2 de janeiro de 2013

ASSOCIAÇÃO RELIGIOSA ISRAELITA - ARI

ANIVERSÁRIO DA ASSOCIAÇÃO RELIGIOSA ISRAELITA - ARI




Origens:
Para contar a história da ARI é imprescindível lembrar do pequeno grupo de imigrantes alemães que se reunia, nos anos 30, no “Centro 33″, na Rua Marquês de Paraná, no Flamengo. Naquele ponto de encontro, a que afluíam quase diariamente, procuravam num ambiente de alegria, manter sempre vivo seu elo com o judaísmo, seus valores, suas tradições.
Esses jovens freqüentavam os serviços de Shabat do Grande Templo ou iam ao pequeno Shil dos belgas que, mais tarde, daria origem à Sinagoga de Copacabana. Eles estranhavam, porém, a pronúncia ashquenazi e sentiam falta de seu próprio ritual. Como tinham bom conhecimento de hebraico e dos serviços religiosos, decidiram realizar por conta própria, em 1936, o primeiro serviço de Rosh Hashaná e Iom Kipur. Não tinham um Sefer Torá, apenas sidurim e machzorim trazidos nas suas bagagens. E ficaram muito felizes de conseguir, junto com os poucos familiares, festejar os Iamim Noraim.
Desse mesmo grupo surgiu a idéia de formar uma organização beneficente, sem fins religiosos – a União Associação Beneficente – com o objetivo de atender aos imigrantes judeus alemães que chegavam em número cada vez maior, semana após semana.
Em 1937, já eram tantos que foi preciso alugar um salão para os serviços religiosos das Grandes Festas: a então sede do Botafogo, no Mourisco. Como o Rabino Pinkus já havia assumido o rabinado da CIP (Congregação Israelita Paulista), um grupo do Rio foi buscar sua orientação. Ele preparou, então, um sermão que aqui foi lido, ainda em alemão, durante o serviço no Rio.
As lideranças do grupo de alemães que haviam aportado no Rio, sentiam que, além da sociedade beneficente, havia necessidade de se organizar financeira e religiosamente. Estabeleceram contato com o Sr. Wolf Klabin, que muito se impressionou com o trabalho desse grupo de imigrantes e resolveu apoiá-lo, já comparecendo ao serviço religioso de Rosh Hashaná de 1937. Foi acompanhado de seus familiares e de seu cunhado, Dr. George Haas, que viria a participar da primeira diretoria da ARI. Apesar de todas as dificuldades, foi um serviço lindo, que revelou nesse grupo o esteio de uma futura congregação. Faltava agora a presença de um líder espiritual.
Em 1941 chegava ao Brasil, a chamado do Dr. Ludwig Lorsch e do Rabino Pinkus, o Rabino Dr. Heinrich Lemle e sua família. Vinham, com o apoio de Lady Lilly Montagu, presidente da World Union for Progressive Judaism em Londres, que o resgatara do campo de concentração de Buchenwald. O Rabino Lemle foi enviado para o Rio de Janeiro com a missão de fundar uma congregação liberal.
A presença do Rabino Lemle constituiu estímulo adicional para a realização de serviços regulares de Shabat. O Centro da Comunidade Israelita, na pessoa de Jacob Schneider, colocou à disposição da pequena comunidade alemã um salão do Grande Templo, localizado à Rua Tenente Possolo no Centro, onde passaram a se realizar serviços regulares, dirigidos pelo Dr. Lemle.
Participação e interesse cada vez maiores sedimentaram o sonho de fundar uma congregação judaica alemã. Havia, no entanto, exigências formais a serem cumpridas: era preciso brasileiros natos para compor a diretoria, o que de fato não constituiu um problema, pois já havia judeus de origem alemã de imigrações anteriores: Eduardo Levy (presidente), George Haas (diretor-secretário) e Alexandre Spielmann (diretor-tesoureiro) formaram a primeira diretoria da recém-fundada Associação Religiosa Israelita. Era o dia 13 de Janeiro de 1942, na cidade do Rio de Janeiro, na então sede da União, na Rua Alice em Laranjeiras.

As sedes da ARI:

