5 de agosto de 2021

JUDAÍSMO DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19 NO BRASIL: VALORIZAÇÃO DA VIDA E SAÚDE MENTAL


A idealização da Or Avrohom – luz de Avraham - teve início quando, em fevereiro de 2001, a convite do Projeto Morashá e da J.A.C.S., o Rabino Dr. Abraham Twerski ZT”L veio ao Brasil

A instituição Or Avrohom (ORAM) luta, há anos, pela preservação da vida e da saúde mental das pessoas. Neste momento turbulento em que muitos têm dificuldades de lidar com suas próprias emoções, ansiedades e inseguranças, a ORAM recebe a todos de portas abertas, de forma sigilosa, com muito respeito e dignidade, prestando atendimento e acompanhamento psicológico e psiquiátrico.

A idealização da Or Avrohom – luz de Avraham - teve início quando, em fevereiro de 2001, a convite do Projeto Morashá e da J.A.C.S., o Rabino Dr. Abraham Twerski ZT”L veio ao Brasil. O conhecido Rabino era uma das maiores autoridades psiquiátricas no tratamento do alcoolismo, dependência química e vício. Essa visita e os resultados do trabalho do Rabino Dr. Twerski inspiraram o Rabino Shie Pasternak.

Assim, em 2001, foi fundada em São Paulo a organização beneficente Or Avrohom (ORAM). Atua principalmente na área da saúde mental e no combate à dependência química e de outros vícios. Cada ser humano é único em suas necessidades e emoções e é dessa forma que todos são acolhidos pela ORAM.

A instituição realiza, em média, 3.800 atendimentos mensais. Conta com uma equipe de profissionais e voluntários, todos altamente capacitados – 42 psicólogos, três psiquiatras e dois mediadores. Conta também com a participação de terapeutas ocupacionais e orientadores familiares.

Para conseguir atender milhares de pessoas anualmente, depende da participação de profissionais que doam seu tempo, graciosamente. Em seu trabalho, conta com voluntários e colaboradores e também com pessoas que fazem contribuições financeiras, imprescindíveis para que a organização tenha os recursos necessários para atender as milhares de pessoas que batem às suas portas.

Liderada pelo seu fundador, o Rabino Shie Pasternak, e sob a direção do filho deste, o Rabino Itche Pasternak, a ORAM se tornou conhecida por ajudar e empoderar indivíduos e suas famílias a superarem seus momentos mais desafiadores. A organização adotou a filosofia de vida do Rabino Dr. Twerski: ninguém é julgado, ninguém é “descartado” e cada vida é valorizada.

Com o agravamento da saúde mental devido à pandemia, a organização tem sido um alento para milhares de pessoas.

. O início do Projeto:

Logo após a vinda do Rabino Dr. Twerski ao Brasil, a ORAM começou a trabalhar com dependentes químicos em uma pequena sala de 28 metros quadrados, em Higienópolis.

A instituição foi crescendo e expandindo suas áreas de atuação à medida que as pessoas começaram a falar do projeto. E esse crescimento se deve, em boa parte, à confiança que as pessoas têm no fato de a organização agir com absoluto sigilo, respeitando a privacidade de todos aqueles a quem ajuda.

. Áreas de Atuação:

A ORAM atua buscando suprir as diferentes necessidades psicológicas das pessoas atendidas por meio do seu principal projeto, denominado Derech. Nele são tratadas depressão, ansiedade, bipolaridade, bem como outros quadros ligados à saúde mental. A organização atende dependentes químicos e pessoas que sofrem de outros vícios, sejam eles alimentares, jogos, Internet e pornografia; vítimas de bullying, violência doméstica ou algum outro trauma. Atende também pessoas com transtornos alimentares, como anorexia e bulimia, bem como comportamento compulsivo ou suicidas. Ademais, atua na resolução de conflitos entre casais, oferecendo orientação familiar e auxiliando crianças com dificuldades de aprendizado.

Assim como o Rabino Dr. Twerski fazia nos Estados Unidos, a ORAM ajuda a conscientizar a comunidade judaica do Brasil de que problemas com álcool e drogas são reais, ocorrem também nas comunidades judaicas e precisam ser tratados e, quando possível, prevenidos. A organização ministra palestras sobre prevenção em escolas para os alunos, pais e educadores.

Funciona também como uma sede para grupos de Narcóticos Anônimos (NA), Alcoólicos Anônimos (AA) e Jogadores Anônimos (JA), promovendo reuniões semanais acompanhadas por profissionais da área de saúde. Os grupos seguem o programa dos 12 Passos, criado inicialmente para os Alcoólicos Anônimos. Todos os grupos são reconhecidos nacional e internacionalmente pelas respectivas organizações. Os grupos são abertos a todos - judeus e não judeus.

. Como funciona o atendimento da ORAM?

O primeiro contato é feito com o Rabino Shie Pasternak, que atua como conselheiro de indivíduos e famílias que buscam a ORAM. Quando o problema pode ser resolvido por um rabino, ele próprio busca resolvê-lo – como, por exemplo, intermediar um problema familiar. Contudo, quando as pessoas que buscam a ORAM necessitam de ajuda profissional, o Rabino Shie Pasternak e o Rabino Itche as encaminham para o psicólogo-chefe. Este decidirá qual o profissional mais adequado para ajudar a pessoa. Nenhum assunto é tabu para os rabinos e eles mesmos acompanham o tratamento e fornecem apoio às famílias, quando necessário.

