10 de agosto de 2023

PORCOS & JUDAÍSMO


Não é o único animal na lista não casher, mas recebe o pior tratamento que qualquer outro


Provavelmente não existe nenhum animal tão repugnante para as sensibilidades judaicas quanto o porco. Não é só porque não pode ser comido: há muitos outros animais que também não são casher, mas nenhum deles causa tanto nojo quanto o porco. Coloquialmente, o porco é o símbolo máximo de ódio; quando você diz que alguém “agiu como um chazir [porco]”, isso sugere que ele ou ela fez algo anormal e abominável. Na verdade, muitas pessoas pensam em carne de porco, presunto, bacon, etc., como os alimentos menos casher existentes.

Vamos explorar as razões para isso. Também descobriremos que, por pior que seja o passado do porco, ele tem um futuro brilhante pela frente.

. Por que não comer carne de porco?

A Torá fornece dois sinais físicos que marcam os animais terrestres casher: eles ruminam (ruminam) e têm cascos totalmente fendidos. Em seguida, a Torá lista várias criaturas que têm apenas um ou outro desses sinais e, portanto, não são casher. Um deles é o porco, já que tem cascos fendidos, mas não rumina – é portanto, impuro para você.1

Muitos comentaristas oferecem razões para a mitsvá de manter comida casher. No entanto, o Talmud afirma que as leis de cashrut se enquadram na categoria de chok, mitsvot sem qualquer justificativa, e faz a seguinte observação em relação à carne de porco:

Nossos rabinos ensinaram:. . . ‘Guarde Meus chukim’2 – isso refere-se às mitsvot contra as quais Satanás e as nações gentias argumentam, [considerando-as ilógicas e merecedoras de zombaria], como [não] comer carne de porco… 3

Portanto, esta mitsvá é supra-racional, não algo que possamos entender logicamente.

Na mesma linha, o Rabino Elazar ben Azariah declara4 que não se deve falar: "Eu me abstenho de carne de porco porque não gosto", mas sim que o fazemos por causa do mandamento de D'us.

. Atitudes em relação ao Porco:

Não é o único animal na lista não casher, mas recebe o pior tratamento que qualquer outro. Alguns exemplos:

Evitando seu nome: Muitos chamam o animal davar acher, “outra coisa”, ao invés de seu nome próprio. Essa prática remonta ao Talmud.5
Proibição de criar porcos: “Os sábios proibiram criar porcos em qualquer lugar [seja na Terra de Israel ou em outro lugar]... Os sábios proferiram uma maldição sobre quem cria cães ou porcos, porque eles causam danos frequentes e graves.”6

O Talmud7 fala que esta atitude remonta à guerra civil entre os irmãos hasmoneus Hircano e Aristóbulo (67 BCE). Aristóbulo e suas forças se barricaram no Monte do Templo, onde foram sitiados pelo exército de Hircano. Todos os dias, os homens de Aristóbulo mandavam uma cesta cheia de moedas e recebiam em troca cordeiros para as ofertas diárias do Templo. Até que um dia os sitiantes enviaram no lugar um porco:

Quando estava na metade do caminho, ele cravou seus cascos na parede, e toda a Terra de Israel, (cerca de 1000 milhas) tremeu. Naquela época [os sábios] declararam: Maldito aquele que cria porcos...!

Martírio em vez de comer carne de porco: o imperador grego-sírio Antíoco IV, como parte de sua campanha para proibir o judaísmo, enviou seus soldados para a Terra de Israel com ordens de forçar os judeus a oferecer porcos como sacrifícios aos deuses helenísticos e consumirem a carne. Um judeu de 90 anos, chamado Elazar, desafiou a ordem e sofreu uma surra selvagem - mesmo quando lhe foi oferecida a chance de apenas fingir que comia quando, na verdade, receberia carne casher. Os soldados gregos encontraram na cidade de Modiin, Matityahu, o Hasmoneu, que deu início a revolta dos Macabeus que libertou o país do domínio helenístico.

