31 de janeiro de 2013

LIVRO: OS JUDEUS NO RIO DE JANEIRO


No dia 14 de maio de 1948, o líder do movimento sionista David Ben Gurion proclamava a independência de Israel: a fundação do Estado encerrava uma ambição cultivada havia séculos pelos judeus na Diáspora. Nada mais grandioso a ser perpetuado na memória judaica do mundo inteiro - nele, a semente do judaísmo espalhou-se, cresceu e multiplicou-se.

Justo no ensejo dos 50 anos de criação do Estado de Israel, Henrique Veltman sustenta a necessidade de preservação da memória judaica: "A História do Brasil", sentencia ele, "é essencialmente uma história judaica. A contribuição dos judeus à história brasileira é excepcional e precisa ser resgatada"

Essa é a proposição do mais recente livro de Veltman, "A História dos Judeus no Rio de Janeiro"- seguindo a rota traçada em "Histórias de Vovó Rachel - A Criação do Mundo", "Crônica do Judaísmo Carioca", "A História dos Judeus em São Paulo", vídeo "Os hebraicos da Amazônia".

O livro foi lançado no último dia junho de 1998, numa concorrida noite de autógrafos na Livraria Letras & Expressões, em Ipanema.

Veltman dedica o seu livro "aos muitos historiadores, professores e jornalistas que escreveram, direta e indiretamente, sobre a vida judaica no Rio de Janeiro", certamente imbuído desse espírito inerente a, por exemplo, Luiz Edmundo, João do Rio, Emílio de Menezes, Machado de Assis.

Faz com que saborosas histórias e descrições da vida carioca, nos séculos passados e no atual, recheiem sua narrativa da história propriamente dita dos judeus do Rio de Janeiro. A qual, segundo Henrique Veltman, "deve ser contada na verdade a partir do descobrimento do Brasil". Nada mais oportuno, portanto, por ocasião das comemorações dos 500 anos.
Em seu livro, Veltman evoca a presença de israelitas nas esquadras portuguesas no século XV e nos primeiros tempos da colonização; retrata as relações do imperador D.Pedro II com a comunidade judaica, a integração dos imigrantes com o "bota-abaixo" de Pereira Passos e a reformulação arquitetônica da cidade, no início do século XX, sua inserção na vida literária, artística e social do Rio; descreve a visita de Albert Einstein, em 1925, a chegada de famílias que passaram a ter papel de destaque, a contribuição ao esforço de guerra contra a Alemanha e a presença de judeus nos pelotões da FEB; informa sobre a convivência dos judeus com o Estado Novo; descreve usos e costumes, aborda tendências políticas, dedica um capítulo à comida judaica, indicando até restaurantes, e enfatiza "a alma encantada das ruas", ao relacionar as muitas ruas avenidas, praças e obras públicas da cidade que ostentam nomes judaicos ou ligados ao judaísmo.
Henrique Veltman foi o jornalista responsável da revista O Hebreu, fundada em 1980 por Eliahu Chut.  Henrique Veltman ocupou durante quase 20 anos as principais páginas da revista, com seus comentários e informações. No Rio de Janeiro, em 1960, na companhia de um grupo de jovens jornalistas israelitas, fundou "Menorah" que existe ainda hoje, sob a forma de revista mensal. A pedido do Instituto Brasileiro de Cultura Judaica, o braço brasileiro do American Jewish Committee, escreveu para a revista "Comentário", em 1965, na edição comemorativa do IV Centenário do Rio de Janeiro, a "Crônica do Judaísmo Carioca", reproduzida, anos mais tarde, pelo Jornal Israelita, também do Rio.
Em São Paulo, foi incumbido pela Federação Israelita de coordenar as comemorações do Iom Haatzmaut de 1971. No ano seguinte, foi indicado diretor da Federação. Em 1973, por ocasião da Guerra do Iom Kipur, coordenou o trabalho conjunto da imprensa judaica, de informação imediata à Comunidade dos fatos que ocorriam nas frentes de batalha. Ainda em 1973, convocou a reunião preliminar dos profissionais judeus brasileiros da área de Comunicação, em São Paulo. Desta reunião nasceu um trabalho permanente de intercâmbio, principalmente dos jornalistas.
Em 1974, foi eleito diretor da Organização Sionista do Brasil, presidida na época pelo prof. Bóris Blinder Z'L'. Em 1976, participou do Congresso Sionista, em Jerusalém, como delegado da Tnuat Aliá do Brasil. Sua intervenção em plenário está registrada nos Anais do Congresso. No regresso ao Brasil, foi eleito sucessivamente para a Secretaria Geral da Tnuat Aliá em S.Paulo e Tnuat Aliá do Brasil.

