25 de agosto de 2008

Yom Kippur 2007: Judeus que odeiam judeus reformistas

Tradução: Jornal Ha'Aretz - Ano: 2007




O cenário: Numa classe em uma academia de ginástica no conceituado ginásio de um kibutz em Judean Hills, Israel, poucos dias antes do Yom Kippur. O instrutor ainda está para chegar. "Temos um Minian (número mínimo de 10 judeus necessarios para a abertura e leitura da Torá) , vamos começar assim mesmo", diz um membro da classe.

"Espere!", diz outro do alto de sua bicicleta ergométrica. "As mulheres não são contadas em um Minian".

"As mulheres não contam em um Minian", confirma uma mulher da classe.

O homem na bicicleta é insensível. Sua resposta vem tranqüilamente: "Os "Reformim" (Judeus Reformistas) não são judeus."

Há aqueles entre nós, judeus israelenses, que se definem como tradicionalistas ou seculares, assim como Stalin, que não toleram o Judaísmo Reformista e aqueles que optam por praticá-lo.

"Tenho que admitir que o pseudo-espiritualismo que a Sinagoga Reformista oferece é estranho para mim", escreveu Amir Gafi em uma coluna de opinião do jornal Yedioth Ahronoth esta semana.

Olhando de perto os "neo-seculares, particularmente aqueles que se felicitam por serem iluminados e pluralistas", Amir decide que o seu nível de observância religiosa durante o Tom Kippur não irá incluir os mandamentos de jejum e a reavaliação de sua alma.

"No Yom Kippur eles vão pular estas duas cláusulas quando visitarem uma sinagoga reformista. Posteriormente, eles vão saturar seus amigos menos iluminados e seculares, como eu, com a experiência purificante vivenciada lá".

Há uma certa diferença no tom das palavras. Parte porque elas abrem novos caminhos e vão muitíssimo além da antiquada observação: "A sinagoga que eu não freqüento é ortodoxa".

Em particular, as palavras identificam e castigam um novo elemento, ainda considerado um inimigo em nosso meio. As palavras se referem aos Reformim (Judeus Reformistas) com o mesmo desprezo uma vez reservado aos árabes ou judeus que vieram do outro lado da divisa Ashkenazita-Mizrachi.

As palavras referem-se aos Reformim como um bando de curiosos, iludidos, cacuete de uma tribo judaica, como o mapa que o jornal Yedioth Ahonot publicou na manchete no dia anterior, salpicando-o com o questionamento de judeus que não são realmente judeus em uma dúzia de países, do Brasil à China.

No fundo, todos nós sabemos qual é realmente o problema. É a certeza de que nós silenciosamente concordamos com Gafi Amir, que debocha e até tem pena desses fiéis "patéticos" e "exóticos"
Mas mesmo isso não será suficiente. Pegando emprestado outra manchete do Yedioth, Amir nos explica o quanto esses Reformim estão "atrás" para poderem fazer parte do "nosso" grupo.

A fotografia registra a quantidade de celebridades que participaram de uma conferência sobre Kabbalah (Misticismo Judaico) em Tel Aviv - entre as estrelas não-judaicas estavam Madonna, Demi Moore, Ashton Kutcher, James Van Der Beek [ "Dawson"], e Rosie O'Donnell – Amir acredita ter dado seu golpe de misericórdia nos Reformim e em outros neo-secularistas que, diz ela, seletivamente executam apenas "maneirismos do Judaísmo:"

"Muitos farão piadas às custas de Madonna / Esther e a delegação de estrelas de Hollywood que desembarcaram em Tel Aviv. Eu não consegui ver diferença entre eles."

Inerente ao ódio pela Reforma é a suposição de que mesmo os mais "porco recheado" dos judeus seculares conhecem o autêntico Judaísmo quando o vêem e uma fraude quando não o reconhecem. Eles podem adivinhar de alguma forma a falta de compromisso e observância no Movimento Reformista, quando eles mesmos nunca estudaram, não praticam, não acreditam,
Fundamentalmente, o preconceito contra a Reforma ignora o fato de que em todo Israel, judeus criados em lares ortodoxos têm se tornado membros ativos de congregações Reformistas e Conservadoras porque eles acreditam na religiosidade judaica e na igualdade da mulher no seio da observância judaica.

Suspeito que grande parte do desprezo relacionado ao Judaísmo Reformista reflete uma certa frustração quanto à incapacidade de muitos israelenses de se sentir parte de qualquer congregação, ortodoxa, conservadora ou reformista. Para muitos, o fosso entre a cultura secular israelense e as formas disponíveis de religião organizada têm que ser conectadas pela liturgia e costumes que alcancem os não-religiosos.

Curiosamente, o veneno anti-Reforma aflora em nós de forma mais contundente nesta altura do ano, esses 10 dias a partir de Rosh Hashaná, durante o qual as Portas do Arrependimento são brevemente abertas, e os judeus de todo o mundo secular decidem se querem caminhar através.

No estrangeiro, a decisão pode ter a ver com fatores como, posso tirar minha folga no Yom Kippur? Será que eu realmente desejo gastar centenas de dólares, libras, ou euro em assentos na sinagoga para minha família? As crianças suportarão os serviços? Pode minha esposa? Posso eu?

Aqui em Israel, naturalmente, as questões são radicalmente diferentes. Neste lugar, em kibbutz criados na filosofia socialista, seus residentes sabem infinitamente mais hebraico e, mais ainda, sobre o Antigo Testamento - do que muitos judeus ortodoxos no estrangeiro.

Mas, como Amir e outros afins, os esforços realizados pela poderoso movimento gerador dos kibbutz para substituir a prática ortodoxa por uma religião baseada em valores da agricultura, da história judaica, a Bíblia como literatura e cultura moderna israelita ter sido marginalizados como o próprio movimento dos kibbutz que implodiu.

Judeus israelenses estão à procura de uma síntese que eles possam identificar, ou seja, um Judaísmo evoluído ao longo de milhares de anos. Seria prudente permitir que as pessoas de boa fé encarem e superem seus desafios, sem debocharmos de seus erros.

Trata-se de Yom Kippur. Esta é a hora de deixar a raiva de lado. É tempo, como dizem as rezas da Ortodoxia e Reforma, arquivar a calúnia, a soberba e o ódio sem motivo.

Trata-se de Yom Kippur. Esta é a hora de deixar os judeus serem judeus. É tempo de reconhecer que o Judaísmo em si está mudando - mesmo judaísmo ortodoxo. Esta é a hora de deixar os indivíduos sozinhos com seu Deus, pelo menos neste dia do ano, conforme a relação e respeito que a ocasião merece.