A primeira sede da ARI foi uma pequena sala velha, nos fundos da Rua Barata Ribeiro 363 em Copacabana. Ficava junto a um galinheiro e muitas vezes, durante o serviço religioso, as galinhas passeavam pela sala. Mas ninguém se incomodava; a religiosidade era muito grande, havia muito fervor. A sinagoga era o lar, a identificação com as origens, o traço de união com a nova vida.
A ARI foi crescendo e ao fim do primeiro ano já contava mais de mil sócios. Em dezembro de 1943 as instalações foram transferidas para o número 373 da Barata Ribeiro; contudo, já havia nascido a idéia de uma sede própria e uma campanha com este objetivo foi iniciada. Cento e cinquenta contos foram angariados e, no dia 12 de Novembro de 1944 foi, finalmente, inaugurada a primeira sede própria da ARI, à Rua Martins Ferreira 52 em Botafogo.
A “Martins Ferreira” deixou muitas saudades. Todos falam dela com um carinho especial. Era um tempo em que todos se sentiam unidos em uma só família, participando ativamente, próximos uns dos outros. Foram tempos de luta, mas foram bons tempos. O grupo de estudos com o Dr. Lemle – Beit Hamidrash – que atraiu muita gente e foi um ponto marcante na história da ARI; as aulas de religião, que se estendiam do Leblon ao Méier – sim, ao Méier, pois havia o Setor Norte da ARI. Muitos dos sócios moravam na Zona Norte e era difícil vir até Botafogo. Assim, realizavam seus serviços religiosos em casas de família e, uma vez por mês, o Dr. Lemle ia até lá dirigir as preces. Com o tempo, as pessoas se mudaram para a Zona Sul e o Setor Norte se extinguiu.
Havia ainda o Jardim de Infância, os escoteiros e os lobinhos, o Coro de voluntários, a Seção Feminina, as feirinhas e a festa no Cassino Atlântico, os Iamim Noraim no Mourisco e no Botafogo, os vários grupos juvenis e a Chazit Hanoar. Nas horas difíceis, a presença da Chevra Kadisha.
A ARI crescia, e a sede da Martins Ferreira já não comportava mais tantas pessoas e atividades. Fez-se necessário e urgente um espaço maior. Uma nova campanha foi iniciada para a construção de uma nova sinagoga. O grande impulso foi dado pelo Prof. Dr. Fritz Feigl e sua esposa, Dra. Regine Feigl, com a doação do terreno para a construção. É claro que houve inúmeras dificuldades mas, com luta, determinação e perseverança, o objetivo foi alcançado. Com a campanha dos tijolos, venda de cadeiras e donativos, a sinagoga foi surgindo – um projeto arrojado do arquiteto Henrique Mindlin.
Em Rosh Hashaná de 1961, um momento de emoção – o primeiro serviço religioso de Kabalat Shabat, no Salão Nobre da nova sinagoga, ainda em obras. Finalmente, no dia 28 de Setembro de 1962, foi colocada a mezuzá no Salão Nobre e, na bimá, aceso o Ner Tamid – a Lâmpada Eterna.
A partir daquela data, todos os serviços religiosos passaram a ser realizados na nova sinagoga da Rua General Severiano 170. Dois meses depois, com o concerto do Prof. Fritz Hofer, autor do projeto e, a 22 de Dezembro de 1962, inaugurava-se a sinagoga pequena, uma reconstituição da “Martins Ferreira”. Foi um período marcante, emocionante, que tocou fundo no coração daqueles que viram a ARI nascer, crescer e se tornar grande; aqueles que fizeram a ARI, que ainda são a ARI, e que a legaram a nós para darmos continuidade à sua obra.
Um antigo projeto desde a época da construção da sinagoga era o Prédio Anexo a sinagoga. Ao longo dos anos 90 a ARI ergueu o Centro Comunitário Rabino Henrique Lemle que foi inaugurado em 1997, dispondo de salas de aula, biblioteca, auditório, salas de recepção, escritórios para a administração, a sinagoga Henrique Peres que acomoda até 150 pessoas, e o Centro de Referência e Pesquisas sobre o Holocausto Família Zinner.

Missão e Visão:

A Associação Religiosa Israelita do Rio de Janeiro – ARI, de acordo com seu Estatuto Social, é uma entidade sem fins lucrativos, de caráter filantrópico, religioso, educacional e cultural, que se propõe a manter e cultivar os valores da cultura e religião judaicas, colaborar na integração das comunidades judaicas no País e contribuir para o engrandecimento sociocultural do Brasil.
É uma instituição inclusiva e igualitária que, de forma solidária e responsável, atua no contexto econômico, político e cultural da sociedade em que se insere
A ARI, para o cumprimento de sua missão e fiel aos ideais de seus fundadores, opera em todas as esferas de seu campo de ação visando:
·         Ser uma instituição atuante e vibrante, exercendo papel de liderança na Comunidade Judaica, conectada com os desafios do nosso tempo e inserida na sociedade maior.
·         Oferecer uma opção de vida judaica plena, inspirada na centralidade de Tsion e nos valores religiosos do Judaísmo Liberal.
·         Permanecer uma verdadeira Beit Ha’ Knesset – Casa da Reunião – o Centro Comunitário onde se encontra uma opção de vida religiosa participativa, programas educacionais envolventes, orientação para a observância das tradições e costumes, estudo das fontes, enriquecimento cultural, espaços de convivência e atividades para todas as idades.
·         Manter-se inclusiva e igualitária criando oportunidades de realização pessoal pelo trabalho voluntário socialmente responsável, cultivando a solidariedade, a acolhida calorosa e, essencialmente, o respeito às diferenças, condição indispensável ao exercício dos princípios da democracia e à afirmação dos direitos humanos.

