5 de maio de 2021

JUDAÍSMO: O D'US SOLITÁRIO


Essa solidão deriva da força, não da fraqueza, do fato de que D'us é absolutamente único, “Ele é um, e não há outro como Ele”

Você se sente solitário? Totalmente sozinho? Sem ninguém para se voltar e ninguém capaz de entender você? Junte-se ao clube. Imagine uma alma solitária caminhando interminavelmente, sem onde descansar sua cabeça. Finalmente chega o dia em que ela encontra um local que pode chamar de lar. Continue lendo e descubra a surpreendente companhia que a solidão compartilha. E o que você pode fazer para encontrar conforto num mundo desolado.

Muitas, muitas teorias têm sido declaradas sobre D'us. Ele se importa ou não se importa sobre a humanidade e questões terrenas? Como Ele permite que haja o mal, como um D'us todo bom? Ele existe em nossa dor e nosso sofrimento? Ele é um Ele ou uma Ela, nenhum dos dois ou ambos? D'us existe e se isso é verdade por que não vemos a Ele? D'us existe como nós existimos ou em outra forma? Que tipo de personalidade D'us tem? Ele é furioso, gentil ou afastado? Então há as perguntas sobre como D'us governa ou não governa o universo. Dús está presente e é envolvido em todo detalhe, ou Ele colocou a máquina em movimento, checando-a de tempos em tempos? A Divina Providência governa todo detalhe das nossas vidas?

E obviamente, discussões surgem sobre o propósito da existência. Por que D'us criou o universo? Qual é o nosso papel no quadro? D'us “lucra” alguma coisa pela nossa existência?

Alguém pode dizer que tudo acima é verdadeiro. D'us Se manifesta em muitas maneiras e expressões diferentes, até mesmo algumas contrárias. Na verdade, os místicos explicam que todo possível “humor” ou “estado de espírito” humano se origina numa fonte Divina. Então embora D'us em Sua essência transcenda todas as definições e características antropomórficas, ao mesmo tempo Ele é capaz de gerar todo tipo possível de experiência.

Considerando todas essas noções sobre D'us e Sua “personalidade” toda poderosa, esta semana tive uma profunda epifania sobre uma dimensão inesperada de D'us – uma vulnerável àquilo, e uma que acredito possa nos oferecer grande conforto.

Enquanto eu lia a porção dessa semana da Torá, na qual D'us ordena a Moshe “construa-Me um santuário e habitarei entre eles,” um pensamento triste me abalou: O quanto D'us deve ter sido solitário sem nós? Até que o santuário fosse construído, D'us na verdade estava “sem teto”, sem um local para repousar. Como poderia ser vagar para sempre no passado infinito, sem nenhum local para chamar de lar?

Na verdade, até que este versículo fosse comunicado jamais teríamos pensado que D'us precisaria de um local para “descansar”. Afinal, descanso é somente para mortais fracos. Como e por que um D'us onipotente precisaria “descansar”? Mas depois que D'us disse a Moshe “construa-Me um santuário e descansarei entre eles”, ficou notadamente claro que àquela altura D'us não tinha um local para repousar…

À primeira vista, podemos ser inclinados a explicar que a Divina presença no Templo não foi construída para D'us, mas para nós humanos, um local onde meros mortais podem sentir o Divino. Todas as nossas vidas, e o dia inteiro estamos envolvidos em nossa luta diária pela sobrevivência; o sagrado Santuário nos provê com um ambiente sagrado onde D'us repousa entre nós, oferecendo-nos exatamente aquilo – santuário e proteção das nossas vidas pedestres, onde podemos descansar nossas almas exaustas e encontrar algum consolo celestial.

Mas quando lemos atentamente “construam-Me um santuário e descansarei entre eles”, é bastante óbvio que o Santuário não é apenas um local para nós encontrarmos D'us, mas também um local para D'us “descansar” Sua presença.

Este ponto somente é amplificado quando D'us diz o Rei Shlomo[o construtor do Primeiro Templo em Jerusalém): “”Céus e céus dos céus não podem Me conter: somente esta casa pode.”

Como você explica isso, D'us claramente não se sentia em casa no cosmos infinito – apesar de toda sua glória grandiosa e magnificente. Até o Templo ser construído no planeta Terra D'us não tinha um local para “descansar”.

