16 de novembro de 2008

O LADINO OU JUDEU-ESPANHOL

A LÍNGUA FALADA PELA COMUNIDADE JUDAICA DE ORIGEM IBÉRICA HÁ CINCO SÉCULOS ATRÁS VIVE UMA TENTATIVA DE RENASCIMENTO




Quinhentos anos passaram desde que se ouvia e falava esta língua em Portugal e Espanha. Chama-se Ladino e era a língua sefardita dos judeus ibéricos, feita de mesclas de castelhano e português medievais com hebraico. O Ladino foi extinto na Península Ibérica há cinco séculos, mas estima-se que ainda é falado por cerca de cento e cinquenta mil indivíduos em comunidades sefarditas em Israel, Turquia, nos Balcãs, Oriente Próximo e norte de Marrocos. Também é conhecido como espanhol sefardita e judeoespanhol.


RENASCIMENTO DO LADINO


O ladino ou judeu-espanhol, a língua falada pela comunidade judaica de origem ibérica, vive uma tentativa de recuperação em Istambul depois de décadas de falta de uso, que o Instituto Cervantes está apoiando através das Primeiras Jornadas da Cultura Sefaradi, que tiveram lugar recentemente na Turquia.
A maior parte dos turistas espanhóis que visita Istambul pensa que talvez só possam ouvir seu idioma dos hábeis comerciantes do Grande Bazar, dispostos a aprender a língua de Cervantes para bajular seus clientes.
Mas não, na antiga capital otomana existe uma grande comunidade cuja língua materna é também o espanhol. Trata-se dos sefaradis: os judeus expulsos da Espanha em 1492 em virtude do édito de Alhambra e que conservaram sua língua e seus costumes através dos séculos.
'Aqueles que os mandam embora perdem, eu ganho', conta-se que disse o sultão otomano Bayaceto II quando abriu suas portas à chegada dos sefardis e era verdade, pois os judeus-espanhóis contribuíram no desenvolvimento econômico do império que os acolheu.
As Primeiras Jornadas da Cultura Sefardi organizadas pelo Instituto Cervantes de Istambul tiveram precisamente o objetivo de ajudar na conservação do ladino. Para comemorar o 60º aniversário do semanário sefardi Shalom, as colocações das jornadas versaram sobre a imprensa em ladino e contaram com a presença, entre outros, do catedrático da Universidade Ben Gurion Tamar Alexandre e a pesquisadora Elena Romero.
Mas apesar do ladino ser a língua materna dos 20.000 sefardis da Turquia, sofre um severo abandono por parte dos jovens que preferem falar em turco, o idioma oficial e mais corrente no país.
'Até a geração dos que nasceram nos anos 60, o ladino era uma das línguas que se falava nos lares sefardis. No entanto, agora fala-se cada vez menos porque já não é a língua que se fala nas casas, de forma que, se um jovem sefaradi quer aprender ladino deve matricular-se num curso', explica Karen Gerson Sarhon com ligeira tristeza em sua língua judeu-espanhola, que recorda muito o castelhano antigo.
Sarhon é a responsável pelo suplemento em ladino 'El Amaneser' ('O Amanhecer') e diretora do Sentro de Investigasiones sobre la Kultura Sefardi Otomana-Turka e uma das personalidades mais empenhadas na defesa da cultura do judeu-espanhol.
Para Sarhon existem vários fatores pelos quais se foi abandonando o judeu-espanhol, entre eles se destacam a influência do francês durante o século XIX, o abandono do alfabeto 'Rashi' pelo ladino e a implantação da educação nacional turca após a instauração da República por Mustafá Kemal Atatürk.
'Quando foi fundada a República da Turquia, houve uma mudança na filosofia da comunidade sefardi e seus dirigentes decidiram que a comunidade se abrisse e se integrasse na sociedade turca', explica Sarhon.
‘Os sefardis queriam deixar claro que eram cidadãos turcos de fé judaica, mas leais à República da Turquia' — diz a intelectual, acrescentando — ‘Assim se puseram a aprender o turco porque ainda que o falassem pouco, tinham um forte sotaque espanhol'.
Este abandono se produziu também por uma queda do prestígio da língua ladina —agravada pela imigração de muitos sefaradis a Israel, onde o hebraico se sobrepôs ao judeu-espanhol, o que perdurou até os anos 90.
'Estávamos a ponto de perder toda nossa cultura, mas o trabalho de diferentes pessoas em todo o mundo conseguiu que agora começássemos a ver certa recuperação', afirma Sarhon.
De fato, alguns desses jovens sefaradis que já não falam ladino em casa se matriculam em cursos de espanhol moderno.
'Se aprendem o espanhol moderno a herança sefaradi será acessível para eles porque uma língua não é uma coisa abstrata, mas é através da língua que se produz a cultura e a forma de pensar. E nós somos um povo mediterrâneo que fala espanhol' reitera.
Sefarad, a terra espanhola que os judeus espanhóis deixaram para trás há séculos, segue na mente dos sefardis’, diz ela.
'Quando um sefaradi vai à Espanha, seu sentimento é muito curioso porque não se sente num país alheio, porém como em casa', assegura Sarhon.
Se os jovens sefaradis da Turquia conseguem não esquecer sobre suas origens, o ladino poderá experimentar um renascimento porque, como afirma um refrão judeu-espanhol título do periódico 'El Amaneser': 'Kuando muncho eskurese es para amaneser'. (Publicado em Iton Gadol e traduzido por Szyja Lorber para o jornal Visão Judaica).