Os tratamentos e acompanhamentos psicológicos ou psiquiátricos podem ser pontuais ou levar um ou dois anos. A ORAM, por meio de seu projeto Derech, cobra um valor reduzido pelos serviços que presta. Em certos casos, a ORAM pede que seja feito apenas um pagamento simbólico, para aqueles que no momento não possuem recursos para colaborar de forma contínua. Eles passam a ser pacientes subsidiados pela instituição. A organização não deixa de atender pessoa alguma pelo fato de estar passando por dificuldades financeiras, não podendo contribuir.   De forma ágil e organizada, ORAM atende a todos com eficiência e presteza.

O atendimento psicológico da ORAM é voltado principalmente à comunidade judaica. Contudo, a organização também atende pessoas que não fazem parte da comunidade.

O Rabino Shie Pasternak e o Rabino Itche, que o acompanha com dedicação há anos, fazem questão de explicar que a ORAM não segue nenhuma linha religiosa específica nem impõe qualquer obrigação religiosa às pessoas que a procuram. O Rabino Shie explica: “Na ORAM, não trabalhamos com religião, mas sim, com espiritualidade. O grau de religiosidade e a forma de ver a religião são opções individuais, que não estão na pauta de discussão. Nosso objetivo é ajudar as pessoas a se encontrarem, a se conectarem consigo mesmas e a resolverem suas questões internas e externas na busca de uma vida plena, com o apoio de uma equipe de profissionais”.

. Projeto Shemá - Hotline:

A ORAM visa a dar suporte psicológico e emocional às pessoas nas mais diversas situações. O Projeto Shemá, uma das várias atividades da ORAM, constitui um serviço telefônico – uma hotline – e é voltado para pessoas que buscam apoio emocional. A ideia é que a pessoa não se sinta tão sozinha.

A hotline conta com voluntários – não profissionais – que são treinados para prestar esse tipo de serviço. Os voluntários passam por aulas e participam de reuniões mensais em que se discute a forma ideal de lidar com as diversas situações.

Os voluntários são orientados a ouvir - não a falar, pois a filosofia do Projeto Shemá é que as pessoas que ligam precisam ser ouvidas. Elas não telefonam para a hotline buscando ouvir conselhos de quem está do outro lado da linha; geralmente já estão cansadas de ouvir pessoas dando opiniões.

Esse projeto conta com o apoio de um grupo de 30 voluntários. “É preciso acolher as pessoas em sua dor, em seu desespero, em seu sofrimento. Às vezes, uma conversa faz toda a diferença e abre novos caminhos”, diz o Rabino Shie Pasternak.

O serviço funciona das oito da manhã às dez da noite. O sigilo é absoluto. Nenhuma ligação recebida é registrada e quem liga não precisa se identificar.

. Outros Projetos:

Entre outros projetos da entidade estão o Chazak (força, em hebraico), que empresta materiais hospitalares, como bengalas, muletas, andadores, cadeiras de rodas/higiene, botas ortopédicas, aparelhos respiratórios, entre outros e o Tomchim, que conta com 22 voluntários e presta assistência à Chevra Kadisha em todo o Brasil.

A ORAM conta também com dois novo projetos, o Caminhando pela Arte e o Caminhando pela Música, que vem, desde 2019, trabalhando em parceria com escolas públicas de São Paulo, levando atividades que expressam o autoconhecimento, a autoestima e as relações entre os alunos, professores e a escola. Os projetos fazem com que através da arte, da cultura e da música, os jovens e as crianças possam desenvolver novas habilidades, criar novos caminhos e construir novas escolhas. Apesar das atividades ao vivo terem sido interrompidas devido a pandemia, a pedido das escolas os projetos não pararam, e realizam atividades online enquanto as escolas não autorizam a realização de atividades extracurriculares presenciais.

. Palavras Finais:

A Or Avrohom ajuda indivíduos e famílias que se encontram em situações difíceis e desafiadoras. Funciona como um porto seguro, para onde a pessoa pode ir, encontrar ajuda e saber que tudo será feito sob sigilo. A procura por ajuda tem de partir da própria pessoa. Contudo, ao chegar à ORAM, encontrará a empatia e os recursos para obter o suporte que necessita.

Aqueles que se encontram em situação emergencial são atendidos imediatamente. Em situações menos graves, pode existir uma lista de espera. Contudo, os Rabinos e sua equipe trabalham incessantemente para que todos recebam a ajuda que precisam.

A ORAM é um local no qual o ser humano é acolhido, compreendido em sua dor e apoiado na busca de um caminho para uma vida mais saudável e feliz. “Quem somos nós para julgar quem está numa determinada situação? O que sabemos de sua história, de seus medos, de suas frustrações? Não temos o direito de julgar; temos, sim, o dever de ajudar da melhor forma que podemos”, diz o Rabino Shie, “O Judaísmo não nos ensina que quem salva uma vida, salva o mundo todo? Temos a obrigação de fazer a nossa parte pelo próximo”, conclui o Rabino.

. Fonte:

Revista Morashá - Edição 111 - Junho de 2021

http://www.morasha.com.br/brasil/valorizando-vidas.html

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