20 de dezembro de 2023

QUEIMADO NA FOGUEIRA DA INQUISIÇÃO - GÊNIO DA DRAMATURGIA - ANTÔNIO JOSÉ DA SILVA: O JUDEU


Antônio José era filho do advogado e poeta João Mendes da Silva, e pensa-se que ele conseguiu manter a sua fé judaica secretamente. Sua mãe, Lourença Coutinho, foi menos bem sucedida. Acusada de judaísmo, foi deportada para Portugal onde foi processada pela Inquisição

Antônio nasceu numa fazenda nos arredores do Rio de Janeiro e mudou-se para a Candelária, no centro da capital, com a família. Batizado, mas de origem judaica, foi vítima da perseguição que dizimou a comunidade dos cristãos-novos do Rio de Janeiro em 1712. Em Lisboa, o dramaturgo e escritor foi preso pela Inquisição portuguesa com a mãe, tia, irmão (André) e a esposa, Leonor Maria de Carvalho, que se encontrava grávida. Viria a morrer na fogueira às mãos da Inquisição, num Auto-de-Fé. A sua vida é retratada no filme luso-brasileiro: O Judeu (1995).
Antônio José era filho do advogado e poeta João Mendes da Silva, e pensa-se que ele conseguiu manter a sua fé judaica secretamente. Sua mãe, Lourença Coutinho, foi menos bem sucedida. Acusada de judaísmo, foi deportada para Portugal onde foi processada pela Inquisição. O pai de Antônio decidiu, então, partir para Portugal, para estar próximo de sua mulher, levando o jovem Antônio consigo.

Antônio José da Silva estudou Direito na Universidade de Coimbra, onde se inscreveu em 1725. Interessado pela dramaturgia, escreveu uma sátira, o que serviu de pretexto às autoridades para prendê-lo, acusado de práticas judaizantes. Foi torturado, tendo ficado parcialmente inválido durante algumas semanas, o que o impediu de assinar a sua "reconciliação" com a Igreja Católica, acabando por fazê-lo em auto-de-fé. Finalmente libertaram-no.
. Gênio do teatro:
Antônio José da Silva iniciou-se na advocacia, mas acabaria por se dedicar à escrita, tendo-se tornado o mais famoso dramaturgo português do seu tempo. Ele foi um escritor prolífico, tendo escrito sátiras, criticando a sociedade portuguesa da época. As suas comédias ficaram conhecidas como a obra do "Judeu" e foram encenadas frequentemente em Portugal nos anos da década de 1730. Influenciado pelas ideias igualitárias do Iluminismo francês, o dramaturgo ligou-se a um grupo de “estrangeirados”, formado por eminentes figuras como o brasileiro Alexandre de Gusmão (1695-1753), o principal conselheiro do rei D. João V.

Sua obra teatral inspirava-se no espírito e na linguagem do povo, rompendo com os modelos clássicos e incorporando o canto e a música como elemento do espetáculo. Oito de suas óperas, publicadas em 1744, em dois volumes, na série que ostenta o título Theatro Cômico Portuguêz, foram recuperadas em 1940, pelo pesquisador Luís Freitas Branco. Mais tarde, o musicólogo Felipe de Souza confirmou a parceria de Antônio José com o Padre Antônio Teixeira, autor das músicas.

. Inquisição:

Em 1737, Antônio foi preso pela Inquisição com a mãe e a esposa (Leonor de Carvalho, com quem casara em 1728, que era sua prima e também judia). A mãe e a mulher seriam libertadas posteriormente. Ele foi novamente torturado. Descobriram que era circuncisado. Uma escrava negra testemunhou que ele observava o Shabbat. O processo decorreu com notória má-fé por parte do tribunal e Antônio José da Silva foi condenado, apesar de a leitura da sentença deixar transparecer que ele não seria, de fato, "judaizante".

. A execução:

Como era regra com os prisioneiros que, condenados, afirmavam desejar morrer na fé católica, Antônio José da Silva foi garrotado antes de ser queimado num Auto-de-Fé em Lisboa em outubro de 1739, onde hoje é o Terreiro do Paço. Sua mulher, que assistiu à sua morte, morreria pouco depois.

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