Foi diretor de divulgação de A Hebraica, em 1972. É membro honorário do Kibutz Bror Hail. É membro do Avodá, no Brasil.

Que sorte a nossa de contar com um jornalista e escritor do gabarito de Henrique Veltman para pesquisar e recontar a saga dos imigrantes judeus que vieram para o Rio de Janeiro. Através das páginas dos seus livros, recordam-se os fatos, resgata-se a memória, registra-se a história” - Rabino Henry I. Sobel

Henrique Veltman lança agora “A História dos Judeus no Rio de Janeiro. Trata-se de um estudioso da memória judaica no Brasil. Em 1983, já havia feito, por encomenda do Beth Hatefutsot (museu da Diáspora de Tel Aviv) uma pesquisa sobre os israelitas na Amazônia. Em 1986, pesquisou e produziu o documentário “Marrocos, uma nova África”. Neste seu novo livro, ele aborda os mil e um aspectos da contribuição dos judeus na formação da sociedade carioca” - Murilo Melo Filho, Manchete

AMAZÔNIA, TERRA PROMETIDA - A HISTÓRIA DOS JUDEUS SEFARDITAS QUE EMIGRARAM PARA O PARÁ E O AMAZONAS

Fonte: revista Veja Online
Edição: 1946. 8 de março de 2006
O Brasil recebeu cinco ondas de imigração judaica. A primeira ocorreu em 1630, quando Pernambuco foi tomado pelos holandeses. Nos 24 anos de dominação holandesa no Nordeste, eles fundaram a primeira colônia hebraica e a primeira sinagoga na América. Sob um governo de tolerância religiosa, os judeus chegaram a constituir 50% da população branca pernambucana nesse período. Com a derrota dos holandeses, os judeus perderam seus negócios. Expulsos, ajudaram a fundar Nova Amsterdã, hoje Nova York. Dessa fase, sobraram apenas as ruínas da sinagoga pernambucana. A segunda leva deixou marcas mais profundas, embora não aparentes. No início do século XIX, judeus marroquinos emigraram para a Amazônia. Eles foram atraídos pela promessa de liberdade de culto e por uma campanha publicitária internacional feita pelo governo da então província do Grão-Pará. Em 1880, chegaram a Manaus. A assimilação desses sefarditas (como são chamados os judeus do norte da África) foi tamanha que, atualmente, a proporção de descendentes de judeus entre a população branca da Região Norte é a maior do país. 
Uma investigação genética dos brasileiros feita pela Universidade Federal de Minas Gerais mostra que 16% da população da Amazônia que se declara branca tem algum judeu entre seus antepassados. É uma proporção muito maior do que a exibida por São Paulo, onde vivem 60% dos 120.000 judeus brasileiros, ou por Pernambuco, estado no qual essa cifra não supera 2%. A razão para haver tantos descendentes de judeus na Amazônia se deve a uma peculiaridade. Nos primeiros anos do século XIX, praticamente só entraram no Brasil sefarditas do sexo masculino. Os mais ricos conseguiram abrir lojas de secos e molhados em Belém e outras cidades da região. A maioria, porém, adotou a profissão de regatão, como é conhecido o caixeiro-viajante que troca mercadorias industrializadas por produtos da floresta, como látex e peles de animais. Os regatões sefarditas só traziam a família para o Brasil ou se casavam com judias depois que acumulavam dinheiro. No meio-tempo, faziam como os portugueses: amancebavam-se com índias, caboclas e até mesmo mulheres brancas católicas. 
A definição cultural de judeu não segue integralmente a genética. Só é considerado como tal quem tem mãe judia e pratica a religião judaica. Por esse motivo, a maioria dos descendentes dos regatões sefarditas não é reconhecida como parte dessa comunidade. E a própria lógica da miscigenação fez com que os laços com a cultura hebraica fossem completamente perdidos nas gerações seguintes. Muitos nem sequer sabem que descendem de judeus. Outros, ainda, se dizem judeus, mas praticam o cristianismo. Em muitos casos, o ambiente isolado da Amazônia esmoreceu a religiosidade dos imigrantes, que tinham dificuldade para praticar sua fé. A primeira sinagoga de Belém só foi inaugurada em 1824, catorze anos