15 de junho de 2022

A HISTÓRIA DOS JUDEUS SEFARDITAS NO BRASIL – Parte I


Vestimentas judias na Idade Média

A população judaica no mundo de hoje é calculada em aproximadamente 14 milhões de indivíduos distribuídos em praticamente todos os lugares do mundo. No Brasil, o censo do IBGE1 de 2010 calculou 107.329 judeus – aqui reside a maior comunidade judaica na América Latina e a 11ª maior do mundo.


Península Ibérica durante o período muçulmano

Ao longo de sua história, o povo judeu oscilou entre períodos de liberdade e soberania com períodos de dominação e subjugamento por outros povos, descritos tanto em textos sagrados como em fontes históricas. É possível, inclusive, que a abundância de crises ao longo da caminhada semita tenha sido um fator responsável pela preservação de sua identidade através dos tempos.

Os opressores já foram os Egípcios, os Babilônicos, os Romanos, os Nazistas e, num período da história que coincide com o nascimento do Brasil, a Santa Inquisição. Isto levou muitos judeus a buscarem refúgio nas terras do Novo Mundo – mais especificamente os Judeus Sefarditas – linhagem semita oriunda da Península Ibérica e norte da África.

Estes imigrantes e seus descendentes desempenharam papéis de grande destaque no desenvolvimento da história do Brasil e da América Latina como um todo, e ajudaram a criar o alicerce para o estabelecimento das comunidades judaicas nos países que iriam se formar nos séculos seguintes às Grandes Navegações.

Para explorar a riqueza desta história, preparamos este conteúdo dividido em duas partes. Na primeira, iremos falar sobre a trajetória dos descendentes de Abraão desde a Judeia Romana até a Reconquista da Penísula Ibérica pelos reinos cristãos, já na Idade Média – desta forma entenderemos as origens da presença de judeus na região e como surgiu a linhagem Sefardita.
Na segunda parte, vamos contar a história dos Sefarditas no continente americano e seus ecos nos dias de hoje.
Vamos lá?

Judaísmo na Antiguidade: massacres, revoltas e diásporas

Entre 63 a. C. e 6 d. C., a região que atualmente corresponde a Israel e à Palestina estava sob o domínio da então República Romana, tendo sido anexada em uma campanha liderada pelo General Pompeu. A Judeia (assim chamada pelos romanos) foi governada por Herodes, o Grande e depois por seu filho, Herodes II, sempre na condição de um reino vassalo de Roma.

Durante o mandato de Herodes II, a região presenciou um evento que mudaria o mundo inteiro: o nascimento de um homem chamado Jesus e, com ele, o surgimento do Cristianismo, uma nova vertente religiosa que iria se espalhar rapidamente, causando instabilidade e revoltas na região.

Este cenário culminou, no ano de 70 d. C., na invasão do território pelo General Tito, que tinha como missão suprimir uma revolta dos judeus contra o domínio romano. Neste episódio, a legião romana infligiu grande destruição à capital Jerusalém, trazendo abaixo o Grande Templo de Herodes – local mais sagrado para os judeus à época – e flagelando a população semita: quem não morreu foi escravizado ou teve que fugir.

Com isso, deu-se a Segunda Diáspora Judaica – ou seja, a dispersão do povo judeu por diversas partes do mundo. A primeira havia sido depois da destruição do Primeiro Templo de Salomão pelos babilônicos, liderados por Nabucodonosor II, séculos antes.

De acordo com alguns relatos, esta pode ser a origem da presença judaica na Península Ibérica: o Rabino Abraham Ben Davi, que consta no Talmude, conta que, após a vitória de Tito, um de seus subordinados pediu a ele que cedesse alguns cativos judeus como escravos para sua próxima missão, que se daria na Hispania – nome que os romanos davam para a região que hoje corresponde a Portugal e Espanha.

Alguns destes judeus teriam, de alguma maneira, conseguido se estabelecer na região. As Epístolas de Paulo aos Romanos, escritas pouco depois destes eventos, também sugerem que naquela época já havia judeus estabelecidos na região.
Judaísmo na Idade Média: perseguição, preconceito e prosperidade.

Depois da Diáspora, o mundo começou a observar grandes mudanças. O Cristianismo, surgido inicialmente como uma seita judaica que via na figura de Jesus Cristo o messias prometido, em pouco tempo se transformou na religião oficial dos romanos, e os judeus passaram a ser vistos com ressentimento pelos cristãos, recebendo o estigma de “infiéis que não aceitaram a palavra do Salvador Jesus Cristo”, sendo por isso perseguidos, quando não mortos, onde quer que tentassem se estabelecer.