Então, o que ele fez de errado?

Por que o Judaísmo abomina tanto o porco?

Transmite doenças: “Dez medidas de pragas desceram ao mundo; os porcos pegaram nove delas.”8 Essas doenças também são facilmente transmissíveis de porcos para humanos,9 como de fato ainda é o caso com a gripe e outros vírus.
Espalha sujeira: Maimônides10 observa que os porcos chafurdam na lama e comem coisas nojentas. Se os judeus pudessem comer carne de porco, eles criariam porcos e, assim, introduziriam imundície em suas casas.
É símbolo de hipocrisia: ele finge ser um animal casher. O Midrash11 faz uma comparação entre o Império Romano e o porco: 12 Assim como o porco estica os cascos quando está descansando, como se dissesse “Eu sou casher”, os romanos também fizeram uma demonstração de justiça para mascarar sua avareza e corrupção.

. Uma História Chassídica:

O seguinte conto mostra outra faceta do estilo de vida do porco e sua relevância para nós:

Havia dois irmãos, um magnata rico, e o outro um pobre, mas uma pessoa temente a D'us. Quando a filha do irmão pobre estava em idade de casar, ele dirigiu-se ao irmão rico para pedir-lhe ajuda com as despesas do casamento. O homem rico ficou feliz em ver o irmão novamente e o convidou para um longo passeio por sua casa palaciana.

epois de um tempo, porém, o pobre irmão se cansou disso e pediu a seu irmão interrompesse a caminhada.

Este último não conseguia entender: "Você não gosta da beleza primorosa de cada canto da minha casa?"

“Há uma criatura”, respondeu o outro, “que chafurda na lama o dia todo. Se você perguntar o que ele quer, tudo o que consegue pensae é, ‘mais lama!’

"Você também está mergulhado na 'lama' dos prazeres materiais, e tudo o que deseja é mais 'lama' e mais posses, em vez de se concentrar nas coisas realmente importantes na vida."

. Perspectivas Futuras:

Hoje, então, o porco representa o lado ruim da vida. Acontece, porém, que no futuro teremos permissão para comê-lo:

Por que o porco é chamado [em hebraico] chazir? Porque no futuro, D'us o devolverá [le-hachazir] para Israel.13

Na era de Mashiach, o mundo em geral será purificado e alcançará um nível espiritual superior, de modo que o porco se tornará permissível para comer. (Como isso se encaixa com uma das crenças básicas do Judaísmo, de que as leis da Torá nunca mudarão? Rabino Chaim ibn Attar sugere14 que D'us alterará a fisiologia do porco para que de fato rumine e, portanto, carregue ambos sinais casher.)

. Notas:

1. Vayicrá 11:7; similarmente em Devarim 14:8.

2. Vayicrá 18:4.

3. Talmud, Yoma 67b.

4. Sifra, Kedoshim 9.

5. Talmud, Shabat 129a, Pesachim 3b, et al.

6. Mishnê Torá, Leis de Danos Materiais 5:9.

7. Talmud, Bava Kamma 82b.

8. Talmud, Kidushin 49b.

9. Ibid., Taanit 21b.

10. Guia para os Perplexos 3:48.

11. Bereshit Rabá 65:1.

12. Curiosamente, uma legião romana (X Fretensis) usou o javali como uma de suas insígnias. Além disso, uma das famílias romanas proeminentes era a dos Porcii ("porcos"), cujos membros masculinos e femininos tinham os respectivos nomes de Porcius e Porcia.

13. Essa ideia aparece em vários comentários bíblicos e talmúdicos medievais, mas não é encontrada em nenhuma fonte da era talmúdica. Veja Likutei Sichot 29: 128, onde várias versões desse ditado são citadas.

14. Ohr ha-Chaim, Vayicrá 11:7.

. Fonte:

Por Mendy Kaminker

https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/4978075/jewish/Porcos-Judasmo.htm

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