depois da chegada dos primeiros sefarditas. O cemitério judaico de Belém, o primeiro do país, foi inaugurado somente em 1848. Para manterem vivas suas tradições, os imigrantes mais fervorosos passaram a copiar a Torá, o livro sagrado dos judeus, e outros textos religiosos a mão em cadernos comuns. Em celebrações religiosas, como a da circuncisão, a cachaça substituía o vinho. Pela tradição, esse ritual deve ser realizado oito dias após o nascimento do menino. Na Amazônia, eles aconteciam com até dez anos de atraso. No início do século XX, um menino foi circuncidado aos 12 anos, porque o pai esperou que nascessem seus irmãos para ir uma vez só da floresta até Belém. O aspecto paradoxal é que, se o isolamento na floresta diluiu a religiosidade de parte dos sefarditas, ele propiciou a preservação de seu idioma, o hakitía. Hoje, a língua subsiste apenas em determinadas localidades da Amazônia e no próprio Marrocos. "A importância da floresta na manuntenção do hakitía é inestimável", diz o linguista Mohamed El-Madkouri Maatoui, da Universidade Autônoma de Madri.
No fim do século XIX, os sefarditas enriqueceram com o ciclo da borracha. Os mais bem-sucedidos mandaram seus filhos estudar no Rio de Janeiro. Em 1890, as notícias da súbita prosperidade do Pará motivaram uma nova onda de imigração judaica. Em boa parte, ela foi financiada pelos que já estavam estabelecidos no país. A população judaica no interior do Pará cresceria, assim, exponencialmente. Para se ter uma idéia, metade dos 14.000 habitantes de Cametá, um entreposto comercial da Amazônia, era constituída por sefarditas. O êxito financeiro dos imigrantes provocou uma onda de anti-semitismo. Há relatos de ataques feitos a residências e lojas de imigrantes entre 1889 e 1901. As agressões começavam com passeatas e terminavam com depredações. Embora tenham sido chamadas de mata-judeus, não há registro de que tenham resultado no assassinato de ninguém. 
O isolamento imposto aos sefarditas na Amazônia chamou a atenção de rabinos no Marrocos, no início do século XX. Para fiscalizar o cumprimento das normas religiosas pela comunidade estabelecida na floresta, Shalom Emanuel Muyal foi enviado à região, em 1908. Dois anos depois de chegar a Manaus, Muyal foi vitimado por uma doença tropical, provavelmente febre amarela. E aqui reside um aspecto curiosíssimo do sincretismo brasileiro: depois de sua morte, sabe-se lá o motivo, ele ganhou fama de milagreiro entre os católicos locais. Muyal foi enterrado num canto do principal cemitério de Manaus (não havia cemitérios judaicos na capital amazonense naquele tempo) e sua sepultura tornou-se alvo de peregrinações. A fim de evitar que as velas acesas pelos fiéis danificassem a laje do túmulo, o rabino da sinagoga de Manaus mandou construir um muro ao seu redor. Os católicos não se deram por vencidos: passaram a usar o obstáculo como suporte para placas e quadros em que pedem graças e agradecem pelos pedidos que teriam sido atendidos por Muyal. "É impressionante: ele se tornou o santo judeu dos católicos da Amazônia", admite Isaac Dahan, da sinagoga de Manaus. A devoção é tanta que, nos anos 60, uma tentativa de trasladar os restos mortais do rabino milagreiro para Israel foi abortada em virtude das manifestações indignadas dos amazonenses.
Quando o ciclo da borracha terminou, no início do século XX, as famílias judias mais ricas de Belém mudaram-se para o Rio de Janeiro. "Lá, há uma espécie de sucursal da nossa comunidade", diz o rabino Moyses Elmescany, da capital paraense. Boa parte da influência dos judeus na Amazônia foi apagada. A sinagoga de Cametá, por exemplo, foi engolida pelo Rio Tocantins e não foi reconstruída. Hoje, nenhum dos habitantes da cidade segue o judaísmo. Em localidades como Óbidos, Breves e Muaná, no Pará, e Tefé e Humaitá, no Amazonas, existem apenas sepulturas. Da procura por uma extensão da Terra Prometida na Amazônia, restaram genes escondidos.