“D'us viajou uma jornada de 500 anos para adquirir um nome para Si mesmo,” declara o Midrash Kohelet Rabá 7:2). Solidão, parece, não é meramente uma preocupação mortal. O Próprio Todo Poderoso está em busca de “companhia”.

Considero o conceito tanto perturbador como confortante. Às vezes, todos passamos por momentos de solidão existencial. Independentemente de nossos entes queridos, de todas as nossas realizações e conquistas, profundo ou não tão profundo) dentro de nós mesmos há uma parte que sempre permanece muito sozinha. Podemos nos distrair, festejar, sermos levados por todos os tipos de estímulos e entretenimento; mas ao final do dia, aquele centro isolado silencioso brota de dentro de nós.

Na verdade, quanto mais profundo você viaja para seus recessos interiores, menos alguém pode entrar naquele espaço, mais difícil é expressar a você mesmo, quando mais sozinho você está. No seu âmago mais íntimo, você está todo sozinho. Um verso solitário no triste livro de Kohelet captura o sentimento: “há alguém que está sozinho sem nenhum segundo, e ele não tem filho nem irmão” Eclesíastes 4:8).

O que então é tão confortante sobre essa solidão? É confortante saber que não estamos sozinhos em nossa solidão. D'us também é muito solitário no topo. Em Seu âmago e essência.

Essa solidão deriva da força, não da fraqueza, do fato de que D'us é absolutamente único, “Ele é um, e não há outro como Ele.” O mesmo com o nosso âmago: nosso local mais solitário – nossa essência – é um reflexo de nossa profunda individualidade e autenticidade. Você está sozinho naquele local íntimo não porque é um pária ou porque é amaldiçoado; você está sozinho no seu centro porque é totalmente único, numa maneira que ninguém mais pode realmente “pegar você.”

Sua essência pode não ser um local muito dramático. Não tem a mecânica e os fogos que vêm junto com todas as ocupadas maquinações de nossas vidas; não tem o elemento “festa” que acompanha nossas interações sociais. Quando estamos envolvidos com níveis mais externos, superficiais, podemos celebrar e sentir esses momentos com outros. Mas sua essência, embora não seja muito colorida, é seu centro único, você a sós consigo mesmo.

E assim, tão especial como a Essência Divina pode ser, D'us viajou numa jornada para encontrar “companhia”, para encontrar um lar onde Ele possa descansar. A revelação Divina se manifesta nos “céus e céus dos céus;” a beleza da natureza captura a majestade do Divino Projetista. Mas, D'us é Sua essência solitária, descansa e Se sente em casa somente no Santuário na Terra. O mesmo conosco: assim como D'us, não estamos satisfeitos em viver “dentro”, isolados e separados dos outros. Precisamos construir um espaço que possamos chamar de lar; um santuário onde podemos respirar; um ambiente onde podemos finalmente descansar nossas almas solitárias. Uma coisa é encontrar consolo na família e amigos; outra é encontrar um lar confortável para o âmago solitário das nossas almas.

Os místicos explicam que “Aquele que está sozinho” é o nível da Luz Divina Infinita que não se manifesta nos relacionamentos {“Ele não tem filho nem irmão”). O conceito de relacionamentos é apenas na maneira que o Divino se manifesta no finito – na estrutura das dez sefirot, os dez blocos construtores da existência. [Ohr HaTorah sobre Kohelet, pág. 1115].

Porém, o supremo objetivo é unir o infinito e o finito, o “aquele que está sozinho” [com nossos relacionamentos].

Portanto na próxima vez em que você se sentir sozinho, lembre de duas coisas. Primeiro, você não está sozinho; sua solidão é partilhada por toda alma e pelo Próprio D'us. Toda essência está fundamentalmente sozinha. Segundo: Construa um santuário com a sua vida material, santifique os pertences com os quais você foi abençoado – e isso vai prover sua essência solitária – e a Essência de D'us – com um lar caloroso no qual descansar com conforto.

. Fonte:

https://pt.chabad.org/library/article_cdo/aid/4766817/jewish/O-Dus-Solitrio.htm

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