 

Música na Sinagoga:

Segundo o nosso entendimento, não nos bastam a mera leitura e repetição das páginas do Sidur. A experiência religiosa em si precisa, através da sua própria mecânica, fazer-nos sentir e vivenciar. Os textos e as orações devem estar dispostos de maneira a nos colocar em contato conosco, com nosso próximo; para que, efetivamente, tornemo-nos mais sensíveis, mais humanizados. Logo, mais imbuídos da necessidade e urgência de agirmos em nosso mundo. E ainda, quem sabe, transformá-lo.
Nesse sentido, a ARI, desde seus primórdios, tem dedicado especial importância à música. Nossos fundadores trouxeram consigo a tradição musical do Romantismo europeu, delineando em nossa comunidade uma nova forma de manifestação litúrgica, caracterizada por sua densidade, profundidade e força expressiva.
Sendo pioneiros em nossa cidade na manutenção de uma estrutura músico-instrumental, contamos primeiramente com um harmônio (hoje em nossa Sala de Memória), e depois construímos nosso grande órgão de tubos. Além disso, também formamos o nosso Coro.
Criamos, assim, uma tradição de excelência, que tem nos acompanhado pelos anos e pavimentado de sons alguns dos momentos mais caros das nossas vidas. Muito nos orgulhamos dela, e queremos mantê-la viva.
Assim, pensando na sua continuidade, temos investido na sua transformação. Se uma tradição não tem a capacidade de mutar ou se adaptar, cai em desuso, e toda a sua beleza acaba por se restringir à memória dos mais vividos.
E é por isso que, nos últimos anos, temos, incorporado novas propostas, sonoridades e ideias musicais, incentivando a “mão na massa”, a participação de congregantes em nossas Tefilot, e o diálogo sempre aberto e coletivo sobre o assunto.
Agora, temos esse novo espaço, e estaremos constantemente trazendo material – textos, gravações, idéias – para estarmos aprendendo, pensando e construindo, juntos, a nossa vivência religiosa.
A colaboração de todos, claro, é fundamental, e sintam-se à vontade para comentar, dar idéias e sugestões. Pois, somente assim, estaremos dando vida ao real significado do que entendemos como o nosso maior propósito, que é ser um Beit Haknesset - uma casa de encontro.
Envie uma mensagem para os chazanim André Nudelman e Oren Boljover:
nudelman@arirj.com.br ou oren@arirj.com.br

 

Introdução ao Judaísmo:


A ARI sempre ofereceu um curso para aquelas pessoas interessadas em se aprofundar no conhecimento do judaísmo, com a possibilidade de uma eventual conversão, sendo que esta pode se dar por motivo de casamento ou por tendência totalmente individual.
Sob a supervisão do rabino e com a colaboração deste, esse curso tem a duração de aproximadamente um ano, cinco horas por semana.
Os participantes têm a oportunidade de conhecer nossas festas, ciclo da vida, ritmo semanal, orações, história, etc, analisados em todo o seu sentido. São expostos a nossas leis e tomam conhecimento da estrutura dos nossos livros canonizados, entre outros temas. Frequentam os serviços religiosos na nossa sinagoga.
Mas o curso vai muito, além disso, ao explorar com os alunos toda a mentalidade judaica, com seus conceitos importantes. Expõe-os a um aprofundamento das reflexões sobre o judaísmo de maneira que a religião judaica em geral seja bem entendida assim como cada questão em particular, dentro do seu contexto maior.
A diferença entre o judaísmo e outras religiões que possam eventualmente ter exercido a sua influência sobre algum interessado são amplamente discutidas.
Há, além do mais, palestras sobre a realidade de Israel hoje, sobre o Holocausto e o antissemitismo, sobre a imigração ao Brasil e os anos de fundação e a estrutura da ARI.
Os alunos são alfabetizados em hebraico.
Entrevistas regulares com o rabino são realizadas.
Este é um curso direcionado para que o adulto interessado possa fazer uma opção amadurecida. No caso de haver um casamento em vista, ou se o candidato a conversão já for casado, o cônjuge judeu deve participar de todo o processo. A circuncisão por um mohel é exigida para o homem, assim como o banho ritual (tevilá) para homem e mulher.
Paralelamente, a coordenação da “Introdução ao Judaísmo” participa do atendimento aos estudantes de escolas e universidades, leigas e religiosas, assim como a indivíduos independentes, que vêm se informar sobre o judaísmo para as mais diversas pesquisas.
É importante tomarmos conhecimento de que o interesse pelo judaísmo no meio não judaico cresce enormemente no Rio de Janeiro.

Fonte: Publicação ARI 40 Anos - 1983

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