MISS BRASIL 1958: ADALGISA COLOMBO É SEPULTADA NO CEMITÉRIO ISRAELITA DE VILAR DOS TELES NO RIO DE JANEIRO





Adalgisa Colombo Teruskin (Rio de Janeiro, 11 de janeiro de 1940 - 17 de janeiro de 2013) foi a Miss Brasil 1958.

Atuou em 1956 no filme Com Água na Boca, no papel de Teresinha. Foi a primeira representante do antigo Distrito Federal, atual Rio de Janeiro, a ser coroada Miss Brasil, num concurso realizado em 1958 no próprio Rio de Janeiro. No Miss Universo, realizado nesse ano em Long Beach, Califórnia (EUA), ficou em segundo lugar, perdendo apenas para Luz Marina Zuluaga. Renunciou durante o reinado por estar de casamento marcado, mas oficialmente é a vencedora do concurso; nenhuma outra candidata a sucedeu até a realização do Miss Brasil 1959. Trabalhou como apresentadora da TV Rio durante a década de 60, onde apresentou programas diversos, a maioria dirigidos ao público feminino. Em 2004 foi homenageada pelo site Misses do Brasil como a "Miss Brasil Inesquecível", por ocasião dos 50 anos do concurso.
O segundo casamento de Adalgisa foi com o empresário Flávio Teruszkin. Depois da união, ela se converteu ao Judaísmo, religião do marido, com quem morava numa casa no Joá, na zona oeste carioca. No final dos anos 80, o casal, que adotou dois filhos, se mudou para Portugal, fugindo da onda de sequestros no Rio de Janeiro. A modelo criou ainda a filha de sua única irmã, que morreu aos 29 anos com problemas cardíacos. Adalgisa trabalhou na Rádio Globo e na TV Rio, além de ter sido garota propaganda de produtos como o cigarro Charm, numa época em que fumar era símbolo de elegância. Apesar de dizer que detestava frequentar eventos como o Fashion Week, ela continuou sendo uma referência no mundo da moda e reproduzia aprendizados dos tempos da Casa Canadá. Um deles era jamais usar chapéu com cabelo solto. A eterna miss dizia: “Essa combinação deixa qualquer mulher parecida com uma bruxa”.
Adalgisa Colombo morreu no Rio de Janeiro, em 17 de janeiro de 2013, aos 73 anos. As causas da morte não foram divulgadas pela família. Seu corpo foi enterrado no Cemitério Israelita de Vilar dos Teles, na Baixada Fluminense. 

Fonte: Wikipedia