גאלוטי, בטיז`וקס  שם ילדה. כמה ימים אחר כך היא חזרה ללאז`ס ללא הילד. היא זוכרת שהזוג קבע חתימת מסמכי אימוץעם הוריה, אך מעולם לא יצר קשר. למרים אין אף מסמך של הילד. 
בת משפחה: מרים
מחפשת אחר: בן
בית חולים: צ`יקיניה גאלוטי
תאריך לידה: 14 ביוני, 1984

MÃE SE ARREPENDE E BUSCA FILHO DADO PARA ADOÇÃO LOGO APÓS O NASCIMENTO

Fonte: Diário Catarinense

Órfãos do Brasil03/10/2012 | 16h34

Bebê teria sido entregue a cartorária em Rio do Sul, no Alto Vale de Itajaí, em Santa Catarina


Nena espera há 27 anos para reencontrar o filho (Foto: Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal)

Nena como é conhecida pelos amigos, entregou seu filho para adoção em 1985. A criança nasceu no hospital e maternidade Samaria, em Rio do Sul. Na época com 19 anos, Nena dormia na rua porque a família não aceitava a gravidez. Durante o dia, ganhava comida e ajuda da irmã. 

Ela conta que quando seu filho nasceu não tinha onde ficar. Desesperada resolveu aceitar a oferta de uma mulher dona de um cartório em Rio do Sul. Nena escutou a promessa que poderia manter contato com o filho, mas depois do dia 29 de outubro daquele ano, quando entregou a criança, nunca mais teve notícias.

Familiar: Marcia Aparecida Machado

Parente que procura: filho

Cidade: Rio do Sul.

Nasceu em: 09 de outubro de 1985

Versão em inglês: 

Nena, as she is known by friends, gave her son up for adoption in 1985. The child was born in Samaria Hospital. In that time, she was nineteen and used to sleep out on the streets because her family didn't accept the pregnancy. During the day, she was aided by her sister. 

She tells that when her son was born she didn't have a place to sleep. Desesperate, she decided to accept the offer of a woman, who was owner of a register office in Rio do Sul. The woman said she could be in touch with her son, but after October 29, whe, she gave the child up, she never heard about her son again.

Relative: Marcia Aparecida Machado

Looking for: Son

Date of birth: October 9, 1985

City: Rio do Sul   

Versão em hebraico: 

ננה, כפי שהיא נקראת בפי חבריה, מסרה את בנה לאימוץ ב-1985. הילד נולד בבית החולים והיולדות סמריה. באותה תקופה, כשהיתה בת 19, ישנה ברחובות משום שמשפחתה לא קיבלה את הריונה. במשך היום, קיבלה אוכל ועזרה מאחותה. היא מספרת שכשבנה נולד, לא היה לה מקום לינה. מתוך יאוש, החליטה לקבל אתהצעתה של בעלת משרד רישום בריו דו סול. ננה קיבלה הבטחות שתוכל לשמור על קשר עם הילד, אך מאז ה-29 באוקטובר, כשמסרה את הילד, לא שמעה עליו דבר.

בת משפחה: מריה אפרסידה משדו

מחפשת אחר: בן

עיר: ריו דו סול

תאריך לידה: 9 באוקטובר, 1985

TRÁFICO DE BEBÊS 25 ANOS DEPOIS: AS PROFUNDAS FERIDAS DE BRASILEIROS QUE FORAM VENDIDOS NA INFÂNCIA PARA FAMÍLIAS EM ISRAEL

Fonte: Diário Catarinense

Órfãos do Brasil: 04/08/2012 | 11h21

Repórter: Mônica Foltran, enviada especial/Israel
monica.foltran@horasc.com.br


Série especial conta o drama de bebês brasileiros vendidos como uma mercadoria qualquer para casais estrangeiros




Nascido na região sul do Brasil, Lior Vilk aprendeu a língua portuguesa assistindo novelas brasileiras em Israel e tem dedicado os últimos oito anos da sua juventude em busca de sua identidade brasileira

No dia 9 de maio deste ano, a dona de casa Marilene Espindola recebeu um telefonema do Diário Catarinense.