A queda do Império Romano, que se deu algum tempo depois, não significou o fim do Cristianismo, na verdade, a Igreja Católica se difundiu também entre os povos que herdaram a Europa dos romanos: francos, vândalos, saxões, visigodos, ostrogodos, lombardos, todos, em algum momento, aderiram à Palavra de Jesus Cristo, e os reinos por eles formados tornaram-se, por conseguinte, reinos cristãos – onde, por via de regra, os judeus não eram bem vindos.

Por volta do século VII, um novo fato marca a história da humanidade: o surgimento do Islamismo na Península Arábica. Tratava-se de uma terceira religião monoteísta, de natureza expansionista e que tampouco simpatizava com os judeus ou cristãos.

Sob o comando do Califa Omar, o domínio do Islã se estendeu por quase todo o Oriente Médio, anexando territórios persas, sírios (dentre eles, a Judeia) e, em última instância, alcançando toda a região do Magreb (norte da África) até a Península Ibérica.

Para esta última conquista, os muçulmanos contaram com a ajuda dos judeus nativos da região, que sofriam nas mãos do domínio visigótico cristão e viram na chegada do Islã uma oportunidade de melhorar suas condições de vida.

O Califado de Córdoba e o nascimento do sefardismo

Com a derrota dos visigodos e o estabelecimento do domínio Islâmico na região, os judeus, embora não fossem considerados “cidadãos de primeira classe” devido aos preceitos do Islã, ainda assim viveram uma vida melhor do que outrora.

O ápice da convivência judaico-islâmica se deu durante o período que ficou conhecido como Califado de Córdoba, que foi de 929 até 1031. Nesta época, a cidade de Córdoba disputava com Constantinopla e Roma pela supremacia cultural no mediterrâneo, com as três cidades mantendo relações diplomáticas e investindo no desenvolvimento intelectual de seus cidadãos.

Neste contexto, diversos judeus de outras partes do mundo, ao ouvirem da prosperidade de seus irmãos na Ibéria, migraram para lá, dando origem à comunidade Sefardita (o termo se origina de separd, nome hebraico para a Península Ibérica). O reinado de Abd Al Rahman III ficou marcado pela criação de universidades e incentivo a estudos em filosofia, linguística e outras ciências, onde muitos judeus se destacaram e prosperaram. Um deles era Hasdai ibn Shaprut, que chegou a ser conselheiro do sultão Rahman.

Este contexto levou os sefarditas a adquirirem um status social próprio, à parte de disputas religiosas. Eles eram vistos como oficiosos e intelectuais, detentores de conhecimentos úteis em diversas situações, o que fez com que ganhassem o prestígio tanto de sultões muçulmanos quanto de reis cristãos, que disputavam entre si pela supremacia na região.

Reconquista e a Santa Inquisição

Durante a Reconquista, período de intensas batalhas ao final do qual o predomínio católico sobre a Península Ibérica foi estabelecido, os sefarditas desempenharam papéis de grande importância, dos dois lados do conflito, sendo empregados como conselheiros, embaixadores e estrategistas.

Conforme o domínio dos reinos cristãos ia se reestabelecendo na Ibéria, a Igreja em Roma pressionava os líderes locais para que os judeus voltassem a ser convertidos (muitas vezes à força) ou perseguidos e assassinados. Por volta do fim do século XV, tanto a Rainha Isabel da Espanha quanto o rei D. Manuel I de Portugal haviam assinado decretos forçando a expulsão de todos os judeus de seu território.

Foi o fim da cultura sefardita na Ibéria. Os membros de seu séquito sofreram forte perseguição por parte das Inquisições Espanhola e Portuguesa, de modo que, para evitar a morte na fogueira, tinham poucas opções a não ser converter-se ao cristianismo ou fugir.

Os que optaram pela última escolha tentaram se dirigir para onde quer que fossem aceitos. Em Gênova, na Itália, só lhes seria dada permissão para desembarcar mediante conversão imediata à fé cristã. Já em Istambul, nome que os turcos deram à Constantinopla após sua tomada em fins do século XV, foram bem recebidos pelo sultão progressista Bayezid II, que pregava uma política de tolerância em sua cidade, e sabia que os sefarditas seriam de grande utilidade no desenvolvimento local.

Outros tiveram um destino um pouco diferente…

Continua na parte II

. Referências:

BRASIL, IBGE. Censo 2010. Disponível em: https://censo2010.ibge.gov.br/. Acesso em 01/2019

. Fonte:

https://www.genera.com.br/blog/judeus-sefarditas-no-brasil-parte-1/

Um comentário:

Edmilson Conceição Santos de Oliveira Junior disse...

Shalon amigo tenho um blog, que posto material judaico e ladino e criptojudaismo, amigo vou deixa o link para você, blogedmilsonoliveira.blogspot.com