20 de julho de 2024

ANJO (מלְאָךְ‎): O MENSAGEIRO DE DEUS NO JUDAISMO


Os anjos são entes inteligentes mas vinculados, subservientes e dependentes do poder Divino, que podem assumir diversos tipos de tarefas, que, aos olhos humanos, podem ser boas ou más


Anjo (em hebraico: מַלְאָךְ‎, malach, "mensageiro") é um ente espiritual que serve de elo transmissor entre o homem e o Criador. Sua existência é denotada em vários trechos da Bíblia hebraica e em diversos textos da literatura rabínica e do folclore judaico. Alguns anjos são citados por nome, até mencionados em excertos da liturgia religiosa, e também servem de protetores da humanidades e das pessoas individualmente. São entes inteligentes mas vinculados, subservientes e dependentes do poder Divino, que podem assumir diversos tipos de tarefas, que, aos olhos humanos, podem ser boas ou más. 

. Os mensageiros divinos:

A Bíblia está recheada de histórias nas quais Deus comunica-se com seres humanos através de emissários espirituais conhecidos como “anjos.” Em hebraico, a palavra para anjo é malach (מלאך), que significa “enviado”. A maioria dos anjos da Bíblia não possui identificação, mas os arcanjos mais importantes têm nomes: Miguel e Gabriel. Você sabe o que esses nomes hebraicos realmente significam?


. Quatro nomes hebraicos sagrados:

O nome Miguel é composto de duas palavras em hebraico: Mi (מי) + Ka-El (כאל), e significa “Quem é como Deus?”. Gabriel também é composto de duas palavras em hebraico: Gavar (גבר) + El (אל), e significa “Deus é poderoso”. Fora da Bíblia, a tradição apócrifa adiciona mais dois nomes angelicais. Uriel, que se origina das palavras Uri (ארי) + El (אל) e significa “Luz de Deus”. E Rafael, da palavra Refa (רפא) + El (אל), que significa “Deus cura”.
 

. O que esses nomes têm em comum? 

“El” no final – um dos nomes mais sagrados de Deus em hebraico. Isso é apropriado, porque a função de um anjo é servir de mensageiro de Deus.


. Amplitude:

Segundo a crença hebraica, a deidade (de natureza espiritual especial) é o ser perfeito em unicidade, ou seja, somente há um Deus, logo anjos não são deuses e não devem ser adorados. Ou, de outro modo, a deidade é a unidade perfeita, sem medidas, divisões, composições, partes ou qualquer outro aspecto dimensional: um conceito que a mente humana, devido à imperfeição da carne/matéria, é incapaz de abstrair e/ou conceber satisfatoriamente. O Criador é Um. 


Nesta cércea, caso se admitisse que a Divindade mantivesse contacto com mais de um ser de seu talho simultaneamente, implicaria dizer que Ela é composta e suscetível de mensuração, pois uma parte lidaria com um ser e a outra, com outro. Ou seja, a Divindade não seria única e perfeita, o que viola o conceito de deidade única e perfeita. Por outro lado, a matéria, eis que caótica, não interage directamente com o Criador mas por intermédio do mundo espiritual. Desta feita, a Divindade estabelece os meios de comunicação entre Si e a criação, esses meios de interfaceamento são os anjos, ou portadores das mensagens, porque conduzem em ambos os sentidos as manifestações entre o Criador e a criatura.


A crença hebreia também preconiza que cada aspecto do mundo existe somente em razão da volição Divina, mesmo uma folha gramínea não cresce ou fenece, que não seja de conhecimento e permissão do Criador. Então, são os anjos que fazem com que o desejo do Criador seja executado no mundo, pelo que assumem as mais diversas tarefas. Essa, sua finalidade, podendo haver anjos encarregados até de certos aspectos, como os anjos do nascimento e da morte. 


. Espécies e hierarquia:


Há duas espécies de anjos: permanentes e temporários. Diz-se que cada palavra do Criador gera um anjo. Basicamente, há uma fórmula que diz que para cada anjo existe uma tarefa, apenas, e que dois anjos não compartilham a mesma tarefa. Ou seja, um anjo existe somente para realizar um tarefa ou ato e, depois de realizado o ato para o qual foi criado, ele perde a razão de existir, pelo que se extingue.


Por outro lado, sabe-se que há aqueles anjos, nominados na Bíblia, que existem indefinidamente e que realizam vários atos, o que, em princípio, violaria a regra de um anjo, uma tarefa. Então, os sábios judeus concluíram que, se um anjo é encarregado de um gênero de tarefas, isto é, quando ele é encarregado de determinado aspecto da existência do universo e quando ele está vinculado a uma estrela, o anjo.

Anjos e estrelas estão intimamente relacionados, os primeiros são como alma para as segundas. Os anjos temporários foram primeiro inventados no segundo dia da Criação, os permanentes, no quinto dia, depois que as estrelas foram formadas.

Os anjos são agrupados em dez ordens, correspondentes às 10 sefirot. 


. Anjos caídos:

Desenvolveu-se na época do Segundo Templo uma literatura escatológica, a exemplo dos Manuscritos do Mar Morto e o do Livro de Enoque, que tratava detalhadamente dos «anjos caídos» e da história de quando eles estiveram a conviver com humanos. A bem da verdade, não se trata de um tema aceito pela doutrina ortodoxa ou mesmo rabínica, salvo pelos aspectos pedagógicos que apresenta.


. História dos anjos caídos:

Conta-se que certo dia, antes do Dilúvio, quando o Criador se achava contrariado pelos atos iníquos da humanidade, os anjos Azazel e Shemihazah tiveram permissão para descer à Terra e habitar entre as pessoas.


. Invocação:

Na Cabala, diz-se que é possível chamar um anjo (Magid) por intermédio de certas fórmulas. Isso, todavia, não seria uma prática vulgar, eis que o interessado deveria estar num certo grau de pureza e observância dos preceitos Divinos, que não é possível alcançar senão depois de intenso estudo religioso. Pode-se, por outro lado, convidar os anjos por intermédio de bons atos e da prática religiosa ordinária, como é o caso da cantiga Shalom Alechem, de recebimento do Shabat. 


. Referências:

Luzzatto, Moshe Chaim (2002). O caminho dos justos. São Paulo: Sefer. p. 10
Maimônides, Moisés (2003). O guia dos perplexos. parte 2. Traduzido por Uri Lam. São Paulo: Landy. p. 79

«Hebrew Glossary - M» (em inglês)
Kapan, Arieh (2003). «4». Imortalidade, ressurreição e idade do universo. uma visão cabalística. São Paulo: Sefer. p. 68-74

Matt, Daniel Chanan (tradutor) (2004). The Zohar (em inglês). 1. California: Zohar Education Project. p. 253

Ben Shimon Halevi, Z'Ev (1996). Kabbalah. The Divine Plan (em inglês). Nova Iorque: Harper Collins. p. 40. ISBN 0-062-51304-4

Slick, Matt. «What does Kabbalah teach about Angels?» (em inglês). Consultado em 11 de julho de 2012

Posner, Menachem. «When were the angels created?» (em inglês). Consultado em 2 de julho de 2012

Kaplan, Arieh (2002). Sêfer Ietsirá, o livro da Criação. teoria e prática. São Paulo: Sefer. p. 191-200

Webster, Richard (2009). Encyclopedia of angels (em inglês). Minnesota: Llewellyn. p. 105

«Angels» (DOC) (em inglês)
Scholem, Gershom Gerhard (1991). Origins of the Kabbalah (em inglês). Filadélfia: Jewish Publication Society. p. 237. ISBN 0691020477

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