– A senhora tem uma filha chamada Maya?
– Tive
– Pois nós a localizamos. E gostaríamos de conversar com a senhora – diz a repórter.
– Vocês estão brincando comigo! É um trote? – pergunta a mulher, em cuja cabeça começa a rodar um filme.

As imagens que passaram na cabeça de Marilene têm um roteiro de terror. É uma história que assombra milhares de mulheres brasileiras há duas décadas e meia, quando o Brasil proporcionou um escândalo conhecido na época como Tráfico de Bebês – um comércio que exportou especialmente crianças catarinenses e paranaenses, um volume estimado de 3 mil por ano, entre 1985 e 1988.
Quadrilhas formadas por advogados, juízes, promotores, donos de cartórios, despachantes, enfermeiras e médicos, com a conivência de policiais, pagavam um salário mínimo para grávidas, em situação vulnerável, entregarem os filhos para adoção compulsória. Algumas mulheres venderam os fetos ainda no ventre – e muitas vezes por menos de um salário.

Outras mães nunca viram um tostão; apenas foram convencidas de que viveriam melhor com uma boca a menos dentro de casa e ainda proporcionariam um futuro brilhante ao rebento. Bebês acabaram trocados por móveis, o que na polícia as gangues organizadas justificavam como "doações espontâneas".
Em Camboriú, um dos principais focos de atuação das quadrilhas no país, as gangues chegaram a usar uma chácara para montar o que a Polícia Federal classificou como "chocadeira", uma improvisada maternidade e berçário, local onde ficavam os nenês retirados das mães. Em apenas uma operação, a PF resgatou 20 bebês, devolvidos aos pais.

No Exterior, principalmente em Israel, os bebês valiam de US$ 10 mil a até US$ 40 mil. O comércio clandestino enriqueceu os "capos" do tráfico, que, beneficiados pela legislação da época, cumpriram penas irrisórias na cadeia e conseguiram manter parte dos bens adquiridos com a venda de crianças.
O escândalo colocou pelo menos 40 pessoas na cadeia. Pressionado pela opinião pública, o Congresso Nacional endureceu as leis de adoção ainda no final dos anos 1980, estabelecendo normas para dificultar o trânsito de bebês de uma família para outra, a fim de sufocar o tráfico.

O que nunca cicatrizou, porém, foram as feridas abertas nas mães que entregaram os filhos por necessidade ou ingenuidade e os estragos na personalidade dos bebês. Vinte e cinco anos depois, o DC localizou algumas dessas crianças em Israel, país para onde foi levada a maioria daqueles bebês pobres. Com idades entre 25 e 28 anos, hoje a maioria deles enfrenta profundas crises de identidade. E querem conhecer suas famílias biológicas.

Um deles, Lior Vilk, tem dedicado os últimos oito anos à busca de sua identidade brasileira. Remeteu inúmeras correspondências a órgãos oficiais no Brasil na esperança de conseguir auxílio e informações, mas o que obteve, diz, foram respostas evasivas, num jogo de empurra. Com a documentação falsificada, ele não sabe sequer se o nome escrito no papel é mesmo o de sua mãe biológica.
Pais adotivos localizados pelo DC também sofrem crise existencial

Depois de reler milhares de páginas dos processos volumosos da época, localizar mães que entregaram seus filhos e viajar até Israel, o DC narra, de hoje até sábado, um roteiro repleto de dramaticidade:

Boa parte dos filhos exprime dor e tristeza em todas as frases e comportamentos.

As mães brasileiras – dançarinas de boate e prostitutas na época, desempregadas ou miseráveis agricultoras – até hoje choram a perda dos filhos. Nunca mais se recuperaram.

Os pais adotivos hoje se deparam, dentro de casa, com a crise existencial e dolorida dos adultos sem pátria.

Os líderes do tráfico, depois da cadeia, vivem em bonança, aproveitando a qualidade de vida de Santa Catarina.